Você é uma idiota!

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   Duas horas depois, Rafa desistiu de achar as chaves. Já era tarde, estava sentada na cama no último quarto, e também cabisbaixa quando Ronaldo entrou devagarzinho.

- A chave sumiu. - Afirmou tristonha.

- Fica aqui Rafa, não vai entrar ninguém. Fecha a porta.

Ela deitou-se na cama, aquele quarto era sem graça e vazio, nada acolhedor.

- Acha que fez a coisa certa? - Perguntou Ronaldo.

- Acho que falei o que estava sentindo. Ou quase.

- No geral quando falamos o que sentimos ficamos aliviados, isso não tá acontecendo com você.

Ela virou-se para o lado respondendo:

- Ela disse que deixou de levar várias coisas em consideração. Imagino que foi por curiosidade. Agora eu fico pensando... Será que ela me amou mesmo, ou eu era um produto? Que atiçava a curiosidade dela, despertava sentimentos que serviam para criar e no fim embolou tudo e deu nisso?

Ronaldo não sabia responder, mas tentou ajudar como podia:

- Olha Rafa, eu não posso sentir por ela. Mas vi o que ela sentiu quando soube a história real. Não acho que você foi um produto.

Levantando da cama, ela tentou justificar a si mesma:

- Ao mesmo tempo, tenho vontade de saber o que ela escreveu. E o que ia fazer com a história. É isso que os artistas fazem. Escritores de ficção em especial. Eles são ótimos em transmitir emoções com palavras, mesmo que não tenha vivido nenhuma. A Gizelly escreve coisas sem nunca ter estado naquela situação com detalhes absurdos. E pensando assim, não acho chocante que eu tenha sido só a chave pra abrir a porta.

Rafa estava com o olhar vazio. Nem parecia entender alguns pensamentos.

- Acho que você tá exagerando, Rafa! Não é bom ter uma pessoa que se inspira em você pra criar?

- É sim! Até certo ponto. A minha história real não é a dela que pode apagar o parágrafo e fazer outro. Ela percebeu isso quando viu que não podia controlar aquela mulher. Ela não era personagem. E então ela se perdeu quando não me contou nada. Mas enfim. Preciso de um banho outra vez... Tá um calor aqui...

Desconversando, ela ligou o ar condicionado do quarto enquanto falava:

- Quando esse povo for dormir, a chave aparece. Tá escuro, devem ter pisado por cima.

Mas Ronaldo não estava satisfeito. Foi atrás da amiga no banheiro, afirmando:

- Será mesmo que é a escolha certa Rafinha? Vocês se amam, existem as crianças, a família linda, até os negócios se correlacionam em alguns pontos. Sei que existem os limites, que até eu como seu amigo ultrapassei. Mas ela é o seu amor, a sua mulher.

Rafa permaneceu o tempo todo em silêncio enquanto Ronaldo falava. Depois ficaram os dois sem falar nada, até ela terminar o banho frio e se enrolar na toalha:

- Às vezes não sei o que ela buscou em mim. - Respondeu ela, sentando-se na cama.

- Mas ela já não falou isso muitas vezes? E você continua achando que não é capaz de ser amada, e toda a movimentação em torno da história era somente criar mais narrativas pra saciar a curiosidade dela sobre você, ao invés de somente querer saber do seu passado por não aceitar que você não merecia isso?

Ela ficou sem responder. E não disse a Ronaldo que quando falou a sós com sua mãe biológica, ouviu que era "somente um produto para histórias e poemas que vendiam para pessoas idiotas." Pessoas que buscavam um tipo de amor inexistente. Mas que vendia, e de fato, a professora sabia construir aquilo. Engoliu seco e permaneceu calada. Depois Ronaldo continuou:

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