Após a exaustiva troca de palavras, senti meu coração agitado, como um pássaro em busca de liberdade. Com esforço para acalmar os tumultuados batimentos, virei-me lentamente, buscando a saída daquela cena impetuosa. Cada passo era uma dança entre a vontade de partir e o anseio de ficar, uma batalha interna entre o desejo e a razão.
A luz suave do ambiente banhava-me em tons dourados, enquanto o silêncio pesado pairava no ar, ecoando como um lamento sutil. Cada respiração era um eco das emoções contidas, um sussurro na vastidão do universo. Meus passos ecoavam na quietude, marcando o compasso de uma despedida não dita, mas sentida.
- Ei! -- Nathalia me chamou novamente insistindo em continuar aquela conversa. -- Não precisa ser assim, não precisa brigar e me ofender desse jeito.
- Eu desisto de tentar me justificar, você nunca me escuta mesmo. Você nunca leva os meus apelos em conta, se pra você já deu a muito tempo, então porque está vindo atrás assim. -- Tentei pela terceira vez sair daquela conversa.
- Eu senti saudades.
- Era só o que me faltava, você sentir saudades. -- Soltei uma risada irônica acompanhada com uma cara de poucos amigos. -- Essa piada não tem mais graça pra mim! Nathalia, você vai se casar. -- Disse com um pouco de tristeza em minha voz.
- Qual o problema de sentir?
- Não tem problema nenhum se permitir sentir, mas se lembre, você está com outra pessoa. -- Afirmei decepcionada com suas atitudes.
- Se eu me permitir sentir tudo novamente, até onde você iria? -- Essa pergunta me pegou em cheio e isso deixou todo o meu intimo bagunçado. Respirei entre um segundo e outro e disparei a falar novamente.
- E se você se permitir ir embora de novo? Sinto muito Nathalia. Agora é tarde demais, eu te esperei por muito tempo, mas para a sua felicidade eu deixei tudo ir embora! As lembranças continuam todas aqui e me sinto leve em carrega-las comigo, mas não se engane! São apenas lembranças.
-- Não se engane meu bem, sei que você ainda me ama.
-- Agora não é o momento de me afogar nos remorsos do passado. Eu finalmente estou indo atrás do que verdadeiramente almejo, trilhando o caminho que conduz à minha essência. É hora de me priorizar, mesmo que isso signifique deixar para trás as sombras que me assombram.
E, assim como uma folha ao vento, entreguei-me ao destino incerto, deixando para trás o eco dos sentimentos não ditos e seguindo em busca da calmaria que só o tempo e a distância podem proporcionar. Dessa vez, o baque veio sem aviso, mas meus amigos, sempre presentes em momentos de turbulência, surgiram em alvoroço, indagando se eu estava inteira ou se tinha sucumbido às agruras da noite. Senti um peso sair dos ombros ao expressar minhas verdades, mas não permiti que essa discussão me arrancasse da festa. Decidi permanecer, afinal, não era uma disputa que me roubaria o prazer de aproveitar a noite.
Nos recantos da casa de Gabriel, onde a música ainda ecoava, nos perdemos na dança da madrugada. O tempo se desvaneceu em risos e confidências, e ao despertar, ao sol já alto, encontramo-nos espalhados pela residência, como peças de um quebra-cabeça festivo.
As lembranças da noite anterior flutuavam em minha mente turva, enquanto uma ressaca inclemente atormentava minha cabeça. Era um despertar digno de lamentações, mas ainda assim, decidimos que a única maneira de encarar o dia era rebatendo o que ainda restava das nossas aventuras noturnas.
Cheguei em casa sob a luz suave do entardecer, exausta até a medula. Após um banho revigorante, lancei-me aos braços de Morfeu, ansiando pelo conforto do sono reparador.
Ao amanhecer do dia seguinte, a campainha tocou incansavelmente, arrancando-me dos braços do sono. Após um salto da cama, atendi à porta, deparando-me com a figura de Duda, que ali se encontrava com um sorriso travesso e uma bagagem de histórias para compartilhar. Era um daqueles momentos em que o destino, entre suas brincadeiras, nos presenteava com um encontro imprevisto, regado a risadas e lembranças.
- Amiga, se arruma ai! -- A mulher já adentrou o meu apartamento jogando mil informações ao vento. -- Hoje tem feira de cultura e nós precisamos comparecer.
- Bom dia pra você também! -- Meu humor estava instável e bastante duvidoso, eu odiava ser acordada as pressas.
-- Vá tomar um banho enquanto escolho suas roupas! -- Duda afirmou ja me guiando para dentro do banheiro e fechando a porta logo em seguida.
O dia despontou radiante, pontuado pelo relógio que marcava onze horas quando deixamos nossas moradas. Eu, envolta em cansaço, questionava em silêncio como Duda possuía tal vigor. Chegando ao destino, deparamo-nos com uma multidão, um mosaico de rostos que compunham a tapeçaria da cidade, adornada por turistas em busca de suas próprias aventuras. Entre risos e conversas, mergulhamos na atmosfera vibrante, tecendo memórias ao lado de amigos que eram como uma constelação guia em nossa jornada. O sol se pôs e a lua testemunhou nossos momentos de harmonia, abençoando-nos com a paz que só a música e a amizade podem proporcionar. A rodinha de violão, sintonizada em acordes de serenidade, envolveu-nos em uma aura mágica, onde o tempo parecia estacionar para contemplar nossa sinfonia de vida.
Na manhã seguinte, ao despertar para mais um dia de desafios acadêmicos, decidi dar uma olhada rápida em meu e-mail. Mal sabia eu que ali encontraria o convite que mudaria o curso de minha trajetória. A Universidade de Sydney, em suas linhas digitais, abria as portas para um novo capítulo em minha vida, oferecendo-me uma bolsa integral e a oportunidade de estagiar em uma renomada instituição de Biologia na terra dos cangurus.
Devo aceitar? Devo seguir o chamado dos meus sonhos, deixando para trás os vestígios do passado e abraçando o fulgor de um futuro promissor? A resposta, embora desafiadora, encontra-se no eco do meu coração, pronto para desbravar horizontes desconhecidos e desvelar os segredos que aguardam minha descoberta.
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Perdido ao sonho
Historical FictionQuando nos apegamos ao passado, o futuro promissor se obscurece sob o véu das lembranças, aprisionado entre os escombros do que já foi. É como se nossos sonhos, outrora radiantes e audaciosos, se perdessem na penumbra da nostalgia, enquanto nos enco...