Não fica triste!

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   Os dois dias seguintes de Rafa foram com reuniões na academia da zona norte. Nos negócios, tudo fluía maravilhosamente. Ela também teria uma viagem curta dali uns dias para dar introdução a um grande evento.
   Ela e Gizelly não se viram. Gizelly não foi mais ao escritório, nem para pegar as planilhas. Também não se falaram por mensagem.
   Além de tudo Rafa estava tentando chegar em casa antes das oito, para passar um tempo com a sobrinha.

- Rafa, olha.

Afirmou Ronaldo, mostrando pra ela um documento que Gizelly e a professora montaram para o torneio. Ela pegou a pasta, olhou detalhadamente e disse:

-   Aprova. É bom.

-   Não vai dizer mais nada? - Indagou ele.

-   Não.

Parecia que ela queria fugir daquele assunto. Quase sete da noite, Sofia apareceu correndo junto com o motorista depois de andar pela academia inteira.

- Quero o lanche que você me prometeu!

Disse a menina e Rafa revirou os olhos, mas sorriu. Abriu os braços pegando sua bolsa e disse.

- Vamos. Lanche não, jantar! A Kelly está de folga. Vamos jantar nós duas por aí.

   De todo jeito, a menina era uma distração. Quando saiu, Rafa olhou a área da piscina. Estava no intervalo entre as turmas e não viu Gizelly.
   O carro dela estava estacionado na frente da academia. As duas entraram e Rafa pretendia levar Sofia para jantar numa churrascaria que gostava algumas ruas após seu local de trabalho.

- Aqui! Vamos jantar.

   Quando desceram, ela parou por um tempo na frente antes de entrar. A churrascaria era pequena, não estava tão cheia, mas elas viram Gizelly e Ivy se servindo, sentaram numa mesa conversando pareciam bem animadas. Gizelly de cabelo molhado, e Ivy com certeza aproveitando o intervalo de sua turma também. A moto de Gizelly estava na frente com dois capacetes.

Sofia deu uns passos antes de falar:

- Tia giii!

   Foi puxada pela mão por Rafa, mas foi inevitável que Gizelly não ouvisse. O sorriso dela se fechou, o de Rafa nem existia.
   Gizelly acenou para a menina. Assim como Ivy acenou para Rafa e sorriu ao vê-la, como sempre fazia. Rafa correspondeu rapidamente e percebendo que Rafa não soltava sua mão soso não se aproximou. Até um garçom aparecer.

-   Boa noite! - Disse o rapaz.

-   Boa noite.

Ele apontou para uma mesa próxima, mas Rafa pediu uma que ficava mais no canto e sentou de costas para elas. Completamente incomodada com tudo.

-   Tia, posso pedir batata frita? - Questionou a menina.

Pela falta de resposta ela perguntou outra vez:

- Tia? Tiaaaa? Posso?

Ela saiu dos pensamentos, a olhou falando baixinho e respondeu:

- Pode.

   Até soso achou estranho e mesmo para uma criança, a empolgação da batata frita se foi ao ver o rosto da tia tão triste.
   Rafa olhava de lado, mesmo sem querer, mas era tortura demais ficar ali. Não demorou muito para serem servidas. Os sorrisos de Ivy podiam ser ouvidos por elas e Rafa sequer tocou na comida direito.
   Não levou muito tempo, ela parecia ter tirado o peso do mundo das costas ao ver que elas já não estavam na mesa, mas olhando para fora, viu quando sua funcionária estava sentada na garupa de Gizelly e elas indo embora.
   Rafa apoiou o cotovelo na mesa, deitando a cabeça sobre a mão, olhando Sofia comer.

-   Por que você não tá comendo tia? Tá ruim? - Perguntou a pequena.

-   Não...

Ela respondeu, engolindo o choro. Tirou uma batatinha do pote e colocou na boca forçando um sorriso, pra que soso não percebesse. Ouvindo falar parecia muito, muito diferente de ver. A ficha parecia ter caído. Estava tudo acabado.

...

   Depois de chegar em casa, Rafaella verificou o material escolar de Sofia. As duas tomaram banho e ficaram assistindo um filme por um tempo, mas a menina dormiu cedo. Já ela não dormiu, foi trabalhar, mas os sorrisos pareciam martelar em sua cabeça, estava difícil esquecer.
   Já passava da uma da manhã quando ela deitou-se. A cama grande demais, os pensamentos que não paravam, uma vontade enorme de ligar, mandar mensagem, ouvir a voz e até xingar por ter sido tão rápida, mas se reservou ao silêncio.
   Foi até o quarto de Sofia, sentando na cama vendo a menina dormindo sossegada. Pensou no quanto era bom a inocência, sem preocupações. Se encaixou no abraço da pequena, que se mexeu ao vê-la se deitando.

- O que você acha de dormimos juntas de novo?

Perguntou ela, ao ver que havia acordado a sobrinha. A luz do abajur estava acesa, mas soso sorriu ao vê-la e sentou com a cabeça de sua tia em seu colo. Era uma situação inversa.

- A Senhora ficou triste por que viu a tia gi com a namorada nova dela?

Rafa deu um sorrisinho, virou para a menina e disse:

- É que quando a gente é adulto, fala umas coisas que era pra ter pensado antes de falar e às vezes nem era pra ter falado e fica difícil voltar atrás e também nem volta... Eu não sei.

-   E porque você falou? Papai sempre fala que se vai magoar alguém, é melhor não dizer nada. Mesmo que pense tudo errado.

-  O seu pai tem razão.

As duas ficaram em silencio. Rafa sentia os cabelos sendo acariciados pela sobrinha,e as lágrimas sendo enxugadas por ela.

- Não fica triste. Eu não gosto de ver você chorando... Você ama ela, não ama?

Rafa fez uma careta, deixou se emocionar e soso continuou:

- A senhora deveria dizer assim: "Tia Gi, eu te amo! Estou muito triste por que não estamos mais juntas. Eu gosto de você." Depois a senhora beija ela. No filme deu certo!

Rafa sorriu, mas voltou a chorar ao ouvir a solução tão inocente.

- Eu preciso de um abraço pra me sentir melhor!

Disse ela, sendo abraçada pela menina lhe dando um beijo no rosto e as duas deitaram para dormir na cama pequena, que parecia bem melhor que uma cama enorme de casal.

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