Capítulo 19

163 12 0
                                    

Encaro meu reflexo no espelho e sorrio com o resultado

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Encaro meu reflexo no espelho e sorrio com o resultado. O vestido branco é colado nos lugares certos, liso na frente e com uma fenda lateral que chega até cinco dedos acima do joelho. Uma escolha sexy, porém elegante e tudo que preciso fazer é esquecer o marido da minha mãe e sintonizar com Saulo, meu colega de faculdade e possível mágico da noite, mágico porque ele terá a missão de fazer as lembranças de Zé sumirem e ... Bem, não será fácil. Ainda posso sentir onde suas mãos tocaram ontem a noite e queima como o próprio inferno.

Ele viajou pela manhã assim como disse que faria, mas não deixou um bilhete de despedida dessa vez, apenas um recado frio que Justine fez questão de repassar. "Ficarei três dias fora, cuide-se".

Quem deixa uma mensagem dessas? Quero dizer, sou adulta. Claro que vou me cuidar. Exalo frustrada, jogando-me no espaço livre entre minhas cobertas e empurrando com o pé algumas das minhas joias mais caras. Eu nem deveria estar cogitando e com qualquer uma delas, Saulo não faz o tipo exibido e sua família é modesta comparada as das meninas. Seu pai e mãe são médicos e trabalham em uma das clínicas Drummond.

Meu celular vibra em algum lugar e libero um gemido. As férias estão acabando e mal consegui revisar o conteúdo do próximo semestre, mas tenho um perseguidor anônimo, uma adolescente irritada e duas amigas que podem ser muito bem o inimigo para lidar. Ah,certo. Falta o noivo viúvo vingativo e o desejo obscuro pelo meu padrasto. Pego o celular por reflexo, uma lida rápida nas três primeiras linhas e já estou mortalmente arrependida.

Tilly abriu o diário.

É tudo o que mensagem enviada por Talía informa e não perco tempo em ligar.

Um.

Dois.

Três toques e nada.

Caramba!!!

— Alô?

— Hey, o que você acha de adiar o jantar para amanhã? — Uso o tom mais suave que consigo e o ouço suspirar do outro lado. Mordo o lábio, aguardando sua resposta enquanto puxo o zíper do vestido para baixo. — Aconteceu um imprevisto. — Acrescento, mas desejo que ele não faça qualquer pergunta. — Saulo?

— Posso te fazer uma pergunta?— Indaga, o tom arrastado. Paro no meio do quarto, semicerrando os olhos ao avistar uma pétala roxa caída sobre um dos meus travesseiros brancos.

— Claro. — Tento soar simpática, apertando os lábios quando encontro a rosa artesanal perdendo a cor sobre meu notebook.

— Você realmente quer sair comigo? — Travo, não esperando por esse questionamento logo após saber que Tilly Bragantino acabou de descobrir meu maior segredo. Olho para a calça jeans que separei para a doação e a puxo da sacola plástica. — Pode ser direta, Nora. Sou um homem adulto e já fui dispensado antes.

Franzo o cenho.

— Eu te convidei. — Argumento, colocando o celular na cama e apertando o viva voz.

Ele libera uma risada frouxa, mas não é genuína.

— Verdade, mas nós dois sabemos quem sente o quê por quem. — Fecho os olhos, amaldiçoando o quanto seu tom pareceu triste. Ele é um cara legal, bonito e nunca me tratou como menos só por ser mulher, pelo contrário, seu tratamento sempre foi ímpar e nunca escondeu sua admiração pelo meu foco e empenho. Inclusive, somos os únicos disputando o primeiro lugar no ranking do curso de medicina na faculdade. O ponto é que não estou pronta para cobranças ou sentimentalismo, o plano era acabar em sua cama e ter um bom momento de prazer para esquecer do meu padrasto. Ponto importante: NÃO ACONTECEU. 

— Não vamos rotular o que temos. — Digo, após um longo minuto e o ouço suspirar.

— Temos algo para rotular? — Indaga.

 Pego uma camiseta simples e sem estampa na gaveta de sutiãs e visto.

— Depende de você. —Opto em dizer, ciente do quanto isso soa vago. Que saco, isso soa como uma cadela fria. — Posso confirmar nosso jantar amanhã? —Me preparo para um não, já calçando um tênis e desembrulhando um moletom velho que peguei nas coisas de Zé.

— Sim. —Murmura e pisco surpresa, mas resolvo não questionar. 

Eu preciso realmente de uma distração e Saulo é bom de se olhar, isso, e eu não quero ceder aos outros babacas da lista. Tento parecer interessada quando me despeço e desejo boa noite. 

—Boa noite, Nora. —Diz e existe algo na maneira como pronuncia meu nome que me faz pensar que fiz a escolha certa. Saulo me fará esquecer Luiz José.

Pego o celular e envio mensagem para Talía e Isa, arriscando uma ligação para a última quando saio do quarto e desço a escada. Sem sinal. Ótimo. Escrevo que estarei no parquinho onde costumávamos brincar e peço que me encontrem lá.

— Senhorita? — Pulo, colocando uma mão sobre a boca e a outra sobre o coração quando viro e encontro Tobiah de terno todo preto me encarando. Ele arqueia uma sobrancelha e desce os olhos pelo meu corpo, mas de uma forma profissional e não maliciosa. — Vamos sair?

— Não, eu vou sair. — Digo, puxando o capuz do moletom sobre a cabeça e passando por ele. Seus olhos me seguem e posso ouvir o barulho da sua bota militar contra o porcelanato. — Eu disse que vou sair sozinha. — Ralho, ainda olhando para frente.

— Infelizmente não posso permitir, senhorita. O patrão foi claro quando me disse para ser sua sombra. — Aperto o maxilar.

— Ele disse, o quê? — Viro, fazendo que seus passos cessem e uma centelha de surpresa brilhe em suas pupilas escuras. Tobiah é alto, possivelmente o homem mais alto que conheço e possui braços musculosos. Parar e confrontá-lo é quase patético, mas quem disse que estou raciocinando?

— O que acabei de falar. 

 Semicerro os olhos. Espertinho.

— Vou apenas encontrar minhas amigas. — Digo, estudando sua imagem ostensiva de macho alfa no meio da sala. Se eu correr ele provavelmente só precisará andar para me alcançar. — Quanto você pesa? — O olho de forma mais clínica, fazendo cálculos na cabeça. Fisicamente falando, se eu usar meu peso para o lado certo e empurrá-lo usando toda minha força aumento minhas oportunidades.

— Posso pegar o carro do patrão e levá-la. — Seu tom indica ser uma batalha vencida. Ele provavelmente vai me seguir. Abro a boca para indicar que não precisaremos de carro quando uma notificação com o nome de Isadora chega. Droga.

— Mudança de planos, preciso que me leve até esse bar. — Mostro o endereço enviado e ele acena. Em dez minutos estamos cruzando o portão do residencial e indo direto para a região, mas não perco a troca de mensagem que mantém com Zé todo o caminho.

— É aqui? Faço uma careta para o bar com o visual antigo, letreiro neon e algumas pichações explícitas na porta de entrada.

— Sim. Encontro seu olhar pelo retrovisor e sinto que está pensando o mesmo.

Vamos. — Digo e o vejo puxando uma arma do porta-luvas. —Uow, uow, uow... O que está fazendo? Ele me dá um olhar e desvia para o bar.

— Proteção. Não discuto quando enfia a pistola no cinto e a esconde com o blazer. Tenho certeza que ele já usou uma antes. Ah, por favor. Essa é provavelmente a arma dele e não é como se eu não estivesse com medo de entrar naquele bar. 

Mando mensagem para Isadora perguntando se o endereço está correto e ela sai. Cabelo amarrado no alto da cabeça, blusa de manga longa, preta, gola alta, calça skinny e bota de cano fino.

 Aperto os olhos. 

Que diabos está acontecendo, agora? 

NOSSO SEGREDO - LIVRO 1. CONCLUÍDOOnde histórias criam vida. Descubra agora