Fui correndo ao encontro de Ana Lis quando a ouvi me chamar.
— Tia Nath, me ajuda! — ela exclamou com um tom de frustração.
— O que foi, meu bem? — perguntei, preocupada.
— Não consigo jogar esse seu jogo, ele é difícil — ela respondeu, segurando o controle com uma expressão de concentração intensa.
— Eu já te ensinei duas vezes, Lis. Venha cá, deixe-me contar um segredo para você aprender — disse, aproximando-me dela e pegando o controle.
Passamos um bom tempo jogando juntas, e antes que percebêssemos, as horas tinham passado rápido. Ana Lis ainda estava imersa no jogo, então a deixei por lá e fui para a biblioteca, onde resolvi vasculhar alguns dos meus livros antigos.
— Tia Nath, posso ficar aqui com você? Eu não estou com sono. Onde a mamãe e o resto do pessoal foram mesmo? — ela perguntou, entrando na biblioteca com curiosidade.
— Claro que pode, meu bem. Vem cá. A mamãe e as amigas dela foram para uma boate aqui na cidade!
— Tia, por que você não foi?
— Ah, meu bem, hoje é aniversário da sua mãe, e ela foi fazer companhia. Eu fiquei para cuidar de você. E, falando nisso, já está na hora de dormir.
— Oh, tia, você é como uma mãe para mim... eu te amo. Mas eu não estou com sono, não — ela respondeu, com os olhos brilhando.
— Eu também amo você, Lis. Então, que tal a gente conversar como gente grande? Já que você não se considera mais uma criança com seus 10 anos...
— Eu não sou mais criança. Eu vou até aprender a surfar — ela disse, cheia de entusiasmo.
— Com quem? Posso saber? Eu não te autorizei a isso, não, mocinha. Como você vai surfar sem mim?
— Mas, tia, você vai me ensinar a surfar quando a gente voltar para nossa outra casa — ela respondeu, convicta.
— Tá bom. Eu te ensino. Mas você tem que se comportar.
— Mas eu sou comportada, tia! — ela insistiu, com um sorriso sapeca.
— Ah, sei... Você me lembra quando eu era criança. Atentada, teimosa e birrenta.
— Eu não sou birrenta, tia. Eu só quero muito uma coisa e não desisto dela fácil.
— Sabe de uma coisa, Lis? Você tá certa. Quando você quiser muito algo, não deixe de correr atrás, mesmo que isso custe muito. E sempre lembre-se que você tem pessoas que te amam para te ajudar.
— Eu te amo, tia. Você promete estar sempre comigo? — ela perguntou, com uma sinceridade que me tocou profundamente.
— Para todo o sempre, meu bem.
Nathalia estava organizando alguns livros na sua biblioteca quando Ana Lis entrou, curiosa.
— Tia Nath, como você e a Tia Victoria se conheceram? — Ana Lis perguntou, sentando-se em uma poltrona perto da estante.
Nathalia sorriu, lembrando-se dos dias passados.
— Eu e a Tia Victoria nos conhecemos na Austrália, logo que eu tinha acabado de chegar. Eu estava começando a me adaptar à nova vida, e um dia, nossos caminhos se cruzaram. A partir daí, a gente começou a sair, se conhecer melhor... e, antes que percebêssemos, já estávamos namorando — Nathalia contou, com um brilho nos olhos.
— E vocês ficaram juntas por muito tempo, né? — Ana Lis perguntou, com interesse.
— Sim, ficamos juntas por bastante tempo. Tudo foi acontecendo na medida certa, sabe? Eu comecei a me dedicar à música, minha carreira decolou, e com isso vieram as viagens, os shows, as turnês. Eu morria de saudade da Tia Victoria, mas sabia que era importante pra mim viver aquele momento. Foram longos 10 anos assim... mas, a cada retorno, eu sentia que nosso amor continuava forte, como no começo.
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Perdido ao sonho
أدب تاريخيQuando nos apegamos ao passado, o futuro promissor se obscurece sob o véu das lembranças, aprisionado entre os escombros do que já foi. É como se nossos sonhos, outrora radiantes e audaciosos, se perdessem na penumbra da nostalgia, enquanto nos enco...