Talvez um Adeus

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Enquanto dirigia, a escuridão da estrada se misturava com a escuridão do que eu sentia por dentro. Meu coração estava apertado, como se estivesse sendo espremido a cada quilômetro que me afastava de Nathalia. Deixá-la ali, sozinha, sabendo que ela provavelmente não sairia viva, era uma das piores sensações que já experimentei. Mesmo que Nathalia tivesse dito que tudo ficaria bem, que voltaria pela manhã... no fundo, eu sabia que ela estava me dizendo adeus. Mas, ao mesmo tempo, queria acreditar. Eu precisava acreditar.


Dirigi por quatro horas, em completo silêncio, com os pensamentos mergulhados em cada detalhe daquela despedida. Quando finalmente cheguei à casa de campo, a madrugada ainda pairava, escura e silenciosa. Assim que estacionei, vi Ana Clara e Victória sentadas na varanda, com os rostos tensos e os olhos assustados. Elas se levantaram rapidamente ao me ver sair do carro, e antes que qualquer uma dissesse algo, fui direto até elas e as abracei forte.


— Tá tudo bem, tá tudo certo, pelo menos até onde eu sei — murmurei, tentando conter a emoção na voz. — Ela prometeu que estaria aqui pela manhã.


Ana Clara me soltou e me encarou, as sobrancelhas franzidas em preocupação.— Haylley... — ela começou, a voz embargada. — Onde ela tá agora? O que aconteceu? Você deixou ela sozinha? -- Suspirei, passando a mão pelos cabelos, tentando achar as palavras certas.


— Ana, a Nathalia... Ela precisava resolver umas coisas antes de voltar. — Evitei os detalhes, mas sabia que Ana não se contentaria com meia explicação.


— Que tipo de coisa? — insistiu, com os olhos cheios de ansiedade. — Você sabe que ela não é uma pessoa que foge das coisas. Haylley, ela te disse alguma coisa? Ela tá segura?— Ana, eu juro, ela sabia o que estava fazendo — respondi, apertando a mão dela numa tentativa de acalmá-la. — Ela me disse que voltaria pela manhã, ok? Ela não é burra. Se ela disse que ia voltar, eu... eu confio.


Victória, que até então estava em silêncio, olhava para o chão, tentando manter a calma. Mas eu podia ver a tensão em seus ombros, a mão trêmula segurando o batente da porta.— Haylley... — ela sussurrou, quase como se tivesse medo da resposta. — Você acha que ela vai mesmo voltar?


— Eu... — engoli em seco, procurando qualquer vestígio de certeza dentro de mim. — Eu acredito que sim. A Nathalia é a pessoa mais inteligente e teimosa que eu conheço. Se ela disse que vem, ela vem. Ela só precisa de tempo.


Mas conforme o dia amanhecia, o vazio crescia. Nathalia não aparecia, e o silêncio dela era cada vez mais ensurdecedor. Os minutos se transformaram em horas, e meu telefone não tocava. Tentei ligar para ela, mas só escutava a mesma mensagem automática de "número desligado". O nervosismo aumentava a cada segundo, e eu já não sabia o que dizer para tranquilizar as meninas.


Quando o relógio chegou perto da tarde e ainda nada, decidi ligar para o agente. Minha mão estava trêmula, e o coração disparado enquanto esperava ele atender.


— Alô? — Sim, Haylley. Alguma novidade? — respondeu ele, num tom profissional e impassível.— Nenhuma — engoli em seco. — Nathalia... ela ainda não voltou. E o telefone dela tá desligado. Vocês... vocês sabem de algo? Alguma coisa deu errado?Houve uma pausa, e ouvi ele suspirar.— Juarez foi encontrado morto. Tudo indica que foi ela... — a voz dele hesitou por um instante. — Mas não temos sinais de Nathalia depois disso. Ela simplesmente... sumiu.Meu coração despencou, e tive que me apoiar na parede para não cair. Juarez estava morto, mas... e ela? Se estava viva, onde estava?

Perdido ao sonhoOnde histórias criam vida. Descubra agora