É fotografa também?

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"Ai Rafa, amiga! Já tá na hora de você me perdoar. Eu não existo longe de você, tô com saudades demais. Fui uma amiga fofoqueira e estava mancomunada com a professora escondendo essa treta? Fui! Mas era uma boa causa, a gente não imaginava que aquela bruaca velha interesseira asquerosa ia aparecer feito assombração... Poxa Rafinha, é a festa da academia. Fizemos tudo ficar incrível. A professora não dorme há uma semana resolvendo tudo. Vamos participar, lá a gente pode conversar, não faz assim..."

   Era o dia do início do feriadão. Rafa estava sentada na cama do quarto na pousada, enquanto seu pai brincava com os netos e ouvia o áudio que ela interrompeu. Também fuçando o instagram de Gizelly, ela viu uma marcação de dias anteriores que não gostou muito.

- Que isso aqui?

Deu um pulo da cama ao começar a ler.

"Quero agradecer imensamente à equipe da editora Netuno por entregar o conteúdo com tanta rapidez e sensibilidade. Em especial a escritora Gizelly Bicalho. Uma mulher sensível como poucas. Perspicaz, que faz das palavras verdadeiras obras de arte. Nunca pensei que me veria tão feliz no meu dia através de palavras que me conheceriam mais até do que eu mesma conheço."

O texto vinha acompanhado de uma imagem. Gizelly aparecia em seu escritório na editora, encostada na mesa sorrindo ao lado da cliente, num abraço cordialmente lateral.

- Agora pronto! TAVA FALTANDO POUCO PRA TIRAR A ROUPA PRA POETA ESCRITORA!

Sem demora, Rafa entrou no instagram da mulher. Inúmeras fotos de uma grande festa. Lá estavam vários livros que Gizelly havia escrito que serviriam de lembrancinha para a mulher chamada Fernanda, presentear seus convidados em sua festa de comemoração ao divórcio. Especificamente, eram poesias de quando o amor chega ao fim e quando a mulher se vê em liberdade.

- Era só o que faltava... Olha isso daqui papai...

No instagram de Fernanda, Rafa via as fotos. Uma festança com tudo que tinha direito. Uma mesa que destacava bem os livros escritos por Gizelly. Onde a moça era a capa. Rafa mostrava ao pai tudo que via, e a mão já começava a gelar.

- Filha, mas você já me disse uma vez que ela faz textos sob encomenda. Escreve conteúdo de acordo com o que o cliente deseja. - Justificou o pai da moça.

- É verdade. É sim! Ela escreve qualquer coisa, até bula de remédio. É o que tô falando, JUSTAMENTE! ELA ESCREVE QUALQUER COISA, Mas poeminha de divórcio é a primeira vez que eu vejo! Eu nem sabia dessa capacidade, olha o nível da modernidade? Falta mais nada pra me surpreender...

Depois, ela entrou no instagram da academia. Estava movimentado, novos seguidores, participações, bem dinâmico. E vendo as redes de um aluno ou outro, os comentários eram os melhores.

- Tá acontecendo alguma coisa especial? - Perguntou o pai dela.

- Amanhã é feriado. Sábado e domingo
estendemos pro pessoal da academia aproveitar o feriadão. Todo ano fazemos assim, acaba virando um encontro na minha chácara na serra. Os funcionários adoram. É bem divertido. Esse ano tem mais pessoas, acho que alugaram um sítio.

Ela largou o celular na cama, se encostou na cabeceira e pensou por uns instantes.

- Não vai participar com seus funcionários?

Ela negou com a cabeça. Passando a mão na boca ao pensar na foto de Gizelly e Fernanda, e nas poesias que ela havia criado para "outra". Obviamente o pai dela já havia entendido tudo, pegou o instagram e viu.

- São poesias de divórcio! Tem a divulgação do sua escritora, mas também de toda a equipe e editora dela.

De braços cruzados, ela sabia que o pai estava certo.

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