6 meses depois...
O pôr do sol costumava ser algo bonito quando eu tinha cinco anos e o assistia em um sofá velho com meu avô paterno, no alto do prédio antigo onde morávamos com meus pais. O apartamento era pequeno e ficava em uma região marginalizada da Virgínia Ocidental, nos Estados Unidos. A nossa vida não era luxuosa, sequer confortável financeiramente, mas, ainda assim, eu me sentia feliz e sortuda por tê-lo. Mas tudo mudou quando vovô morreu após uma série de complicações no transplante de pulmão que recebeu um ano antes e fiquei sem sua proteção. Nada era pior do que lidar sozinha com a gritaria entre meus pais, principalmente quando a noite chegava e meu progenitor voltava bêbado, sem dinheiro e violento pra casa, eu era muito nova na época, mas consigo lembrar perfeitamente quais foram as últimas palavras dele quando mamãe arrumou nossos pertences, segurou minha mão e bateu a porta sem olhar pra trás.
" Não volte. "
Ele não me olhou, pediu um abraço ou seque se opôs com o fato de estarem levando sua única filha pra longe. Nunca houve uma ligação, mensagem ou abraço de despedida. Aquele foi o último dia que o vi.
No começo foi difícil me habituar com a ideia de que minha família não existia mais, mas mamãe me garantiu enquanto descíamos a escada enferrujada do prédio que tudo ficaria bem, então, ignorei o aperto no meu peito e acreditei nela. Foram três meses morando de favor na casa de uma amiga sua e mais um mês nos fundos da casa de uma família rica onde ela trabalhou até juntar o dinheiro suficiente para sua vinda ao Brasil, eu não pude ir porque era necessário uma autorização do meu pai e ele havia sumido do mapa, fui deixada com sua amiga, mantendo contato apenas por mensagem durante seis meses.
Eu chorava durante a noite e fingia estar bem pelo dia, a saudade se transformou em medo e comecei a pensar que tinha sido esquecida. Suzane era boa, no entanto, seu emprego como enfermeira em um hospital público exigia muito do seu tempo e eu era obrigada a me virar sozinha. Ela tinha um filho, um garotinho doente e que precisava de cuidados especiais. No meu aniversário de sete anos mamãe retornou diferente, seu cabelo estava longo e tingido de loiro, anéis nos dedos e joias pelo pescoço e orelhas, ela chegou na surdina pouco antes da meia noite e trouxe uma boneca com várias funções, deu um dinheiro para Suzane e me disse para esquecer a vida antiga, pois começaríamos do zero. Ela conheceu um homem rico, foi o que ouvi elas falarem quando conversavam baixo na cozinha. Não foi minha intenção ouvir, mas eu havia terminado meu banho rápido e estava saudosa de sua companhia, então peguei o pente e corri até onde elas estavam o mais rápido que pude.
Na manhã do dia seguinte, fui levada para conhecer José Luiz, as minhas mãos tremiam, suando frio. Meu coração cheio de receio. Eu só conseguia pensar em qual seria a consequência se ele não gostasse de mim, no entanto, tudo foi esquecido quando meus olhos se bateram com os seus, ele sorriu, abriu os braços e me ergueu para o alto, não pude deixar de compará-lo com meu pai naquele momento. Ele era jovem, vestia roupas bonitas e prometeu que cuidaria tanto de mim quanto da minha mãe, jurou de mindinho que sempre estaria ao meu lado e eu nunca mais ficaria para trás.
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NOSSO SEGREDO - LIVRO 1. CONCLUÍDO
RomansaMeu padrasto, José Luiz Maldonado é aquele para quem corro quando as coisas ficam difíceis. Meu protetor, meu melhor amigo, o herdeiro de uma grande fortuna e o único homem que não posso ter. Porém, nem mesmo ele conseguirá salvar-me dessa vez. Ni...