Câmera Lenta

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A maldade incorporada molda o caráter, em momentos necessários isso pode nos deixar invencível. 


O dia havia sido exaustivo. Reuniões intermináveis, e-mails para responder, números para analisar. Mas a exaustão física era mínima perto da adrenalina que me percorria. A noite se aproximava, e o plano que tanto havíamos arquitetado estava prestes a ser posto em prática. Uma das peças estava a poucos quilômetros, em um escritório luxuoso no coração de Los Angeles.

Haylley e eu nos encaramos no espelho, ajustando os últimos detalhes. A ideia era chegar de surpresa ao escritório do advogado, o renomado e poderoso Daniel Baxter. Queríamos que ele nos visse como duas mulheres desesperadas, à beira do abismo, implorando por sua ajuda. A atuação seria a nossa arma, e a verdade, nossa maior aliada.

O prédio empresarial era imponente, uma construção de vidro e aço que refletia a ambição e o sucesso de seu proprietário. Ao entrarmos no saguão, fomos recebidas por uma recepcionista impecavelmente vestida, que nos analisou com um olhar avaliador. Com um sorriso encantador e uma quantia generosa, convenci-a a nos dar acesso imediato a Baxter.

-- Ela estava dando em cima de você! -- Haylley afirmou incrédula. -- Meu Deus, se você desse brecha... Não quero nem imaginar! 

-- Cala a boca Heylley! Não é hora pra isso! -- A repreendi divertida, soltei uma risada sincera e logo entramos no elevador. 

O coração batia forte no meu peito enquanto subíamos. A cada passo, a certeza de que estávamos no caminho certo se fortalecia. A porta se abriu, revelando uma sala espaçosa e elegante, com uma vista deslumbrante da cidade. O homem estava sentado atrás de sua mesa, um homem de meia-idade com um olhar penetrante e um sorriso cínico. Sua aparência era a de um profissional bem-sucedido, mas seus olhos escondiam uma frieza que me causava arrepios.

-- Direto ao ponto, senhorita Reis! -- Ele afirmou em seu tom profissional, mas havia um abismo de cinismo em sua voz. -- Não me faça perder tempo! 

Quando meus ouvidos infelizmente escutaram suas palavras e o seu tom autoritário, a raiva se instalou em meu corpo, eu não iria ficar por baixo, era questão de honra. 

-- Baxter meu caro, não é necessário tanta ignorância! -- Afirmei juntamente com uma risada crítica. -- Tempo é dinheiro, não? 

Após minhas palavras, o seu semblante mudou rapidamente e ali eu soube que eu tinha mexido mais uma peça em meu tabuleiro. Se ele gostava de dinheiro, ele estava conversando com a pessoa certa! 

Nos acomodamos no sofá de couro, e ele nos observou atentamente. Seu olhar se fixou em mim por um instante, e pude sentir uma pontinha de dúvida em seus olhos. Claro, ele me odiava, pois eu coloquei seu cliente atrás das grades e muito provavelmente ele morreu por consequência disso. 

-- Estou com um problema. E sei que o você é a única pessoa que pode me ajudar.

Baxter sorriu, mas era o tipo de sorriso que eu sabia ser carregado de cinismo e dúvida.

— E que tipo de problema traria uma empresária tão bem-sucedida a bater na minha porta, Nathalia? Você não está envolvida demais com... conflitos familiares? Ou será que isso é mais complexo? -- Ele questionou debochado, isso já estava me irritando. 

— Na verdade — interrompi, mantendo o olhar desesperado, mas deixando escapar um brilho calculado —, estou mais envolvida do que gostaria. Vou trabalhar com o cartel. 

Ele ergueu uma sobrancelha, intrigado, e pareceu mais interessado do que desconfiado.

— E o que exatamente espera de mim? Preciso de algo concreto, e, você sabe, nada aqui é feito de graça.

Perdido ao sonhoOnde histórias criam vida. Descubra agora