POV Victoria
Depois que Nathalia saiu, um vazio tomou conta de mim. Aquele calor reconfortante que ela trazia, mesmo com suas idas e vindas, parecia ter deixado o ar mais pesado. Eu sabia que sentir saudades dela não era mais segredo para o meu coração.
Mas, além dessa saudade, algo mais profundo me consumia. Aquele mal-estar persistente dos últimos dias... O cansaço que não passava, as tonturas que surgiam do nada. Cada vez que meu estômago revirava, eu sentia que algo estava errado, algo que eu temia admitir até para mim mesma.
Eu já sabia o que era. Mas a simples ideia de colocar em palavras me aterrorizava. Se realmente estivesse grávida, o que aconteceria? Nathalia... ela não aceitaria. Como poderia? E Erick... Erick certamente não suportaria a ideia de um filho, especialmente agora, com tudo o que estávamos enfrentando. Eu estava presa em uma corda bamba, prestes a desabar.
A cada vez que passava mal, esse medo se tornava mais real, mais palpável. E hoje, foi o pior de todos. Meu corpo cedeu, e no desespero, sem saber o que fazer, peguei o telefone e liguei para Ana Clara. Pedi para ela vir até meu apartamento. Eu precisava dela aqui, precisava de alguém que pudesse segurar minha mão enquanto eu enfrentava o medo que estava tomando conta de mim.
Quando minha irmã finalmente chegou, senti um alívio imediato. Só de vê-la ali, diante de mim, a tensão em meu peito afrouxou um pouco. Ela sempre foi o meu porto seguro, e naquele momento, eu precisava mais do que nunca da sua força.
Ana Clara me olhou de cima a baixo, os olhos cheios de preocupação. Eu sabia que ela notaria o quanto eu estava abatida, consumida por algo que eu ainda não conseguia expressar em palavras.
— O que foi, Vic? — ela perguntou, sua voz carregada de um carinho que só ela conseguia transmitir.
Tentei disfarçar, respirar fundo, mas a preocupação no rosto dela não me deixava esconder nada.
— Não é a Nathalia, se é o que você está pensando. Com ela, está tudo perfeito. — As palavras saíram rápidas, quase como um reflexo, tentando afastar a ideia de que ela pudesse ser a causa do meu tormento.
Ana Clara franziu a testa, cética. — Então é o Erick, não é?
Ao ouvir o nome dele, não consegui evitar revirar os olhos, uma onda de frustração subindo pela minha garganta. Como pude me envolver com alguém como ele? A lembrança do quão tóxico ele era só fazia tudo parecer ainda pior.
No calor do momento, antes que pudesse pensar melhor, as palavras escaparam dos meus lábios.
— Eu acho que estou grávida, Ana. — A confissão pairou no ar, pesada, quase sufocante. — Minha menstruação está atrasada, e eu tenho passado mal com frequência.
Ana Clara ficou ali, paralisada, os olhos arregalados como se não acreditasse no que acabara de ouvir. Ela abriu a boca para falar, mas nada saiu, então ela tentou novamente,
— Você... você está brincando, não é? — Sua voz tremia um pouco, um reflexo do choque que ela estava sentindo.
Balancei a cabeça, sentindo uma pontada de medo atravessar meu peito.
— Não estou brincando, Ana. E eu estou apavorada. Se for verdade, o que vai acontecer? E se a Nathalia descobrir? Ela... ela vai me largar, tenho certeza. E eu vou perder o que sempre quis reconquistar.
As palavras saíam desesperadas, carregadas de uma vulnerabilidade que eu raramente deixava transparecer. Meu coração parecia que ia explodir no peito. Ana Clara se aproximou, me puxando para um abraço apertado, e por um momento, o mundo parou de girar. Eu precisava daquele contato, precisava sentir que não estava sozinha nessa. Mas, ao mesmo tempo, o medo não me deixava em paz. O que eu faria se tudo realmente desmoronasse?
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Perdido ao sonho
Historical FictionQuando nos apegamos ao passado, o futuro promissor se obscurece sob o véu das lembranças, aprisionado entre os escombros do que já foi. É como se nossos sonhos, outrora radiantes e audaciosos, se perdessem na penumbra da nostalgia, enquanto nos enco...