Certeza

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Não sei se você se importa, mas eu sinto sua falta...

Depois de passar a manhã em Toronto para pegar as coisas de Priscila, finalmente estávamos a caminho do aeroporto. As malas estavam devidamente empacotadas e eu sentia uma mistura de alívio e excitação por estar prestes a seguir para a Austrália com Priscila, que, para minha surpresa, parecia estar aproveitando cada momento da jornada.

— Você se lembrou de pegar o carregador? — Priscila perguntou enquanto olhava para as malas.

— Sim, já está aqui. E você, trouxe todas as suas tralhas de veterinária? — Perguntei, com um tom de provocação.

— Ah, claro. E quem diria que eu tinha tanto equipamento? Você deve saber o que é isso, sempre carregando seu monte de guitarras e pedais. — Priscila riu.

— Nem me fale. Lembra quando tentei levar a guitarra para o palco, e a gente teve que desmontar metade do ônibus de turnê só para encaixá-la? — Comentei, rindo da lembrança.

— E você sempre fazia aquele drama, como se fosse uma questão de vida ou morte. — Priscila brincou. — Como se alguém pudesse tocar a guitarra melhor do que você, né?

— Oh, isso é verdade. Eu sou uma diva da guitarra, você sabe. — Falei com um sorriso.

— Diva é ótimo, mas eu ainda me lembro do seu primeiro show quando você estava tão nervosa que quase derrubou o amplificador. — Priscila riu.

— E você estava lá para me lembrar disso a cada chance que tinha. — Retribui, rindo também. — Quem diria que acabaríamos aqui, décadas depois, rindo do passado?

Nos divertimos muito durante a viagem para o aeroporto, relembrando os velhos tempos e nos atualizando sobre nossas vidas. Eu estava tão envolvida na conversa que mal percebi o tempo passar.

Enquanto Priscila estava contando uma história engraçada sobre um de seus clientes no consultório veterinário, meu celular vibrou. Olhei para a tela e vi que era Ana Clara, uma mensagem que parecia urgente.

— Espera um minuto, Priscila. — Peguei o telefone e atendi. — Oi, Ana, o que houve?

— Nathalia, preciso te avisar rápido. A Victoria está indo embora. Ela está indo para o aeroporto e não sei se você consegue chegar a tempo. É uma chance de tentar reconquistá-la antes que seja tarde demais. — A voz de Ana estava carregada de preocupação.

— O quê? — Eu disse, tentando processar a informação. — Mas eu estou aqui no Canadá com a Priscila. Como vou chegar a tempo?

— Eu sei, mas achei que valia a pena tentar. — Ana respondeu, com um tom de encorajamento.

— Ana, eu confio no destino. Estou aqui com a Priscila, relembrando os velhos tempos e me recuperando de tudo. Não quero ir correndo atrás de algo que talvez não tenha mais sentido. Se o destino quiser que eu encontre Victoria novamente, então que assim seja. — Disse, com uma firmeza que até eu mesma fiquei impressionada.

Priscila estava observando, curiosa.

— O que aconteceu? — Ela perguntou, pegando a deixa de minha expressão preocupada.

— Ana me disse que Victoria está indo embora e queria que eu tentasse encontrá-la antes que partisse. Mas eu já estou aqui com você, e sinceramente, confio que o destino encontrará uma maneira de nos reunirmos novamente se for o certo. — Expliquei.

— É, acho que o destino gosta mesmo de brincar com a gente. Mas, ei, se você acha que está na hora de deixar as coisas acontecerem naturalmente, eu apoio você. — Priscila disse, com um tom encorajador.

— Você sempre foi a mais sensata. — Comentei, admirando sua calma.

— E você sempre foi a mais impulsiva. — Priscila brincou. — Lembre-se daquela vez em que você quase decidiu mudar toda a setlist da turnê na última hora?

— Ah, não me lembre disso. O que foi aquela ideia, hein? — Rimos juntas, a tensão do momento se dissipando.

— Então, vamos continuar com nossa viagem. Se Victoria e eu estivermos destinadas a nos encontrar novamente, com certeza haverá uma maneira. — Disse, decidida.

Priscila assentiu, e continuamos nosso caminho para o aeroporto, os risos e as memórias antigas nos acompanhando. O destino havia nos reunido de novo, e eu acreditava que, de alguma forma, ele também cuidaria das coisas com Victoria. Por agora, o que importava era aproveitar o momento presente com uma amiga que havia sido tão importante na minha vida e que agora estava ao meu lado, compartilhando uma nova jornada.

No voo para a Austrália, enquanto a aeronave cortava as nuvens, meu pensamento estava completamente voltado para Victoria. Eu me peguei revisitando memórias, pensando se ela ainda teria o mesmo número de celular, se seu telefone ainda era o mesmo que eu conhecia. A ideia de enviar uma mensagem surgiu em minha mente, mas logo a deixei de lado. A decisão de não agir imediatamente se baseava na confiança que tinha no destino. Se fosse para encontrá-la novamente, acreditava que o universo faria o trabalho por si só.

Olhei para Priscila, que estava ao meu lado, folheando uma revista de bordo. Estávamos em uma fase descontraída da viagem, e eu precisava compartilhar meus pensamentos.

— Priscila, você acha que a Ana vai contar para Victoria que estamos juntas? — Perguntei, com uma preocupação que estava me incomodando.

Priscila olhou para mim, pensativa.

— Eu não tenho certeza. Ana pode ficar surpresa ao saber que estamos viajando juntas, mas eu não sei como Victoria reagiria a isso. — Ela respondeu. — Mas, pelo que me lembro, Ana te conhece bem. Ela sabe que você ainda tem sentimentos por Victoria. Talvez a mensagem que você recebeu tenha sido uma tentativa de garantir que, se houvesse uma chance, você pudesse agir.

— É isso que eu estou pensando. Ana deve ter percebido que ainda havia uma esperança em mim, e provavelmente sabia que Victoria também poderia estar em um lugar onde ainda tinha algo por mim. — Comentei, pensando alto. — Mas agora, acho que não é a hora certa para qualquer tipo de reaproximação.

— Faz sentido. Às vezes, o destino precisa de mais tempo para girar a roda. — Priscila concordou.

— Sim, e tem algo mais. Até onde sei, Victoria está com outra pessoa agora. — Continuei. — Não seria justo para ela ou para mim tentar intervir ou complicar as coisas. O que tivemos foi maravilhoso, mas agora é diferente. Sei que esse é o momento de deixar o mundo girar e ver onde ele nos leva.

Priscila sorriu de maneira compreensiva.

— Entendo. E eu concordo com você. Às vezes, a melhor coisa a fazer é permitir que as coisas se desenrolem naturalmente. Se você e Victoria estiverem destinadas a se encontrar novamente, isso acontecerá quando for o momento certo.

— É, exatamente. Eu só queria que Ana e Victoria soubessem que estamos aqui como amigas. Eu queria deixar claro que não há mais um propósito escondido. — Refleti.

— É uma boa ideia. Manter a clareza e a honestidade pode evitar mal-entendidos e ajudar a suavizar qualquer situação complicada que possa surgir. — Priscila disse.

— Concordo. E mesmo que eu tenha sentimentos antigos, tenho que respeitar a nova fase da vida de Victoria e a minha também. — Disse, sentindo uma leveza ao compartilhar meus pensamentos com Priscila.

Nos acomodamos para o restante do voo, a conversa entre nós fluindo com naturalidade. O mundo continuava a girar e, por agora, o que importava era a nova jornada que estávamos prestes a embarcar. A confiança no destino e o respeito pelas escolhas de todos eram fundamentais. Enquanto o avião avançava rumo à Austrália, eu sabia que, se o destino tinha algo mais reservado para mim e para Victoria, ele se revelaria no momento certo.

Perdido ao sonhoOnde histórias criam vida. Descubra agora