Meus olhos a seguem com atenção dobrada, ela olha para a sala simples como se estivesse perante a sala de um palácio. Forço-me a dar um passo a frente, lutando contra o nó que se formou na minha garganta, faz anos desde a última vez que estive aqui. Droga. Eu não venho desde a sua morte.
Afasto o pensamento e apoio o ombro contra a parede, focando nela, apenas nela.
Minha perdição.
Meu pecado.
Minha ruína.
Seu vestido pesa na minha mão direita enquanto meus olhos fixam na única peça que cobre seu corpo, um tecido pequeno e rendado. Ele não é nada, um puxão e então, acesso livre.
— Esse lugar é lindo. — Fala em um tom encantador. Meu peito aperta e quero envolver meus braços e prendê-la para sempre.
Calma.
Eu não sou do tipo fácil, mas faço bem o papel. Posso me fazer ser notado em uma sala com mil pessoas sem nenhum esforço, minha aparência e dinheiro ajudam, sempre o fizeram, porém, não se trata disso. Eu sou acessível.
Simples e prático.
Qualquer um pode se sentir confortável ao meu lado.
Eles apenas não deveriam.
— Sim, lindo.—Ela me olha sobre o ombro, apresentando-me um sorriso inocente e um desejo de transformá-lo em algo mais sombrio me invade. Suspiro. Isso é o que minha enteada faz comigo. O ponto é que não estou me referindo a decoração da casa, mas a ela.
Sua pele.
Sua mente.
Seu corpo.
Lindo. Lindo. Lindo.
Nora Smith é a perfeição para mim e isso simplesmente aconteceu.
Ela vai te destruir. Minha mente pontua.
Eu ignoro.
Avanço em sua direção, finalmente cedendo ao desejo de tocá-la mais uma vez, inalar seu cheiro, rastejar em sua mente como sei que estou fazendo, embora ela continue resistindo. Eu não sou estúpido, sei que estou sendo levado pelo desejo nu e cru e serei condenado no julgamento moral no fim dessa história. A única questão é que eu não ligo, apenas ela importa. Hoje, ontem, sempre.
— O que está fazendo? — A pego de surpresa, erguendo seu corpo do chão. Seus peitos ficam próximos ao meu rosto e acabo descendo a boca até um deles. Chupando. Mordendo. Puxando.
— Quarto. — Falo, fazendo o que estou morrendo para fazer a noite toda. A beijo. Nora parece surpresa no início, mas acaba cedendo e geme contra meus lábios, eu tomo sua boca com todo o caos que tenho guardado no meu peito. Voraz e possessivo. Ela disse que me quis desde os dezenove anos, nessa época eu apenas a via como uma criança. A filha da minha mulher.
Minha mulher.
Clarice nunca foi propriamente minha mulher, quero dizer, no começo, nós até tentamos. Eu a pedi em casamento, lhe ofereci meu sobrenome, status perante a sociedade e tudo o que ela pediu, mas nunca passou de carinho. Sim, transamos sempre que bate vontade e o desejo é real, o sentimento é que não. Quando nos conhecemos ela trabalhava como camareira em um hotel que costumava ficar hospedado, havia algo em seus traços que a diferia das demais e despertou minha curiosidade. A chamei para conversar durante uma noite em que minha cabeça estava cheia, logo após a discussão que tive com Alonso, meu pai e inimigo e ela despejou toda sua história. O dia seguinte era sua folga, então bebemos até cair, não aconteceu nada sexual, contudo, a tomei no amanhecer.
Meu pai pressionava por um casamento arranjado, mas eu nunca aceitaria aquela ideia, não quando vi o quanto minha mãe sofreu.
Foi quando surgiu a ideia.
Alonso nunca aceitaria uma faxineira como nora, então me casei com uma. Porém, não escondi a verdade de Clarice. Nós apenas criamos um acordo, algo que beneficiou a nós dois.
Alonso odiou a ideia.
Eu amei o seu ódio.
Ele surtou quando contei que já havia uma criança e ela não tinha o meu sangue. Eu apenas amei Nora como minha, porque naquela época eu sabia que ter um filho seria impossível.
— Esse quarto era seu? — Sua voz me traz de volta e preciso piscar algumas vezes para entender o cenário ao meu redor.
Sim, esse é meu quarto.
Meu quarto de infância.
Empurro a saliva pela minha garganta e semicerro os olhos para a cama pequena.
Que porra é essa?
Eu não pretendia trazê-la para cá. Julgo que apenas fui intuído pelo passado enquanto estava perdido nas lembranças.
— Não.— A aperto nos meus braços quando ela tenta descer.
— Deixe-me ver. — Empurra meu peito com as mãos.
Dou-lhe um olhar irritado.
— Não. — Ela deve visualizar as sombras nos meus olhos, porque para de se contorcer e junta as sobrancelhas, como se eu fosse a porra de um livro interessante que ela acabou de descobrir. — Eu não gosto desse quarto. — Enfatizo e seu olhar se intensifica.
— Por quê?
— Meus motivos.
Bufa.
Então ela consegue se solta do meu aperto em um movimento rápido e me deixa de boca aberta.
— O que há de errado com você? — Meio que rosna, as mãos no quadril e rosto torcido com impaciência.
— Nada. — Sibilo, desviando os olhos dos dela, arrastado os dedos pelo meu cabelo. Nora consegue entrar na minha cabeça quando quer e se esforça, descobri recentemente. Às vezes, preciso afastá-la para não ver mais do que pode.
— Você está supondo que vou comprar essa, padrasto?
Padrasto.
Essa palavra tanto me assusta quanto me deixa duro.
— Estou colocando todas minhas fichas nisso, enteada. — Enrolo a língua quando digo a última palavra. Ao contrário de mim, Nora ainda não se deu conta de que somos inevitáveis e tenta resistir, mas quando a chamo boneca ou enteada, algo contorcido brilha em suas íris e é como fogos de artifício.
Eu sei que ela se culpa pela mãe.
Mas eu não.
— Bem, eu não vou. Quero saber por que me trouxe aqui se não queria estar aqui.
Exalo.
Essa é uma história que não quero falar.
— Conte-me sobre o seu perseguidor. — Falo, na intenção de mudar de assunto. Eu já percebi que ela está me escondendo algo e vou usar isso ao meu favor, no momento certo, vou empurrar e descobrir seus segredos. Todos eles.
— Touché. —É tudo que ela diz antes de virar e deitar na cama.
Minha cama de criança.
Fecho as mãos em punhos.
— O que está fazendo? — Aperto os olhos quando ela afasta as mechas que cobriam os seios e amassa a carne macia, esfregando o bico entre o dedo do meio e o anelar.
— Começando o jogo.
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NOSSO SEGREDO - LIVRO 1. CONCLUÍDO
RomanceMeu padrasto, José Luiz Maldonado é aquele para quem corro quando as coisas ficam difíceis. Meu protetor, meu melhor amigo, o herdeiro de uma grande fortuna e o único homem que não posso ter. Porém, nem mesmo ele conseguirá salvar-me dessa vez. Ni...