Quando a porta se abriu, eu a vi entrar, seu rosto pálido e seus olhos marejados. Ela se sentou ao lado da cama, e ao vê-la ali, um turbilhão de sentimentos tomou conta de mim. A visão dela, seu jeito, seu sorriso, tudo voltou de uma vez só. Ela começou a chorar, um choro profundo e sincero, que me fazia sentir a dor dela, uma dor que parecia ter sido minha também. Mas então, ela parou, olhou para mim e sorriu. Aquele sorriso largo, aquela voz familiar, tudo parecia tão distante, tão fora de alcance depois de três anos.
Priscila começou a falar, sua voz carregada de emoção:
— Como é difícil, Nathalia. Eu tento te esquecer, mas tudo o que escrevo é sobre você. Eu não podia me enganar e dizer que te esqueci. Eu jurei que não iria te ver, visitar você ou correr atrás de você. Só te receberia novamente se o destino quisesse. Mas olha aonde chegamos. Você está em coma por causa de uma maldita carta que eu resolvi escrever como despedida.
Ela fez uma pausa, limpando as lágrimas que ainda escorriam pelo rosto. A dor que eu sentia ao vê-la assim era imensa. Priscila continuou:
— Nesses três anos, passei procurando em outra pessoa o que você me dava, mas percebi que não havia ninguém como você. Não havia ninguém que pudesse me fazer mais feliz. Desisti, então, e dediquei minha vida à minha profissão. Hoje eu tenho uma das maiores clínicas do país. Tenho orgulho disso. E tenho orgulho de você, por ter realizado seu sonho e conquistado tudo o que queria.
A voz de Priscila ficou mais suave, mas a dor ainda era evidente:
— Aprendi com você que o fim é necessário, que precisamos trilhar novos caminhos, olhar para frente e continuar sempre. Eu tentei me refazer sem você, eu tentei. Mas eu ainda te amo, ainda quero ter você em minha vida, não importa como for. Mesmo depois de tanto tempo sem ouvir sua voz, sem saber por onde você andava, eu podia sentir a sua alma. Isso me aquietou por todo esse tempo. Aprendi isso com você, que quando duas almas se encontram, elas nunca são esquecidas, sempre podem ser sentidas.
Ela fez uma pausa, olhando para mim com um misto de esperança e tristeza:
— Hoje você está aqui, e eu sei que vai sair dessa. Mas eu queria vir aqui para te dizer que estou viva, torcendo por sua felicidade, independente de com quem for. Eu te encontro na próxima volta do mundo, Nathalia. Vai ser feliz. Estarei torcendo por você, por toda a minha vida. Eu te além...
Com essas palavras, Priscila se levantou e se dirigiu em direção à porta. O impacto das suas palavras e a sinceridade da sua visita foram como um balde de água fria. Eu sentia uma mistura de tristeza e gratidão por suas palavras, pela lembrança de um amor passado que ainda a afetava, e pela forma como ela ainda se importava. A cena dela saindo do quarto, me deixou com um desejo profundo de abraçá-la e agradecê-la, mas eu sabia que não era possível. Só restava esperar e torcer para que, de algum modo, tudo aquilo pudesse se resolver
Eu sentia uma dor de cabeça enorme, como se uma pressão constante estivesse esmagando meus pensamentos. A luz refletia em meus olhos, tornando tudo confuso e difícil de focar. Meu corpo estava pesado, e uma dor aguda percorria cada parte de mim. Mas então, uma fragrância familiar de perfume me envolveu, e percebi que havia algo diferente. Eu havia despertado do coma.
A visão ainda estava turva, mas consegui ver Priscila se levantando para sair. Eu, com um esforço imenso, consegui murmurar:
— Como assim você vai embora de novo sem me dar a chance de dizer um adeus?
Priscila parou abruptamente, com os olhos arregalados. Ela se virou para mim, a surpresa estampada em seu rosto.
— Eu não acredito, meu Deus, eu preciso chamar um médico. Você se levantou. Aí meu Deus, obrigada. Eu sou grata por tudo. — Priscila estava empolgada, lágrimas escorrendo pelo rosto.
— Me diga, Priscila, como você soube do meu estado? Quem te chamou aqui? — Perguntei, sorrindo ao ver a felicidade em seus olhos.
Antes que Priscila pudesse responder, a porta se abriu novamente e Victoria entrou, seus olhos marejados e o rosto pálido de emoção.
— Fui eu, eu sabia que ela faria diferença. Testei a sorte, minha última carta — Victoria disse, sua voz tremendo com uma mistura de alívio e tristeza.
Priscila sorriu para Victoria e para mim antes de se levantar, dizendo:
— Você acerta mais uma vez. Eu já vou indo mais uma vez. Até a próxima volta, Nath.
Ela saiu do quarto, e eu me senti envolvida por uma mistura de emoções intensas. Olhei para Victoria, e a dor e a gratidão no meu coração eram quase insuportáveis. Eu precisava dizer algo, precisava expressar tudo que estava guardado dentro de mim.
— Eu te amo tanto, Vi. Eu escutei tudo, eu vi tudo. Eu te perdoo. Vamos recomeçar. Eu te amo e te amarei na próxima vida também, meu Dengo. Por favor, não deixe o nosso nós acabar.
As palavras saíram com dificuldade, mas com uma sinceridade profunda. Eu estava pronta para lutar pelo nosso amor, para recomeçar e reconstruir o que havíamos perdido. Eu sabia que o caminho à frente seria difícil, mas a esperança de um futuro juntos, de um novo começo, me dava forças para seguir em frente.
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Perdido ao sonho
Fiksi SejarahQuando nos apegamos ao passado, o futuro promissor se obscurece sob o véu das lembranças, aprisionado entre os escombros do que já foi. É como se nossos sonhos, outrora radiantes e audaciosos, se perdessem na penumbra da nostalgia, enquanto nos enco...