A sensação de despertar no meio da viagem, envolta pelo zumbido monótono dos motores do avião, foi como emergir de um sonho para a realidade. Com a voz do piloto anunciando o pouso iminente, os últimos vestígios de sono se dissiparam, dando lugar à expectativa e à ansiedade. Ao descer do avião, um misto de emoções inundou meu ser. Aquele lugar desconhecido, com seus ares de novidade e promessa, despertava uma curiosidade latente em meu coração. A área de desembarque era repleta de rostos desconhecidos, mas entre eles, avistei a figura familiar de Bryan, meu antigo amigo.
Ligar para ele foi como abrir uma janela para o passado, relembrando os laços que nos uniam desde aquela viagem à Bahia há uma década. A conexão que estabelecemos naquela ocasião transcendeu as fronteiras geográficas, mantendo-nos próximos mesmo quando separados por longas distâncias. Bryan, agora estudante de Geologia na Austrália há cinco anos, era a âncora que eu precisava naquele novo capítulo da minha vida.
Enquanto aguardava sua resposta ao telefonema, uma sensação de familiaridade e gratidão se apossou de mim. Saber que tinha um amigo tão querido e próximo em um lugar tão distante me confortava, tornando a transição para essa nova fase menos assustadora e mais emocionante.
Assim que Bryan chegou, nos dirigimos para sua cobertura, que agora também seria minha morada temporária. Ele sempre me incentivou em tudo e implorou para que eu fosse morar com ele, afinal, seus pais haviam comprado aquele apartamento espaçoso para ele, mas ele se sentia solitário e acolheu a ideia de compartilharmos o espaço. A cobertura era impressionante, com seus quatro quartos, uma sala ampla e uma área externa que se estendia da porta de vidro da sala. Lá fora, uma mesa de sinuca, uma rede, um bar, uma mesa redonda e uma piscina completavam o cenário encantador. Ao contemplar o local, senti-me envolvida por uma mistura de gratidão e animação. Estava realizando meu sonho em um lugar que agora chamaria de lar, ao lado de um amigo que considerava como um irmão mais velho.
-- Meus pais compraram isso aqui para se verem livre de mim - disse Bryan com um sorriso brincalhão.
-- Não fala assim, você veio seguir seu sonho também. Eles só te ajudaram - respondi.
-- Mas você gostou da sua nova casa?
-- Eu amei! Tem como ser melhor? Estou no lugar que sempre sonhei, com um amigo que considero como um irmãozinho mais velho.
-- Que bom. Eu sei que você deve estar cansada, mas tenho uma festa da faculdade hoje à noite. Se quiser me acompanhar, aproveitar para conhecer novas pessoas, novas mulheres... quem sabe, né? - ele disse, rindo.
-- Que cansada o quê! Estou bem demais. Só dormi no voo. Eu quero ir sim, conhecer mais uma parte desse novo mundo - respondi animada.
-- Então bora se arrumar porque são 6:00 e a festa começa às 9:00. Até você arrumar suas roupas no closet vai demorar. Então, bora, que eu te ajudo e escolho sua roupa também - disse ele, com um sorriso brincalhão.
Assim, fui para o meu quarto, maravilhada com o espaço que agora chamaria de meu. Bryan tinha sido generoso o suficiente para me deixar escolher um dos quartos, e eu rapidamente organizei minhas coisas antes de tomar um banho revigorante.
Quando saí do banho, encontrei a roupa escolhida por Bryan cuidadosamente arrumada sobre a cama. Era uma blusa preta, uma calça jeans clara e um par de tênis pretos, provavelmente dele. Me vesti rapidamente e, ao verificar o relógio, percebi que já estava na hora de irmos para a festa. Após um rápido lanche na cozinha, partimos juntos.
Bryan era mais do que um amigo; era como um irmão para mim. Seus conselhos e apoio eram inestimáveis, e eu o admirava profundamente. Alto, estiloso e de cabelos castanhos que refletiam uma tonalidade loira ao sol, ele irradiava confiança e carisma.
Chegamos à festa, onde Bryan cumprimentou algumas pessoas conhecidas. Ele nos apresentou como irmãos, o que gerou risos e conversas animadas entre os presentes. Conheci Victoria, Ana e Hailley, bem como Piter e Bruce, em uma atmosfera de boas-vindas e alegria. A noite se desenrolava animada ao redor da mesa de sinuca naquela casa onde a festa estava apenas começando. Entre risadas e conversas, Victoria me chamou para buscar bebidas com ela, e eu prontamente aceitei, ansiosa para me enturmar ainda mais.
-- Então, Priscila, você é brasileira? - perguntou Victoria com um sorriso acolhedor.
-- Sim! Pode me chamar de Pri... Como você sabe disso? - respondi, curiosa.
-- Porque eu também sou brasileira, sou de Araguari, Minas Gerais - revelou Victoria, compartilhando um vínculo instantâneo.
-- Que coincidência! Eu sou de uma cidade próxima a BH. Somos duas mineirinhas então. - comentei, sentindo uma conexão imediata se formar entre nós.
Victoria me guiou até a área das bebidas, onde pegou uma garrafa de tequila. Ao retornarmos à rodinha, ela propôs que, como tradição do grupo, eu tomasse duas doses para comemorar minha chegada. -- Acho justo! - concordaram todos, e logo tomei as doses oferecidas, seguidas de mais algumas, ao ritmo da festa que ganhava vida ao nosso redor.
Entretanto, conforme a noite avançava e as doses se acumulavam, eu percebi que precisava moderar meu consumo para evitar problemas. Enquanto dançávamos e ríamos, uma sensação de saudade repentina me invadiu, e eu senti falta dos meus amigos de volta ao Brasil.
Decidi ligar para eles e, afastando-me um pouco da agitação, compartilhei um momento de conexão e nostalgia com Luiz, Duda e os outros. Após encerrar a ligação, uma voz suave interrompeu meus pensamentos, e eu me virei para encontrar Ana Clara, com seus olhos de jabuticaba e um sorriso gentil.
-- Priscila, tudo bem? - cumprimentou ela, emanando uma energia acolhedora.
Assim, mergulhamos em uma conversa fluida, compartilhando histórias e risadas enquanto nos conhecíamos melhor. Ana era encantadora, com seu senso de humor cativante e sua voz melodiosa. Enquanto conversávamos, senti uma mistura de emoções me envolver: saudade, excitação e uma pitada de incerteza em relação ao futuro. Mas, no fundo, eu sabia que estava no caminho certo, seguindo meu coração e abraçando as possibilidades que se apresentavam diante de mim.
Eu tinha deixado minha cidade natal para trás em busca de novas experiências e aprendizados, e ali, naquela festa animada em terras estrangeiras, eu me sentia viva, pronta para explorar tudo o que o destino reservava para mim. No cair da noite, enquanto a música pulsava ao nosso redor e as risadas ecoavam na brisa noturna, eu sabia que ainda havia muito a descobrir, muito a viver. E com um sorriso nos lábios e o coração cheio de esperança, eu me entreguei ao momento, confiante de que o melhor estava por vir.
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Perdido ao sonho
Ficção HistóricaQuando nos apegamos ao passado, o futuro promissor se obscurece sob o véu das lembranças, aprisionado entre os escombros do que já foi. É como se nossos sonhos, outrora radiantes e audaciosos, se perdessem na penumbra da nostalgia, enquanto nos enco...