Eu estava sentada na cadeira de sempre, observando meu corpo inerte na cama do hospital. O quarto estava mergulhado em um silêncio pesado, apenas interrompido pelos monitores e os murmúrios ocasionais dos médicos. De repente, a porta se abriu, e Haylley entrou, os olhos vermelhos e inchados de tanto chorar. Sua presença era carregada de uma tristeza palpável.
Ela se aproximou e se sentou ao meu lado, sua postura era uma mistura de desespero e exaustão. Sua cabeça pendia para frente, e as lágrimas escorriam livremente por suas bochechas. Eu a observava, sentindo uma conexão crescente, um desejo profundo de poder fazer algo para confortá-la.
Em um murmúrio quase inaudível, Haylley começou a falar, sua voz carregada de um peso imenso:
- Não vai ser assim que vai terminar. Eu não fiz amizade com uma pessoa como você para simplesmente te perder em 3 anos de amizade. Eu não te mostrei o meu lugar preferido no mundo todinho para você simplesmente me largar sem ir comigo lá uma última vez. Não é assim que termina. Eu não vou te perder assim.
Ela fez uma pausa, um soluço a interrompendo, antes de continuar:
- Eu sinto sua falta. Sinto falta da sua risada exagerada, da sua voz, de como você olha para aquela maldita guitarra, como você a toca como se fosse a última vez. Eu sinto falta de tudo. Já faz três meses que você está aqui, assim. Eu só criei coragem para entrar nesse quarto porque sei que, se fosse eu, você passaria dias aqui, viraria madrugadas até eu acordar. Mas eu ainda não tinha criado coragem o suficiente. Aqui estou eu, desesperada por sua atenção, um sinal de que você não vai partir.
Ela respirou fundo, tentando controlar o choro, mas a dor estava estampada em seu rosto:
- O dia está tão lindo lá fora, mas aqui dentro chove. Eu não sei como lidar com isso, estou sofrendo sem você aqui. Tenho tanta coisa para te contar, tanta coisa para comemorar. Eu estou grávida, Nathalia. Vou ter um filho. Sei que o pai não quis assumir, mas isso, eu crio sozinha, com a ajuda dos meus amigos. Não preciso de ninguém. Só preciso de você. Volta, minha amiga, volta para nós. O mundo te espera. Eles estão te esperando. Eu estou te esperando. Sai dessa logo. Eu amo você.
Com essas palavras, Haylley se levantou, e as lágrimas continuaram a cair, transbordando sua alma com a tristeza que ela carregava. A dor em seu olhar era um reflexo do amor e da preocupação que ela sentia, e eu, embora inconsciente, senti a intensidade da sua emoção, como se suas palavras estivessem tocando uma parte profunda de mim. Ela se afastou, deixando o quarto, e a solidão voltou a me envolver, misturada com uma sensação de urgência e esperança.
Eu perambulava pelo hospital, vagando sem destino, sentindo um vazio imenso dentro de mim. A alma estava pesada demais, como se carregasse um peso que nunca pudesse aliviar. Voltei ao meu quarto, sentando-me na beirada da cama, tentando processar o que estava acontecendo.
A porta se abriu e Ana entrou. Ela parecia exausta, seu rosto carregava marcas de noites sem sono e de preocupação. Sem saber como reagir, eu a observei enquanto ela começava a falar.
— Eu estou tão desanimada. Venho ao hospital todos os dias, mas nunca consegui entrar aqui para te ver assim. Ultimamente, tenho perdido a fé em muitas coisas, mas ainda não perdi a fé em você. Eu ainda acredito que você vai sair dessa. Bom, eu não tenho muito o que dizer. Não tenho dormido muito bem nas últimas noites, para falar a verdade, nos últimos três meses. Tenho cuidado da Victoria, como você me pediu. Como ela está? Eu não sei te dizer. Não sei como está a sanidade da minha irmã. Ela se culpa todos os dias, se culpa por ter errado com você. Ela também não criou coragem para vir aqui. Está em total desespero.
Ela fez uma pausa, um suspiro pesado escapando dos seus lábios:
— Ela largou a faculdade de teatro, está seguindo o sonho dela, como você fez. A gente aprendeu tantas coisas com você. É engraçado como você é quem está aí, deitada, sem reação. Eu sinto muito por tudo, e eu vou te esperar. Sempre. Quando você acordar, eu estarei aqui. Sempre.
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Perdido ao sonho
Historical FictionQuando nos apegamos ao passado, o futuro promissor se obscurece sob o véu das lembranças, aprisionado entre os escombros do que já foi. É como se nossos sonhos, outrora radiantes e audaciosos, se perdessem na penumbra da nostalgia, enquanto nos enco...