Capítulo 10

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Cruzo a porta que liga a garagem a cozinha e subo pela escada principal, não ouço seus passos e concluo que ainda esteja parado, pensando na esposa em coma

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Cruzo a porta que liga a garagem a cozinha e subo pela escada principal, não ouço seus passos e concluo que ainda esteja parado, pensando na esposa em coma. Aquela que ele nem se importou em perguntar se estava bem. No quarto, retiro as peças de roupa com raiva, minha e do universo. Sou uma mulher e não uma menina, tenho ciência que meus atos geram consequências e sempre fui a mais centrada entre minhas amigas, como posso, de repente, sentir atração pelo marido da minha mãe? Ele me surrou, deixou suas digitais em mim, manchou a relação que tínhamos e o que faço em resposta? Fico excitada com seu cheiro!

Sigo para o banheiro, deixando que a água do chuveiro esquente ao ponto de fazer minha pele arder. Perco a noção do tempo e só saio quando estou sensível ao toque, toda vermelha. Não pego uma toalha ou pijama, porque o tecido incomoda, mas lembro-me de passar a pasta curativa sobre as partes mais visíveis e que amanhã estarão com aspecto escamoso se não cuidar.

Meu celular toca da cama, avisando a chegada de uma mensagem e lembro de que preciso convocar um encontro com as meninas amanhã. Precisamos encontrar Estevão e negociar antes que saia do controle, Isa pegou pesado com a surra e provavelmente recebi uma retaliação hoje, mas isso significa que uma delas será a próxima. Pego o aparelho e digito a mesma frase para às três, mas desisto de enviar para a última. Tilly é o alvo mais fácil e provavelmente sua próxima escolha, preciso usar isso ao nosso favor e alertá-la pode atrapalhar a elaboração de um plano. Depois que envio as mensagens, descarto o aparelho e deslizo na cama, puxando um dos travesseiros para o meio das minhas pernas e ficando na posição fetal. Quero fechar os olhos e dormir, mas sempre que tento tenho a imagem vívida do homem de quase quarenta anos em pé próximo a porta, vestindo apenas uma calça moletom e regata branca. Sorrindo devasso.

— Argh!

Atiro o travesseiro longe.

Meus olhos inundam de lágrimas ao visualizar uma foto sua e da minha mãe no casamento deles, o rosto dela está cheio de felicidade, mas o dele transmite preocupação. Sento no colchão, trazendo a moldura para mais perto. Eu nunca tinha reparado nisso, pra mim ambos pareciam extasiados com o momento. Vejo-me no canto, sorrindo para o fotógrafo como se fosse o dia mais feliz da minha vida. Coloco o retrato de volta no lugar e meus olhos recaem na caixa negra de veludo em cima do meu notebook, existe um bilhete junto e não preciso juntar um mais um para saber que este é o presente que José Luiz relatou. Penso duas vezes antes de ir até lá e abrir o pequeno envelope.

"Nora, palavras não mudarão o que fiz, mas quero que saiba que passarei o resto dos meus dias tentando. Nada é mais importante para mim do que seu perdão, no entanto, não ousarei pedi-lo por uma carta. Fui homem para te machucar e serei homem para te dar a cura, sinta-se à vontade para ir até uma delegacia e me denunciar, pagarei atrás das grades se for a sua vontade, mas, se ainda possuo seu afeto, dê-me uma oportunidade de fazer diferente".

Dessa vez não seguro o choro, deixo vir até a última gota. As lágrimas me libertam de alguma forma, porque embora eu não esteja indo até uma delegacia para denunciá-lo, não significa que esqueci da dor causada ou lhe dei meu perdão. Estou apenas evitando um escândalo, por mim e pela mulher que me deu a vida.

NOSSO SEGREDO - LIVRO 1. CONCLUÍDOOnde histórias criam vida. Descubra agora