Baile de Gala

1 0 0
                                    


Após uma semana de buscas incessantes e noites sem dormir, finalmente encontrei a resposta que perseguia. Juarez não era o topo da cadeia. Como eu suspeitava, havia alguém por trás dele, alguém que operava nas sombras, movendo peças do tabuleiro com habilidade. Descobri isso em um dos registros ocultos que Juarez mantinha trancado em sua mansão – um diário criptografado que consegui interceptar com um pouco de sorte e muita paciência.

O nome que emergiu daquele labirinto de cifras foi Armando Beltran, um dos chefes mais discretos e astutos do cartel mexicano, cuja existência era um mito para quase todos. Ele mantinha Juarez sob seu controle, e o dinheiro que Juarez lavava fluía diretamente para Beltran, sustentando suas operações com a polícia, a política e até mesmo o judiciário local. Era um esquema impenetrável. Beltran mantinha Juarez protegido, mas, ao mesmo tempo, era sua marionete. Juarez poderia parecer o todo-poderoso, mas no final das contas, ele era apenas mais uma peça no jogo de Beltran.

Passei dias mergulhada em documentos e contas, estudando cada transação e ligação que conectava os dois. Para mim, eles tinham que ter um ponto fraco, uma ponta solta que desfizesse todo o esquema. E foi então que, após incontáveis horas de pesquisa, a encontrei: uma transação bancária entre empresas de fachada que só seria viável se passasse por um certo banco no Caribe, cujos registros eram mais fáceis de rastrear e, consequentemente, expor.

Assim que eu encontrei o fio, o agente da Interpol, meu contato, conseguiu enxergar o quadro completo. Essa era a brecha que o governo e a Interpol tentavam expor há anos. Finalmente, o plano que eles sonhavam implementar se tornava viável. Ainda assim, ele me olhou com preocupação – o tipo de olhar que eu conhecia bem. Entrar nesse nível de jogo significava que minha vida estava em perigo como nunca antes. Mas eu já tinha aceitado isso. Sabia no que estava me metendo. Alguns riscos se tornam insignificantes quando se tem a chance de desmantelar uma estrutura tão sombria.

Além disso, havia uma última peça solta que eu precisava acertar: Baxter. Eu não confiava nele, sabia que ele era outro dos infiltrados de Juarez. Mas também sabia jogar esse jogo. Quando fechei meu contrato com ele, acrescentei uma cláusula que poucos advogados perceberiam. Estava lá, escondida nas entrelinhas de um parágrafo aparentemente técnico: se ele fosse preso, todos os seus bens e contas iriam automaticamente para Haylley, que por acaso estava registrada como a única autorizada a movimentar sua conta bancária.

Com essa cláusula, o plano era simples. Quando Juarez e Baxter fossem presos, Haylley entraria na conta dele e transferiria tudo para ela mesma, mas como "doação" em nome de Baker. Assim, ela não só teria acesso aos recursos dele, mas poderia desfazer qualquer transação suja que ele tivesse realizado para Juarez. Além disso, garantiria que nenhuma outra operação pudesse ser usada para financiar o cartel – pelo menos, não a partir dessa conta.

Agora, só restava uma última jogada.

Lá estava eu, em mais um daqueles dias que poderiam facilmente passar por um capítulo de novela. As meninas estavam seguras, bem longe de toda a sujeira. Haylley e eu nos arrumávamos para o evento mais bizarro e cínico que alguém poderia imaginar: o tal baile de gala dos criminosos. Confesso que, no fundo, eu estava ansiosa, e até um pouco animada. Quer dizer, não é todo dia que se planeja dar um golpe em um cartel. O ronco do carro, a caminho da mansão, aumentava a adrenalina. Haylley dirigia com um leve sorriso no rosto, aquele típico dela, meio irônico, meio sarcástico, como quem sabe que algo grande está prestes a acontecer. Eu tinha uma missão clara: manter Juarez perto e esperar pelo sinal. 


A noite estava apenas começando.

Quando chegamos, o lugar já estava lotado. Um verdadeiro desfile de mafiosos e vigaristas de todas as estirpes. Cada um deles com um copo de uísque em uma mão e um charuto na outra, como se fossem grandes senhores de negócios. Ridículo. Mas eu não podia me distrair; mantive minha postura e me aproximei de Juarez, que me recebeu com aquele sorriso convencido. Estava tudo indo conforme o planejado.

Perdido ao sonhoOnde histórias criam vida. Descubra agora