Beijo?

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As duas trabalhavam juntas, mas não deixavam de discordar algumas vezes em qual livro indicar para cada pessoa que lhes pediam dicas.
Logo as horas foram passando, os exemplares findando. Até que ficou somente um.

- Esse é meu! - Disse Rafa ao ler o título: cem anos de solidão. - Já li há uns anos. Mas emprestei a uma colega e nunca mais vi. Vou reler.

- Ótima escolha! - Gizelly retrucou.

A prefeitura seria responsável por desmontar tudo e com o trabalho finalizado, Gizelly questionou:

- Vamos ver as outras coisas? Ainda está cedo! Vai começar uma apresentação de teatro ali na frente.

- Eu não posso demorar muito! Vim só ver os livros que foram os alunos que deram, sabe... Tirei umas fotos, dá pra expor lá... Como já falei! Mostrar pra eles para onde vieram. - Ela respondeu meio receosa.

- A senhora já falou isso! É sempre repetitiva assim? Se justifica demais o tempo todo?

Rafa ficou sem palavras por uns instantes. Gizelly a deixava intimidada com as frases tão diretas.

- É uma entrevista? Tá me entrevistando agora?

Gizelly sorriu ajeitando os óculos no rosto. Pegou sua mochila com algumas coisas dentro e insistiu.

- Não vai demorar muito. Vamos! - Ela pegou a mão de Rafa, mas soltou ao ver certo recuo.

Foram andando uma ao lado da outra, e Rafa curiosa, ia olhando tudo ao redor. No local do teatro, não havia palco nem nada, apenas um grupo pequeno se apresentando. As duas sentaram em uns caixotes de madeira que havia espalhados. Havia cerca de vinte ou trinta pessoas assistindo o teatro amador. Ao final, ninguém aplaudiu, mas Gizelly levantou-se, começou a aplaudir sozinha e logo as pessoas que estavam ao lado, fizeram o mesmo e os atores sorriram, assim como Rafaella.

-Incentivo! - Gizelly disse. - Se ninguém os aplaudisse, eles iriam desistir e se aplaudissem, continuarão atuando até um dia serem bem melhores que isso. Então não custa nada! Empatia sempre!

Rafa abriu um belo sorriso. Era a primeira vez que Gizelly a via sorrir de perto e com tanta presteza. Tinha todos os sentimentos ali. Gizelly era encantadora.

Permaneceram assistindo mais algumas apresentações: dança, música, esportes, havia de tudo acontecendo ali e Gizelly disse por um segundo:

- A senhora espera um pouquinho. Volto logo. - Rafa permaneceu sentada num dos caixotes. E alguns minutos depois, Gizelly voltou com dois sorvetes de casquinha.

- Sempre que eu vinha nesses festivais, não podia faltar o sorvete no final e como a senhora não pode demorar, aí está!

O clima era completamente diferente da academia e de qualquer outra coisa. Rafa estava mais observadora, Gizelly mais animada. Estava no lugar que queria estar.
Rafa foi tomando o sorvete devagar, assim como Gizelly. Ficaram as duas lado a lado, olhando para o teatro Gizelly virou-se para Rafa e viu o canto de sua boca com uma gotinha de sorvete.
Olhou para ela, apoiando o dedão no canto de sua boca afirmando:

- Tá sujo aqui...

Passou o dedão por duas vezes tão delicadamente que parecia uma eternidade.
Com a boca entre aberta, Rafa a olhava tocar seu rosto com aquela sutileza sem igual.
Os olhos praticamente imploravam: "Porra! Me beija logo!" mas ela jamais admitiria.
No meio daquele envolvimento todo, Rafa levantou-se correndo. Parecia que queria sair de um incêndio.

- Preciso ir! A Sofia tá numa festinha lá na vizinha, melhor que eu fique por perto - Gizelly levantou-se em seguida.

- Também já vou! Tenho umas coisas pra fazer ainda hoje. Vou andando mesmo. Deixei a Moto por lá, vamos. A acompanho até seu carro!

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