Os seres humanos sempre complicam as coisas. Querendo ou não, estão sempre encontrando maneiras de transformar algo simples em algo complexo. Até mesmo uma questão boba pode se tornar uma tempestade. Alguns criticam sem conhecer, desejam coisas ruins e espalham ódio por aí. Mas o pior erro é a crítica injusta. Sempre aprendi que só o meu verdadeiro eu pode me criticar de maneira construtiva. A essência é minha, e nunca deixarei que me julguem de fora para dentro. Só eu posso dizer quem eu sou realmente.
— Então, Sr. Zack, o que achou? — perguntei, ainda sentindo a adrenalina do show.
— Me parece que temos um contrato para assinar. Marcamos a reunião na segunda-feira, Nathalia. Pode ser? — respondeu Zack, com um sorriso satisfeito.
— Negócio fechado. — Senti um peso enorme sair dos meus ombros.
Conversamos por alguns minutos sobre detalhes do contrato e próximas etapas. Enquanto isso, percebia que Victoria estava visivelmente irritada, provavelmente pelo fato de eu ter chegado com Kylie. Eu sabia que teria que resolver isso, mas naquele momento, minha felicidade pelo quase-fechamento do contrato com a maior produtora do país era dominante.
Assim que encerrei a conversa com Zack e Kylie, fui até o carro guardar a guitarra. Enquanto me afastava, escutei uma discussão próxima. Aquela voz era inconfundível.
-- Você é um babaca. Você estava me traindo esse tempo todo. — Kylie acusou, visivelmente exasperada.
- Você é uma vadia. Estava chegando com outra pessoa. Uma mulher. Você me trocou por uma mulher. — O namorado dela, cujo nome era desconhecido para mim até então, retrucou com raiva.
- Você tá louco. Eu conheci a Nathalia hoje. Além do mais, era você que estava me traindo. — Kylie defendeu-se, com os olhos cheios de lágrimas.
Ao ouvir meu nome sendo mencionado na discussão, não hesitei em me aproximar para verificar se estava tudo bem. Testemunhei um tapa cruel que ele desferiu no rosto dela. Sem pensar duas vezes, avancei em sua direção. Ele era baixo, mas isso não me intimidou. Com experiência em MMA e faixa preta em Jiu-Jitsu, sabia que poderia lidar com a situação.
- Você tá louco? Encosta a mão nela de novo, e você vai ver o que acontece. — Minha voz ressoou com firmeza e determinação. Ele me encarou, surpreso com minha intervenção, mas sua expressão logo se transformou em raiva.
- Quem é você pra se intrometer? Isso não é da sua conta! — Ele rosnou, erguendo o punho ameaçadoramente.
- Ela é minha amiga, e ninguém toca nela assim na minha frente. — Respondi, mantendo-me firme diante dele.
Antes que pudesse perceber, ele avançou na minha direção, pronto para me atacar. Rápida como um raio, reagi com um golpe certeiro, acertando-o com uma joelhada na parte inferior do abdômen. Ele retaliou com um soco e outra joelhada, mas consegui revidar, atingindo-o com um golpe forte.
Ele cambaleou para trás, claramente atordoado pelo impacto. Não hesitei e continuei a defender-me, desferindo um chute próximo ao maxilar. Foi então que percebi que minhas ações tiveram um resultado efetivo. Ele caiu desacordado no chão. Respirei fundo, tentando controlar a adrenalina que corria pelo meu corpo. Observando-o caído no chão, senti uma mistura de alívio e choque diante da violência da situação. Olhei ao redor em busca de Kylie, certificando-me de que ela estava segura após a briga. Minha mente ainda girava com a intensidade do confronto, mas eu sabia que agi em legítima defesa.
Apesar das dores que sentia, fui amparada por Kylie e Victoria enquanto Ana, Haylley e as demais conversavam sobre o ocorrido do lado de fora do bar. A preocupação delas era evidente, mas também havia um certo tom de humor na conversa, o que ajudou a amenizar um pouco a tensão do momento.
- O que aconteceu com ela? Deixa eu ajudar. - Victoria se aproximou rapidamente, preocupada com meu estado.
- Ela se meteu em uma briga com meu ex. Ele me agrediu e ela foi pra cima dele. - Explicou Kylie, enquanto me apoiava.
- Você tá brincando né? Ela apanhou feio em. - Haylley comentou, visivelmente surpresa com a situação.
- Vocês que acham. Ele tá desacordado lá fora. - Kylie informou, e pude sentir um pouco de satisfação em sua voz.
- tá brincando comigo? Meu Deus! - Ana disse, pronta para ir até onde o ex-namorado estava.
- O que tem na cabeça, Nathalia? é louca? - Victoria dirigiu-se a mim, com uma mistura de preocupação e reprovação em sua voz.
- Ele é um babaca. Machista. Defendo as mulheres até onde der. Você sabe. - Respondi, tentando justificar minhas ações.
Enquanto a conversa continuava, Ana relatou que o agressor estava tentando se levantar, ainda tonto. Decidimos então que eu iria para casa com Victoria, que se prontificou a cuidar de mim. Antes de partir, brinquei com Ana sobre sua responsabilidade em sua festa de aniversário.
Com a ajuda de Victoria, me dirigi até o carro, agradecendo pela preocupação de todos e desejando a Ana uma festa divertida e segura. Enquanto nos afastávamos do bar, senti um misto de gratidão por ter amigos tão preocupados e alívio por estar a caminho de casa, onde poderia descansar e me recuperar das emoções daquela noite conturbada.
- Achei que a Raiva tinha passado. - afirmei, com um tom de voz contido, quase contendo as lágrimas.
- Nathalia, você acha que pode me deixar no escuro e depois aparecer com outra pessoa, como se nada tivesse acontecido?
— Vic, calma. Eu posso explicar. — Aproximei-me devagar, tentando não piorar a situação.
— Explicar o quê? Você sumiu o dia todo, não respondeu minhas mensagens, e aparece com a Kylie? — A dor na voz dela era palpável.
— Eu estava resolvendo questões da banda. Kylie me ajudou com isso. Nada mais. Eu prometo — respondi, tentando segurar a mão dela.
— Questões da banda... — Victoria suspirou, desviando o olhar. — Eu só queria que você tivesse me avisado.
— Eu sei, e eu errei. Desculpa, Vic. Não queria que você se sentisse assim. — Finalmente consegui segurar a mão dela, sentindo a tensão diminuir levemente.
Ela olhou para mim, seus olhos ainda brilhando com a raiva, mas também com algo mais suave.
Essas palavras eram a minha verdade, o meu coração se abrindo para ela, mostrando todo o amor e a dedicação que eu sentia. Estava vulnerável, mas era importante para mim expressar meus sentimentos sinceramente.
- Quem é aquela garota? O que você estava fazendo com ela? - Ela perguntou, claramente incomodada com a situação.
- Eu conheci ela hoje à tarde. Ela é uma das donas da Produtora Young. Onde eu estava hoje à tarde tendo uma reunião de negócios. - Expliquei, esperando que ela entendesse.
Escutei o trinco da porta sendo destrancado e logo Victoria saiu do quarto, com uma expressão mista de surpresa e admiração.
- Você o que??? - Ela parecia incrédula com a notícia que eu acabara de dar.
- Isso mesmo. Segunda pretendo fechar contrato com uma produtora. A maior da Austrália. Goodweather será patrocinada e terá uma produtora, meu bem. - Falei com um sorriso, esperando que ela compartilhasse da minha alegria.
- Aí meu Deus. Parabéns.
- Olha, Eu poderia, nesse instante, estar por aí, curtindo a minha vida sem você, poderia estar com ela. Poderia estar por aí, sorrindo sem você, sem mesmo saber o teu nome, sem imaginar a gente se esbarrando, se encontrando, marcando pra sair e naquele momento escolhendo uma a outra. - Comecei, tentando expressar meus sentimentos da maneira mais sincera possível. Eu poderia seguir a minha vida naquele momento sem ter a pretensão de te incluir nela, mas a gente se esbarrou naquela festa. Eu poderia ter fingido pra você, ter inventado milhões de coisas pra te segurar por mais tempo, mas você ficou por sentir que deveria ficar, porque eu já te fazia tão bem que você não pensava em outra coisa a não ser em fazer bem pra mim também. - Continuei, olhando nos olhos dela. Não sei ser a pessoa mais fofa do mundo e nem tocar violão e cantar para você, mas posso te surpreender com uma dessas frases mais clichês que existe, do tipo "meu dia se torna chato sem você". Não sei fazer as melhores comidas pra servir um lindo almoço ou o mais romântico jantar, mas eu afirmo, o meu miojo não queima. - Sorri, tentando arrancar um sorriso dela também.
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Perdido ao sonho
Historical FictionQuando nos apegamos ao passado, o futuro promissor se obscurece sob o véu das lembranças, aprisionado entre os escombros do que já foi. É como se nossos sonhos, outrora radiantes e audaciosos, se perdessem na penumbra da nostalgia, enquanto nos enco...