Capítulo 48

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Talia

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Talia

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Eu não escuto rock. Nunca.

Foi minha resposta quando Tália sugeriu irmos ao show de sua banda favorita, que, coincidentemente, escolheu o município de Águas mornas para a abertura da sua nova turnê. Infeliz ou felizmente, ainda não decidi, minha amiga não acredita em coincidências e convenceu a todas nós, incluindo Tilly, a comprar os ingressos e participar do evento histórico.

Se eu não a conhecesse, nunca diria que seu gosto musical se resume a rock e pop, embora muitas vezes ela transite em outros gêneros, o rock predomina em sua playlist.

— Oliver nasceu aqui.— Ela diz, indicando com o dedo, o guitarrista e fundador da banda.

Fixo minha atenção no homem, cabelo loiro, postura arrogante, embora sua boca ofereça um sorriso simpático sempre que o amigo, Silas, também conhecido como vocalista da banda faz alguma citação entre as músicas. Parece uma mensagem, na verdade. Uma troca de farpas que passa como parte do show para seus fãs, mas para mim é mais como o prelúdio do caos.

— Ele não parece daqui. — Falo e ela bufa.

— Claro que ele parece, não é como se diferíssemos do resto do país, Nora. — Seu tom é eufórico, ela está tão empolgada que obrigou Rael e Tobiah dançar com ela quando sua música favorita foi cantada, meu segurança é claro recusou, mas Rael a envolveu nos braços e a girou no ar. Observei Isadora durante toda a interação e suas reações foram interessantes, no mínimo.

— Eles são quentes. — Comenta após segundos de silêncio, sorrindo de uma forma que há muito não a vejo fazer quando o baterista joga uma baqueta para cima e a pega no ar. Estou concentrada em sua expressão, feliz por vir quando gritos me fazem olhar de volta para o palco.

O guitarrista agora está de joelhos, cabeça jogada para trás e tocando como se sua existência se resumisse ao ato. Todos os seus colegas estão em silêncio, o observando tanto com fascínio como orgulho, cada um compartilhando uma vibração única que faz a plateia vibrar.

— Sim.— Murmuro, apertando os olhos no conjunto de tatuagens que se estendem do ombro até a mão do braço esquerdo do homem. Tália grita e me surpreendo com Tilly a acompanha, jogando os braços para cima e pulando como uma verdadeira fã.

Ela também não queria vir, mas foi convencida, assim como eu, pelos argumentos de T.

Estamos todas na área vip, uma espécie de sala privada que nos permite assistir o show com mais tranquilidades. Além dos meus seguranças e dos de Isa, Tália trouxe alguns também. Seu avô, Heins Kraus, que os enviou. Ele nunca foi um homem muito sociável e posso contar nos dedos quantas vezes o vi, mas em todas as ocasiões ele sempre tratou T como uma filha, dando tudo que ela pedia e mais. Inclusive, esse pequeno camarote exclusivo.

— Diga-me que eles estão perto do fim. — Isa sibila, se acomodando ao meu lado e não escondendo sua falta de entusiasmo com o show. Eu posso não escutar rock. Isa odeia o estilo.

Arqueio uma sobrancelha.

— Por que veio, Isadora?

Ela não me olha, mas posso sentir a mudança em sua postura.

— Ela é minha melhor amiga, depois do que aconteceu... você sabe, aquela noite mudou tudo para todos nós.

A lembrança amarga minha boca, de repente o barulho melodioso é substituído pelo da chuva, choro e gritos.

O choro de T.

Os gritos de Ari.

Eu não deveria ter ido encontrá-las naquele dia. Mas ficar em casa com Zé e minha mãe trocando carícias me levou ao limite. Pedi um táxi e fui para o festival de músicas, eu nem sabia quais bandas estariam tocando, quando cheguei um mar de pessoas enquanto o espaço fica cada vez mais cheio. Enviei uma mensagem de texto para Ariel perguntando sua localização exata, mas tudo que recebi em resposta foi uma mensagem com o nome camarote escrito em caixa alta. Fala sério.

Acabei desistindo de tentar achá-las na multidão e voltei para a entrada, onde consegui ligar para Isa e as encontrei na lateral do estacionamento. Entramos no carro de Ariel, ela queria ir para uma festa encontrar Guto e Tália se ofereceu para dirigir. Todas estavam bêbadas, mas como a estrada costumava ser deserta, não debati.

Esse foi meu erro.

— A culpa foi minha. — Acabo falando, o som ficando abafado. — Eu era a única sóbria.

Silêncio.

— Foi um acidente, Nora. A chuva nos pegou de surpresa. —Rebate, mas pelo seu tom posso dizer que ela se culpa tanto quanto eu.

Exalo.

— Do que vocês estão falando? — Tilly entra na conversa, deixando parecer que esperou o momento certo.

— Você não vai querer saber, garotinha. — Isa diz, lhe direcionando um olhar de aviso.

— Vai, alma sangrenta!!! — T grita e todas nós olhamos para ela. A multidão começa a vibrar e gritar o nome da banda.

— Não é um nome bizarro? — Falo, apertando os olhos quando rosas-brancas começam a cair do teto do palco.

— Não, não é. — Tilly murmura. — Afinal, todo mundo já sangrou por dentro, certo? — A observo com cuidado, tentando ignorar a fragilidade em suas íris. Ela usa um vestido azul que pouco contrasta com o tom pálido de sua pele, mas que de alguma maneira a deixa linda.

— Sim.

Faz uma semana desde que a faculdade começou e tenho mantido Saulo por perto, segundo minha intuição ele será útil em algum momento. Isadora discorda, T finge que ele não existe.

Zé o odeia.

— Vamos procurar o diário no aniversário de casamento dos meus pais. — Ela fala depois de um tempo, voltando para o lado de Tália e compartilhando do seu entusiasmo. Suponho que de todos nós, as duas são as únicas que estão se divertindo.




NOSSO SEGREDO - LIVRO 1. CONCLUÍDOOnde histórias criam vida. Descubra agora