Tá rolando alguma coisa?

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   O almoço correu animado. As conversas eram sobre assuntos distintos e Rafa estava ainda mais interativa do que todos esperavam dela, o que deixou Allan surpreso, comparado com o ano anterior.
Depois de comerem, ainda permaneceram na mesa conversando. Os funcionários montavam times de futebol para jogar naquela tarde.
Rafa, Gizelly e Flavina conversavam sobre as academias e Allan prestava atenção nos detalhes que elas exibiam. A mão de Gizelly descansava discretamente sobre a perna de Rafa, enquanto o dedão ia pra lá e pra cá, o que o deixava incomodado, além do que a professora parecia muito querida.
Elas trocavam cheirinhos e palavras baixas, com sorrisos de coisas que só as duas entendiam. Gizelly cochichou no ouvido de Rafa dizendo que iria ao banheiro.

- Se os de baixo estiverem cheios, vai lá no meu quarto.

Disse Rafa baixinho. Gizelly confirmou com a cabeça, saindo pelo canto da casa, mas não sem antes lhe dar um beijo na testa.

Rafa e Flavina continuaram conversando, quando Ronaldo se aproximou eufórico com uns coletes nas mãos dos times de futebol do pessoal.
Allan saiu discretamente, caminhou por dentro da casa, onde várias pessoas estavam espalhadas conversando. Uma mulher limpava o banheiro de baixo e logo ele deduziu que Gizelly estava no de cima. Estava certo. A porta do último quarto estava aberta, algumas roupas de Rafa espalhadas pela cama e ele ouviu um barulho de descarga.
Gizelly saiu segundos depois enxugando as mãos dando de cara com Allan passando o dedo em um dos móveis, com uma cara irônica de quem tinha alguma pergunta pra fazer.

- Tá querendo alguma coisa? - Perguntou Gizelly.

Antes de falar, ele olhou o teto, os móveis, fungou o nariz apontando o queixo para cima sentindo o cheiro do perfume de Rafa.

- Até o cheiro dela é só dela, né? Como é pra você? O que passa na sua cabeça por ser a namoradinha da dona disso tudo?

Um sorriso inesperado brotou no rosto de Gizelly, em nenhuma hipótese esperava tal pergunta e o rapaz prosseguiu:

- Qual é professora, fala sério! Conheço a Rafa desde que o primeiro negócio dela era um projeto de academia de bairro cheia de infiltração no teto, ela e o Ronaldo cobrindo as máquinas com uma lona quando chovia, isso tem muito tempo. Nunca se envolveu sério com ninguém. Aquele José... Putz... Aquela relação era uma piada. A Rafa sempre foi autossuficiente, não precisa de ninguém pra nada. Você já conseguiu o seu aumento? Quanto tá ganhando? Quatro, cinco mil?

Gizelly cruzou os braços, se calou e esperou mais palavras.

- Você sabe que ela é a Dona não é? Por que será que ela não fala pra ninguém? Vive rodeada de gente interesseira, fingindo amor quando almeja a grana. Ela não quer isso. Gosta de transitar com liberdade, manda e desmanda. Faz o que quer e não precisa se mostrar pra isso.

O silêncio de Gizelly o deixava astuto. Falando tudo que queria, achando que a mulher poderia ser mesmo uma interesseira.

- Além do quê, ela faz questão da sua imagem vinculada a tudo. A lavagem cerebral deve ser intensa. Sempre achei que ela era sentimentalmente carente, mas não a ponto de pegar uma professora de natação, aspirante a escritora e assumir assim, como está fazendo. A senhora joga bem!

- Terminou? - Perguntou Gizelly.

Allan sorriu sarcástico, abriu os braços e Gizelly afirmou:

- Eu poderia falar e justificar por que estamos juntas, mas por esses julgamentos, você não tem capacidade pra entender, não vale a perda de tempo, mas uma coisa acho que você entende, o que fez eu me apaixonar e estar com ela, assim com ela está comigo, é que você esteve todos esses anos se arrastando e ela não quis. O motivo? Ela é inteligente o bastante para não querer qualquer idiota. Ao contrário do que você imagina, ela não é só boa nos negócios, é boa na vida pessoal, em tudo, todos os detalhes e quando descer, vou mais uma vez beijar minha mulher, abraçar, falar o quanto ela é linda e dar parabéns pela força que tem e pela inteligência que lhe ajudou até aqui a escapar dos estúpidos. Dá licença, preciso fechar a porta.

Allan se calou. Saiu do quarto para que a porta pudesse ser fechada e Rafa apareceu no corredor indo em direção ao quarto. De cara ela notou o clima diferente.

- Tá rolando alguma coisa? - Perguntou ela.

Gizelly poderia dizer que estava sendo taxada de interesseira por um sonso que se fazia de solícito, mas não queria se prolongar.

- Nada não, amor. Tava falando aqui pro Allan como você é inteligente nas escolhas que faz e isso é o que me faz te admirar muito, muito mesmo! Ele também acha isso. Estava elogiando aqui a sua perspicácia para escolher as melhores coisas. Não foi, Allan?

Visivelmente sem graça, Allan não respondeu nada. Rafa sabia que não era só aquilo e estendeu para Gizelly um colete verde do futebol, falando que Ronalo e Paulinho estavam a chamando para jogar.

- Vai lá, Allan, acho que tem um colete pra você ainda, o pessoal tá entregando.

Disse Rafa, ele acenou com a cabeça saindo em seguida.

- Vai amor, fala. Ele não veio aqui de graça.

Afirmou Rafa olhando para a namorada. Gizelly vestiu o colete, sorriu ajeitando a camisa de baixo e respondeu:

- Ele não queria nada. No fundo, estava sentido por que é um magrelo engomadinho que deu em cima de você tooodos esses anos e nunca ganhou nenhum beijinho e eu, uma professorazinha simples, uma escritora sem livro publicado e uma nadadora de academia ganhei o coração da moça que não gosta de romance, briga e xinga, mas me ama! Não ama?

Rafa sorriu ao ouvi-la. Recebeu um beijo carinhoso, com um abraço que envolvia seu pescoço, a apertando, seguidos de vários selinhos.

- Acho que amo mesmo... Espero que seja só isso, por que senti o cheiro da treta lá do começo do corredor! - Disse ela. - Quebro a cara dele. Tô brava hoje.

- Tá brava...

Disse Gizelly a beijando outra vez. Rafa sorriu sem conseguir terminar as palavras, enquanto Gizelly amenizou.

- Vamos lá! Vamos jogar. Se ele tiver o azar de cair no time que não é o meu, faço um gol pra você, o faço engolir grama. Vai chorar e virar meme.

- Gol pra mim? Quero!

- Golaço! No ângulo...

As duas desceram até onde algumas pessoas já jogavam e Gizelly tava certa, Allan não estava no seu time.

- Vem Professora! Vai ser o seu time agora!

Gritou Ronaldo, o juiz do jogo, único de colete rosa brilhante, no meio do povo.

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