Não é o fim!

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Eu estava em uma cafeteria, afogada em milhões de pensamentos que me puxavam em todas as direções, quando algo quebrou minha concentração. Minha mente, buscando uma fuga dos problemas, começou a captar uma conversa alheia, sem que eu quisesse, mas não pude evitar ouvir.

— Mas ele me paga, não pode ver uma mulher, que já vira o pescoço. Eu sei que ele é safado assim. Porque ele acha que sou burra. Eu mexo no celular dele e vejo. Já peguei umas três. Sim, menina. Três. Eu bato mesmo nele. Eu sou mais homem que muito homem por aí. Já falei pra ele que não sou boba. Outro dia, tirei ele de dentro de tal local. Ah, outro dia, descobri onde a piranha morava. Fui atrás mesmo. Ele acha que me engana. Mas não engana, não. É. Pois é. Não mudo de roupa mesmo, não. Bato. Não sou obrigada. Me trai, que eu vou atrás e acabo com isso.

Enquanto ela falava, fiquei ruminando aquelas palavras, pesadas e amargas. Por um segundo, a vontade de intervir quase me dominou. Eu queria dizer a ela que, se realmente fosse tão "mais homem que muito homem por aí", já teria ido embora há muito tempo. Eu queria cutucá-la e dizer: "Acorda pra vida. Quem não tem medo, não tem. Se não cabe ali, vai embora sem olhar para trás." Mas ali estava ela, se fazendo de fortona, carregando sozinha o peso de um amor que, claramente, só ela sustentava.

A vontade de perguntar: "Não acha que é mais fácil ir embora? Não é mais fácil se bastar com seu próprio amor?" quase escapou dos meus lábios. Porque, para mim, era. Muito mais fácil do que ficar correndo atrás de um homem imaturo, que não respeita nenhuma mulher. Mais fácil do que gritar aos quatro ventos, dentro de uma cafeteria, que tem medo da solidão. Porque era isso que eu via. Uma mulher que ficava com alguém que a desrespeitava, não a amava, maltratava, pisava em seus sentimentos... porque tinha medo de ficar sozinha. Ela definitivamente não sabia o que era amor próprio.

Terminei meu café, o amargor da bebida combinando com o gosto amargo das reflexões que aquela conversa me trouxe. Saí da cafeteria, decepcionada por saber que mulheres inteligentes e exclusivamente lindas ainda davam valor a pessoas que não tinham valor algum.

Eu estava a caminho de Brisbane, a capital do estado de Queensland. A cidade ficava a cinco horas e meia de Sydney, e eu seguia pilotando minha moto pelas estradas, observando a costa marítima da Austrália. Era impossível não me apaixonar cada vez mais por aquele lugar. Brisbane era o destino que eu tinha escolhido para me reconectar. Havia alugado uma casa lá, sem saber por quanto tempo iria ficar, só sabia que precisava de um tempo para esfriar a cabeça e pensar. Parecia que o mundo ao meu redor estava exigindo demais de mim, e meu celular não parava de vibrar com inúmeras ligações que eu não podia atender. Eu estava quase chegando ao meu destino, e tudo o que eu precisava era desaparecer por alguns dias.

Antes que eu percebesse, já estava estacionando minha moto na garagem da casa em Brisbane. Carregando apenas uma mochila, tinha feito uma rápida parada em uma farmácia e um supermercado para comprar o essencial. Depois de deixar as coisas na despensa, resolvi subir para tomar um banho, mas antes, senti a necessidade de enviar uma mensagem para Victoria.

MENSAGEM ON:

"Espero que você possa me perdoar, Victoria. Eu sei que nem sempre sei como agir... Às vezes, eu machuco com o que deixo de dizer ou com aquelas palavras que saem apressadas, sem pensar. Eu disse coisas que te feriram, e por isso, me desculpe.

Não se preocupe comigo, por favor. Eu estou bem... não tão bem assim, mas eu sei me cuidar. Estou longe, um pouco distante. Me perdoe por ter sumido, mas eu sou fraca quando se trata de você. Não consegui suportar a ideia de te ver chorando por minha causa, de novo. Eu te machuquei, e podia ter evitado. Eu não queria, mas fiz... e agora só posso pedir que me perdoe.

Eu te amo, Victoria."

Logo após enviar a mensagem para Victoria, senti a necessidade de buscar um pouco de conforto e distração, então decidi mandar uma mensagem para um velho amigo brasileiro que morava na mesma cidade onde eu estava hospedada.

Perdido ao sonhoOnde histórias criam vida. Descubra agora