Capítulo 51

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A  capital da França é mundialmente conhecida por ser referência em moda, gastronomia e arte, mas a grande verdade é que mais de setenta por cento dos turistas estão aqui pelo amor, melhor, em busca dele, melhor ainda, atrás de alguém que possa of...

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A capital da França é mundialmente conhecida por ser referência em moda, gastronomia e arte, mas a grande verdade é que mais de setenta por cento dos turistas estão aqui pelo amor, melhor, em busca dele, melhor ainda, atrás de alguém que possa oferecê-lo. Eu mesma posso citar meia dúzia de livros que tiveram a cidade luz como cenário, sem falar em filmes e séries. Bom, eu li e assisti uma boa quantidade para ser influenciada, então, aproveitei que Zé estava em reunião e banquei a turista. Bati fotos na torre Eiffel, comprei chaveiros e passeei de barco pelo rio Sena. Foi épico, lindo e empolgante. Felizmente, Tobiah veio conosco e não tive que fazer nada sozinha, José Luiz prometeu que faríamos tudo que eu quisesse amanhã, já que seu compromisso aqui só ocupará o hoje.

— Cansado, companheiro? — falo e bato no ombro direito de Tobiah, feliz que ele atendeu meu pedido e se vestiu com roupas informais, ao invés, do terno. Não é como se o homem passasse despercebido, afinal, estamos falando de quase dois metros de altura e muitos músculos, mas é bom pensar que somos apenas dois amigos passeando e que

— Estou bem, senhorita. — Fala, os lábios quase não se separando.

Reviro os olhos.

— Nora, Tobiah. Chame-me pelo meu nome, por favor. — Ele me olha como se eu fosse louca, mas não diz nada.

Ignoro seu silêncio e entro na cafeteria que estou namorando desde que passamos por ela, empilho as sacolas com peças de roupas que Tália vai enlouquecer para tê-las em uma cadeira e puxa outra para mim. Quando sinto o copo do meu segurança ao meu lado, repreendo um sorriso e me concentro no cardápio.

— Isso parece bom, não é? — Ergo as sobrancelhas para ele quando aponto com o queixo para uma torta na mesa vizinha. Tobiah enruga o nariz e depois abre um sorriso.

Ele também se senta a minha frente.

— Sim, caramba! — Responde e mil tortas se isso não me surpreende. Ele age com profissionalismo desde que nos conhecemos, nossas interações se resumem a perguntas e respostas, minhas perguntas e respostas monossilábicas dele.

— Acho que isso é um sim, certo? — Peço duas fatias de torta, a mesma que a garota da mesa ao lado come, ao garçom em inglês. Quando volto minha atenção para meu segurança, ele está olhando fixamente pra mim. — O quê?

Ele ergue um ombro.

— Nada.

Hmm.

— Parece ser algo. — O pressiono, apoiando meus cotovelos na mesa e descansando meu rosto na palma da minha mão direita.

— Apenas achei que você fosse uma garota da rua Rue du Faubourg Saint-Honoré.

Aperto meus olhos.

— Você fala francês? — Questiono, impressionado com a maneira que ele acabou pronunciar as palavras. — E o que diabos significa ser uma garota da rua Rue du Faubourg Saint-Honoré?

Dá de ombros.

— Você sabe, essa é a primeira rua que todas as garotas ricas e bonitas que apreciam moda vão visitar. —Abro e fecho a boca sem saber o que dizer, primeiro, ele falou como um conhecedor do turismo de Paris, quase entendiado com o fato, mas também curioso, segundo, ele acabou de confessar que me acha bonita.

O quão estranho essa viagem pode ficar?

— Eu-Eu vou lá. Nós vamos. — Desvio o olhar, me sentindo de alguma forma intimidada. Se eu estava feliz com a forma que ele se vestiu hoje, passou. A calça jeans, mais a bota de lenhador, a camisa branca com um desenho de guilhotina e sobretudo me incomodam.

O garçom volta com a comida e nos serve, deixando meu capuccino e a xícara com café amargo de Tobiah.

Comemos em silêncio.

Quando pedimos a conta, ele é mais rápido e paga. Dou-lhe um olhar irritado e traço um plano mental para devolver o dinheiro. Bom, talvez eu apenas diga para Zé acrescentar o valor na sua folha de pagamento.

— Morei alguns meses aqui. — Fala, quando cruzamos dobramos a esquina do café. Acredito que estou com uma expressão confusa agora, porque ele se antecipa e abre a porta do carro pra mim. — Respondendo sua pergunta sobre eu falar bem a língua. —Acrescenta quando já estou sentada no banco do passageiro.

— Ah.

É tudo que digo, mas a verdade é que acabei de perceber que não conheço nada sobre o homem que faz minha segurança. Quero dizer, José Luiz deve ter checado ele, com certeza, Isadora também. Entretanto, sinto que estamos todos deixando algo passar. Tália falou uma vez sobre sua personalidade, eu não insinuei-se romanticamente para alguém na época, mas acabei percebendo também. Tobiah parece duas pessoas diferentes, um é quieto e misterioso, o outro, intenso, perspicaz e mais aberto para diálogos.

— Era um trabalho? —Indago, escolhendo fazer a pergunta no momento que pegamos uma via movimentada. Estratégia, na verdade. Distração te faz cometer erros.

— Sim.

— Igual esse? — Ele vira o rosto para me olhar por um segundo e depois volta sua atenção para frente.

— Não.

— O que você fazia?

— Eu...— Ele pausa, torcendo o rosto em careta e apertando os lábios juntos. — Eu tinha um restaurante com meu irmão, éramos sócios. Eu cozinhava e ele cuidava da administração.

— Você tem irmão?

— Não mais. — Seu olhar se torna vago, as mãos apertando contra o volante até que seus dedos perdem a cor e ficam brancos. —Ele morreu. — Diz, um longo momento depois.

Ele morreu.

A pequena frase ressoa na minha cabeça.

Prendo meu lábio inferior entre os dentes.

Ele puxa um pouco de ar.

— Sinto muito. — As palavras parecem amargas na minha língua.

— Tudo bem, faz algum tempo.

— Ainda assim, eu sei como é doloroso perder alguém importante. Perdi meu avô muito cedo e sinto a falta dele até hoje.

Sinto uma lágrima descer e rapidamente enxugo. Não sei porque fiquei tão emocionada de repente.

— Não quis te fazer chorar. —Ele me estende um lenço de bolso e passo dez segundo olhando para o tecido antes de pegá-lo. É de um tamanho padrão de outros lenços de bolso, mas existe um T e um M gravados.  

NOSSO SEGREDO - LIVRO 1. CONCLUÍDOOnde histórias criam vida. Descubra agora