Você não podia fazer isso comigo.

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   A forma de Rafa fugir da realidade que ela acreditava era aquela naquele momento. Dançando, tentando ignorar a professora e se entupindo de cerveja. Por um momento ela sumiu. Paulinho adentrou na pista e foi dançar com Ronaldo. Foi só um segundo que fez Gizelly perde-la de vista. Mas logo encontrou. Ela saiu do corredor do banheiro com uma nova amiga que tinha feito lá. Estava com o rosto molhado, enxugando com umas duas toalhas de papel, pediu para a amiga segurar um cigarro que havia arrumado Deus sabe onde, e enrolando os cabelos no alto da cabeça.

- ...E tem os meus trigêmeos. Meus bebês, meus lindos, meus amores, minhas vidinhas... Mas amanhã resolvo isso...

Pelo visto Rafa já havia contado a história para a colega de banheiro. As duas mulheres que nunca se viram, agora estavam num deck que dava até a Lagoa, o papo ia solto, enquanto Rafa falava. Ela começou a dançar com a outra mulher que também desabafava. De longe Gizelly observava quando ela se engasgava com a fumaça do cigarro e ainda assim insistia.

Rafa também era observada por uns homens numa mesa, que logo pararam o garçom, pedindo que levasse duas cervejas para as moças em nome deles. Imediatame a professora ponderou:

- Precisa mandar nada pra elas não, irmão.

Ela já estava ficando impaciente. Então se aproximou, vendo a nova amiga de Rafa indo embora. Gizelly tirou o cigarro da boca dela, fumou um trago, depois outro e jogou fora.

- Já chega, né amor? Você nem fuma. Nem sabe pegar num cigarro pra começar. - Reclamou Gizelly.

Irônica, Rafa sorriu.

- Claro! Você que sabe pegar num cigarro... Eu? Não sei. Não sei pegar num cigarro, e não sei um monte de outras coisas também.

Além de falar pausando as palavras, ela entornou a cerveja de vez. Gizelly lembrou que uma vez, ela esteve numa casa de ménage com Ronaldo, lembrava bem a cena da cama giratória, mas foi Rafa quem falou:

- Lembra daquela vez que eu estava me divertido com Ronaldo e você me arrancou da festa me arrastando com todo mundo olhando? Que vergonha...

Gizelly tirou um cigarro do bolso. Estava ficando cheia com os olhares das mesas sobre ela. Acendeu, deu uma tragada longa, apertando os olhos por causa da fumaça e desafiou:

- Faço outra vez e nem penso duas vezes.

Rafa ficou furiosa. Tomou o cigarro da mão dele, fumou e abanou a fumaça respondendo:

- Não faz não! Dessa vez é de igual pra igual. Não sou boneca, você não manda em mim, e nem tem moral pra fazer isso. Nem devia tá aqui perdendo meu tempo falando nada com você. Mas depois de tanta traição, acho que o seu "eu" verdadeiro é esse daí. Quer mandar até num cigarro meu.

Gizelly pegou outro, acendeu, estendeu pra ela e disse:

- Quer? Fuma! Vai Rafaella, fuma! Vamos lá, o que tá esperando? Uns cigarros não vão foder seus pulmões. Esse é suave, mas da pra arrumar outro...

Rafa ficou contrariada. A professora estava de mãos estendidas, oferecendo o que ela queria, mas não queria que Gizelly oferecesse.

- Odeio essa merda. E é quando eu quero, não quando você quer!

Gizelly sorriu de lado, deu outra tragada longa imediatamente.

- Você é cínica, debochada. E apaga essa porcaria que odeio essa fumaça.

Gizelly apagou o cigarro. Deixou a ponta na Madeira do deck e Rafa a encarava ainda mais. A respiração começava a ficar ofegante, o semblante começava a mudar ao encara-la. Acabou pensando que se aquilo fosse verdade, não tinha a menor ideia do que fazer. Não queria acreditar.

- Talvez eu te perdoasse se fosse honesta. Se falasse na minha cara: "Traí você de todas as formas que pude. Menti, fingi, chegava tarde por que esperava você dormir..."

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