Capítulo 61

61 6 0
                                    


Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Meus olhos seguem na direção da porta que ouvi o barulho e paro, esperando que a maçaneta se mova e alguém apareça

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Meus olhos seguem na direção da porta que ouvi o barulho e paro, esperando que a maçaneta se mova e alguém apareça. Nada. Libero um suspiro longo e sigo até o apartamento de Ari, a chave pesa na minha mão e checo mais uma vez os arredores antes de testá-la na porta. Eu não sabia estar prendendo a respiração até soltar o ar pela boca. Alívio é a única palavra que me vem a mente quando a porta se abre e revela uma ampla sala, eu prendo meu lábio inferior com os dentes antes de tentar mover minhas pernas para dentro do apartamento, mas não consigo. Não quando um quadro da minha melhor amiga está pendurando na parede bem na minha frente, é espalhafatoso e parece a imagem de um filme dos anos 80 e não algo que Ari manteria em sua parede, mas é ela, Ariel Bragantino.

— Vamos.—Murmuro em busca de motivação.

Meu telefone vibra na bolsa e por um segundo, eu me assusto, checando o elevador e os outros apartamentos para então fechar a porta e me trancar do lado de dentro.

Pego o aparelho e tremo com o nome na tela.

Zé.

Ele deve estar furioso por não me encontrar ao seu lado na cama, penso em mandar mensagem, porém, chego a conclusão de que terei de mentir e isso só piorará nossa relação, então só deslizo a tecla desligar e coloco no modo silencioso. Eu sei que ele continuará me ligando até eu atender, mas só vou fazer isso quando estiver fora desse prédio.

— Posso fazer isso. — Pronuncio meu pensamento em voz alta, dando o primeiro passo. Envio uma mensagem rápido para Tilly.

"consegui."

Hoje, um minuto antes de deixar o quarto de Zé, eu senti. O calafrio escalando minha vértebra como um aviso, a sensação continuou no táxi e estou tendo-a agora mesmo. Mas não é como se fosse algo novo, não, essa é uma sensação velha, eu a tive pela primeira vez alguns dias antes de vovô morrer.

Envolvo os dedos na alça da minha bolsa.

Talvez não seja um aviso, mas uma intuição.

Decido ignorar o retrato de Ari na parede e não focar no quanto seu olhar parece vigilante, tão vividos que sinto que ela vai soltar da imagem e me atacar. Chacoalhando os pensamentos para longe, analiso a decoração pela primeira vez. Não é nada grandioso, as paredes parecem ter sido chumbadas e tenho esse aspecto de inacabado, se eu fosse chutar diria que o apartamento não passou pela mão de uma design de interiores. Além da foto na parede de frente para a porta, não encontro nada que evidencia que este lugar foi preparado para hospedar duas mulheres da alta sociedade, não parece um lugar que Ari escolheria para fazer de lar, ainda mais um longe de todos nós. Eu não consigo vê-la nem na escolha dos móveis, é tudo tão neutro e sem personalidade, como uma página em branco. Sem vida. Sem emoção. Vazio.

Dou uma última olhada para o grande quadro antes de me aventurar pelo corredor que liga a sala aos quartos, só existem três portas e todas são brancas. Eu abro a primeira, pensando em enviar outra mensagem de texto para Tilly e perguntar se ela sabe qual desses era o quarto de Ariel, mas desisto quando percebo que a resposta seria negativa. Entro no cômodo com cuidado, me deparando com uma cama king embrulhada em um lençol branco e um largo guarda-roupa de madeira, não perco tempo e corro para abri-lo, meus olhos percorrerem as prateleiras vazias enquanto meus dedos tentam encontrar alguma gaveta secreta ou fundo falsa, contudo, não existe nada. Vou para a cama e percebo que ela é nova, ainda tendo o saco plástico protegendo o colchão. Após vasculhar cada centímetro do quarto, vou para o segundo frustrada e a sensação aumenta quando percebo a semelhança entre ambos, se não fosse a cama que é visivelmente menor, talvez para alguém sozinho. Tilly?

Eu também não encontro nada nesse.

Bem, apenas uma blusa masculina e uma peruca de cabelo preto verdadeiro.

Uma peruca!

Minha cabeça está latejando quando tento a porta do terceiro e percebo que está trancada. Eu força a maçaneta e depois a madeira com o peso do meu corpo, mas nada acontece. Então tento a chave na minha mão, a mesma que abriu a porta da frente e lamento quando não funciona.

Não era óbvio? Minha consciência debocha e esmurro a madeira, checando por alguma razão o relógio no meu pulso.

Existe uma razão, na verdade.

José Luiz.

Meu padrasto e amante.

Eu sei que se não voltar em menos de uma hora, ele trará a polícia atrás de mim.

Nossa reconciliação não foi um passo além do que já estávamos antes, apesar de Zé ter falado todas aquelas coisas sobre seu relacionamento com mamãe, ainda me sinto uma traidora, desejando-o e indo para a cama com ele por pura luxúria sabendo que ela continua na cama de um hospital. Argh! Sinto-me péssima só de pensar. É como uma febre que não passa, apenas queima o suficiente para você saber que algo errado está acontecendo.

Descanso minha testa contra a porta, sentindo a fisgada no centro da minha cabeça se intensificar. A enxaqueca vem se tornando comum nos meus dias, principalmente depois que me declarei a José Luiz e fui perseguida na saída do hospital após o horário de visita. É um fato que as sucessões de acontecimentos destabilizaram meu psicológico, mas eu também não consigo encontrar quaisquer soluções.

A primeira lágrima desce, se arrastando até meus lábios como se fosse o único trajeto que ela deveria fazer, minha língua escapa para fora da boca e provo o gosto salgado da minha própria tristeza. Não é bom.

Mais lágrimas descem, até que estou soluçando com a testa ainda apoiada na porta, as mãos posicionadas de cada lado da minha cabeça.

— Garota estúpida! — Esmurro a madeira e não sei quem estou ofendendo, eu ou Ari. Passo a chutar e acertar a porta com meu punho repetidas vezes e ainda me sinto mal. — ESTÚPIDA! — Grito, puxando fôlego, sentindo minha garganta arranhar pelo esforço excessivo. Meus dedos dos pés enrolam e lentamente escorrego até o chão, virando para apoiar minhas costas ao invés da testa na porta.

O único som presente é do meu choro.

É o acúmulo de todos os sentimentos que venho reprimindo.

O medo. A mágoa. A fúria. A incerteza. O desejo.

Tudo.

A perseguição. O coma. A morte. O toque. O olhar. O vídeo. O incêndio.

Um sorriso repuxa meus lábios quando a lembrança do corpo do Zé em cima do meu, enquanto fazíamos amor pela primeira vez, surge. Tinha tudo para ser uma noite catastrófica, até hoje não parei para avaliar quanto foi perdido em roupas, livros e móveis. De alguma forma, encontro conforto na memória, repetindo que estou minimamente sã.

Quando a última lágrima desce, limpo meus olhos e bochechas com o dorso da minha mão esquerda e enxugo a água. Pelo canto do olho, um tapete com uma planta em cima dele chama minha atenção. É típico de Ariel esconder esse tipo de coisas em lugares óbvios, seu argumento para tal costume era sobre as pessoas nunca prestarem atenção nos detalhes. A grande questão é o que teria atrás dessa porta para merecer tanto segredo?

Engatinhando, me arrasto até o vaso. 

NOSSO SEGREDO - LIVRO 1. CONCLUÍDOOnde histórias criam vida. Descubra agora