O vento sopra contra meu cabelo e tira alguns fios do lugar, passo a mão por ele e inspiro forte. Olho para a ruiva jovem na recepção e trabalho um sorriso, ela corresponde e faço um registro obrigatório de visitante. Não trocamos mais palavras que o necessário, embora sua expressão permaneça cordial durante o processo, assino meu nome e ouço as instruções que se resumem a não deixar lixo ou qualquer objeto pessoal no gramado.
— Suponho que não lembre de mim. —Fala, espremendo os olhos na direção dos meus, apoiando as mãos nos papéis que acabei de rabiscar. Me preparo para responder com uma negativa, mas então noto o sinal em formato de bola escapando da blusa gola alta, a mancha escura que eu não notaria se não fosse por sua dificuldade em ficar parada.
— Bárbara. — Falo, soando bem mais como uma pergunta. Ela abre um sorriso, piscando surpresa com minha resposta. — Demorei para reconhecê-la, desculpe. — Franzo o cenho para o cabelo ruivo.
Anui com a cabeça.
— Tudo bem,já faz alguns anos.— Aceno, começando a me incomodar com o alinhamento perfeito dos seus dentes. Eles não costumavam ser assim, retos e brancos.
— Não, é que você está diferente. — Mexo no cabelo, passando uma mexa para trás da orelha. Ela ainda me olha com um sorriso educado, mas algo passa pelos seus olhos, uma sombra que torna o verde mais escuro.
— Tirei o aparelho.
— E os óculos. —Acrescento, mordendo a língua para não citar o problema de pele e o cabelo desidratado.
— Sim, e os óculos. —Dessa vez seu tom é endossado com irritação. Aceno, tentando buscar na memória a última vez que a vi. Talvez no nosso último ano ou depois? Não, ela saiu alguns meses antes da formatura devido ao bullying que ... estreito o olhar em seu lábio superior e meu estômago embrulha. — Você ficou muito bonita. — Declaro, ciente de como minha voz soa ridiculamente trêmula.
—A Europa me fez bem. — Comenta e é como um estalo. Isso! Ela foi para fora do país após o acidente no teatro. Quando Isadora aceitou o desafio de Ari e cortou as cordas que prendiam Bárbara no ar. Lembro das duas discutindo no camarim quando Isa percebeu que o colchão de proteção não estava no lugar certo. Eu não estava lá quando a armação foi elaborada, mas lembro do barulho de ossos partindo junto com gritos de horror. A vergonha me atinge por um momento e fica difícil respirar quando as imagens se tornam frescas.
— Preciso ir. —Falo, soando ríspida por um momento até que limpo a garganta e completo com o tom macio : —Foi um prazer revê-la.
— Eu nunca culpei você. —Declara quando estou perto da saída. —Todo mundo sabia quem era a mente por trás das brincadeiras.— Massageio minhas pálpebras com a ponta dos dedos. — O único problema é que você fazia parte da alcateia.
— Sinto muito. —Digo e eu realmente sinto, nunca gostei de perseguir e aterrorizar ninguém. Eu só seguia. — Por tudo. — Continuo de costas então ela não pode enxergar o quão verdadeira estou sendo.
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NOSSO SEGREDO - LIVRO 1. CONCLUÍDO
RomanceMeu padrasto, José Luiz Maldonado é aquele para quem corro quando as coisas ficam difíceis. Meu protetor, meu melhor amigo, o herdeiro de uma grande fortuna e o único homem que não posso ter. Porém, nem mesmo ele conseguirá salvar-me dessa vez. Ni...