Eu vou falar com ela

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Gizelly chegou à academia por volta das oito da noite. Todos imaginavam que algo de muito bom havia acontecido na entrevista para que ela não tivesse ido ao trabalho. A ansiedade era imensa, mas ela chegou cabisbaixa, deixou uma mochila grande na moto e foi para a piscina.

Rafa ainda estava na academia da zona norte, mas voltaria em breve para a sede. Sua viagem era naquela noite e ela precisava pegar uns documentos. Ela percebeu que Gizelly não visualizou sua mensagem.

Ronaldo estava andando pela academia, quando viu a professora calada, arrumando suas coisas e esperando sua turma, mas as aulas estavam suspensas. Aquela não era a Gizelly que estava acostumado a ver. Até que Paulinho apareceu e lhe contou o que havia acontecido.

- Teve duas explosões no prédio dela. Construção velha, fiação antiga, sabe como é. Pegou fogo no último andar, os bombeiros conseguiram resolver, mas tá sem energia, interditado. Os moradores não podem voltar pra lá e ela nem apareceu na entrevista por que ficou ajudando o povo na hora da confusão. Talvez liberem amanhã pra eles buscarem as coisas para fazer a mudança, mas todo mundo do prédio está na rua e não podem voltar pra lá tão cedo. Precisa de uma boa reforma, o risco é grande se eles continuarem lá.

Ronaldo ficou surpreso e com o coração partido de ouvir aquilo. Rafa já havia lhe falado do carinho que Gizelly tinha pelo prédio e seus vizinhos, de onde vinha boa parte de suas inspirações. Ela precisava saber do que havia ocorrido.

- Poxa Ro! - Disse Rafa triste. - Jura que aconteceu isso? E como ela está?

Indagou ao ouvir tudo que seu amigo lhe falou ao ligar.

- Pois é Rafa. O Paulinho falou que até passou na Tv, mas não vi. Ela tá aqui, ainda veio trabalhar, ia dar aula, mas suspendi por que imaginei que ela não viria mais hoje. Pensei que houvesse dado certo. Nem parece a professora que a gente conhece.

- Ai Deus, que dó... Não quero ver a carinha dela triste. - Disse ela pensativa.

Ronaldo até ia responder, mas pelas câmeras viu o pai de Gizelly entrando na área da piscina. Todo de terno preto, olhando os arredores.

- Rafinha, o pai dela acabou de chegar aqui. Tá indo lá pra área da piscina, como está sem alunos, a conversa vai ser lá eu acho. Eu não vou com a cara desse homem.

Rafa logo ficou agoniada, lhe dava até coceira pensar no pai de Gizelly, ainda mais sabendo que ele não tinha freios para falar coisas que só deixariam a professora ainda mais triste.

- Ah, não! O que esse embuste foi fazer aí? Tem certeza que é ele?

Ronaldo observou com mais afinco e respondeu:

-É sim! Tá sentado no banco da borda da piscina esperando pra falar com ela. Pela cara veio pisar na filha.

Ela apressou-se em juntar suas coisas. Já estava imaginando uma boa briga entre as duas.

- Já tô saindo daqui! Vou praí agora. Não vou deixar esse traste pisar na Gizelly! Eu sei como ela fica machucada com esse velho embuste falando besteira. Esse homem é um abutre, só aparece nas horas ruins.

Os amigos de despediram. O transito não estava dos melhores, fazendo-a perder algum tempo até chegar á academia, mas logo quando parou diante do trabalho, viu o homem com um sorrisinho saindo do estabelecimento. Com um olhar cínico ele destravou o carro, e afirmou logo que a viu:

- Rafaella! Uma empreendedora de sucesso! Soube o que houve? Apareceu até nos noticiários. A heroina ajudando a salvar os pobres mortais. O antro de viado e prostitutas foi interditado. Pegou fogo, por pouco não explodiu de vez.

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