Os dias se desenrolavam rapidamente, e quando me dei conta, já haviam se passado quatro semanas desde que comecei minha jornada. Meus dias eram preenchidos com atividades que eu amava: pela manhã, frequentava a faculdade, mergulhando nas profundezas do conhecimento acadêmico; à tarde, dedicava-me ao estágio em uma renomada instituição de Biologia, onde podia colocar em prática tudo o que aprendia nas salas de aula. E ao retornar para casa, por volta das sete da noite, sentia uma gratidão imensa por cada experiência vivida.
Durante esse período, conheci diversas pessoas, mas uma em especial havia conquistado um lugar especial em meu coração: Haylley. Com sua origem em Byron Bay, uma pitoresca cidade litorânea localizada a algumas horas de Sydney, Haylley irradiava uma energia contagiante. Seus cabelos castanhos dançavam ao sabor do vento, enquanto seus olhos verdes pareciam esconder segredos do mar. Ela possuía o charme inegável das mulheres do cinema, aquelas que protagonizam as histórias e deixam uma marca indelével em nossas memórias. Nossa amizade florescia a cada dia, e entre risos e brincadeiras, compartilhávamos nossas vivências e sonhos.
Além de Haylley, também estreitei laços com Victoria e Ana. Apesar de não termos mais tocado no assunto do incidente na festa da represa, nossa convivência fluía naturalmente. Victoria, com sua personalidade vibrante e avessa a compromissos, não me tratava de forma diferente, e eu me sentia confortável em sua presença. Aquela noite havia sido um divisor de águas, mas optamos por seguir em frente, cultivando uma amizade sincera e desprovida de ressentimentos.
Esses novos relacionamentos preenchiam meu coração de gratidão e contentamento. Eu estava exatamente onde precisava estar, rodeada por pessoas que me inspiravam e me faziam crescer. A vida, com sua imprevisibilidade e beleza, revelava-se diante de mim, e eu acolhia cada momento com gratidão e serenidade.
O despertador irrompeu o silêncio da manhã, anunciando que finalmente era sexta-feira. Com um suspiro, ergui-me da cama, observando o horário: 6:00. Minha primeira aula começaria às 7:35, então aproveitei para tomar um rápido banho antes de seguir para a cozinha em busca do café matinal. Bryan já estava acordado, pronto para encarar mais um dia de faculdade. Enquanto ele se preparava para sua jornada de ônibus até a instituição, eu me aprontava para conduzir o carro até lá, como de costume.
Ao adentrar a faculdade, fui recebida por Haylley, que aguardava minha chegada na entrada.
-- Animada para o fim de semana? - indagou ela, seu tom de voz carregado de entusiasmo.
-- Com certeza, mal posso esperar para nos reunirmos na casa da praia com toda a turma - respondi, contagiada por sua empolgação.
-- Lembrando que estou indo com você no carro - Haylley interveio, interrompendo minha linha de pensamento. Surpresa com a mudança de planos, questionei a ausência de David, seu então acompanhante.
-- Não cite mais o nome dele... nós terminamos - Haylley declarou, um lampejo de tristeza atravessando seu olhar. - Ele foi um completo babaca. Você se importa se eu for com você no carro?
Compreendendo sua situação, concordei prontamente, prometendo acompanhá-la até sua casa após as aulas para que pudesse recolher seus pertences. Ao longo do dia na faculdade, o tempo parecia se desenrolar rapidamente, e logo estávamos a caminho da casa de Haylley para dar início à nossa viagem.
Durante o trajeto, Bryan aproveitou para brincar sobre a possibilidade de eu me envolver novamente com Victoria, provocação que prontamente rejeitei, enfatizando nossa amizade. Haylley, por sua vez, propôs uma aposta envolvendo a mesma temática, à qual recusei prontamente, ciente de que não me deixaria influenciar por jogos de apostas.
Ao chegarmos a Byron Bay, a cidade natal de Haylley, fomos recebidos pela beleza cênica das praias locais. Com a ajuda de todos, descarregamos o carro e nos instalamos na casa de praia. Os cumprimentos e abraços calorosos entre amigos nos inundaram de calor humano, dissipando qualquer resquício de cansaço da viagem. Foi então que Haylley me chamou para uma conversa particular, revelando sua intenção de me levar até um lugar especial para ela. Sem hesitar, aceitei o convite, e juntas embarcamos em uma caminhada rumo ao destino desconhecido. O silêncio entre nós era confortável, e enquanto percorria cada trilha e admirava cada detalhe da cidade, eu me permitia mergulhar na contemplação da natureza ao meu redor.
Chegando ao nosso destino, fomos presenteadas com a visão deslumbrante de uma pequena praia cercada por imponentes rochedos. O cenário era um verdadeiro espetáculo da natureza, uma composição perfeita entre o céu e o mar, e eu compreendi, finalmente, o motivo da paixão de Haylley por aquele lugar.
Gostou do lugar?
-- É simplesmente espetacular. Estou completamente encantada. -- Afirmei observando atenta cada detalhe.
-- Descobri esse lugar quando tinha 14 anos. Desde então, nunca mais encontrei nada que se comparasse.
Sentamo-nos em uma pedra plana, como se fosse um banco natural, e comecei a dedilhar meu violão, entoando as notas de "Counting Stars" do One Republic. Assim, passamos o final da tarde, cantando e contemplando cada matiz do pôr do sol.
-- Acho que devemos ir agora. Victoria provavelmente está preocupada e com ciúmes. -- A garota afirmou com um sorriso irônico me fazendo revirar os olhos.
-- Ela deve estar mais para bêbada do que preocupada. Por favor, controle essa língua afiada perto dos outros, ok?
-- Não sei do que está falando, pode confiar em mim... Ah, e já que estamos na rua, que tal passarmos em uma loja para comprar mais tequila? Quero ver você bêbada e Victoria cuidando de você.
-- Claro, vamos comprar mais. Para você beber e eu cuidar de você, certo? -- Disse com uma certa empolgação rindo também do desenrolar da conversa.
Assim, saímos e adquirimos mais duas garrafas de tequila. Ao retornarmos para a casa, já passava das sete. Ao entrar na sala, meu olhar automaticamente encontrou o de Victoria, que estava sentada no sofá com uma garrafa na mão. Seu sorriso desapareceu ao me ver acompanhada de Haylley. "Ao ciúmes", cochichou Haylley em meu ouvido.
Depois de um rápido banho, desci para juntar-me à festa, junto com Haylley. Bryan já estava um pouco alterado, Ana decidiu esperar por mim antes de começar a beber, enquanto Victoria e os outros estavam na área externa perto da piscina, aproveitando a noite.
-- Já pegou os copos? -- Ana me questionou com um sorriso travesso.
-- É claro, mas antes uma dose de tequila para dar início à noite. -- Prontamente respondi virando a dose e sentindo a bebida descer quente pela garganta.
-- Ana Clara, Ana Clara, você não vai conseguir acompanhar a Priscila -- Haylley apareceu na conversa debochando da menor, fazendo todos rirem após sua fala.
-- Claro que vou! Eu consigo sim, quer apostar? -- Ana rapidamente retrucou a fala de Haylley.
-- Eu aposto um beijo em alguém da casa que você não aguenta.
-- Mas você, Hay, vive de apostas. -- Disse dando um sermão na de olhos verdes.
-- Fechado! E em quem?
-- No Luke. -- Eu e Haylley falamos juntas.
-- Na verdade eu queria beijar outra pessoa. -- Ana afirmou fitando meus olhos em forma de flerte e isso me deixou bastante intrigada.
-- Parece que alguém está de olho em você. -- A de olhos verdes afirmou assim que Ana Clara sai. -- Nem me olha assim, você viu com seus próprios olhos.
-- Eu não posso! -- Afirmei quando meu pensamento foi diretamente para a loira. -- Victoria ficaria chateada e eu não gosto dessa possibilidade.
Só de pensar na possibilidade de magoar Victoria o meu coração errava as batidas, eu não queria e não podia. Realmente, seria um fim de semana longo e uma noite ainda mais longa.
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Perdido ao sonho
Historical FictionQuando nos apegamos ao passado, o futuro promissor se obscurece sob o véu das lembranças, aprisionado entre os escombros do que já foi. É como se nossos sonhos, outrora radiantes e audaciosos, se perdessem na penumbra da nostalgia, enquanto nos enco...