Eu juro lutar

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A festa surpresa de 11 anos da minha sobrinha, Ana Liz, estava em pleno andamento. A casa estava cheia, risadas e vozes ecoavam pelas paredes, e o sorriso no rosto da Ana era tudo o que eu precisava para saber que o esforço valeu a pena. Mas, apesar de toda a alegria ao redor, havia uma ausência notável: Victoria.

Enquanto todos se divertiam, Ana Clara e eu acabamos nos afastando um pouco do grupo. A ausência de Victoria estava me incomodando, e eu não pude evitar o assunto.

— A Victoria deveria estar aqui — soltei, não conseguindo mais segurar. — Ela está se afastando da própria família, Ana. Isso não é normal.

Ana Clara respirou fundo, visivelmente desconfortável. — Nath, ela está ocupada com o trabalho. Você sabe como é difícil para ela.

Eu bufei, sem acreditar no que estava ouvindo. — Trabalho? Não me venha com essa, Ana. Ela não está trabalhando. Victoria tem dinheiro suficiente para estar aqui, para estar presente no aniversário da própria sobrinha.

Foi aí que Ana Clara, talvez sem pensar, deixou escapar algo que me fez parar no mesmo instante. — Você sabe muito bem que a culpa é sua! Victoria nunca vai aparecer onde você está, porque não é justo com ela ver a ex-esposa pegando geral na frente dela.

Aquelas palavras me atingiram como um soco. — Você acha que eu não respeito a Victoria? Nunca fiz nada para magoá-la de propósito. Sempre me preocupei com ela, mesmo depois de tudo. E ela não está aqui por causa de um cara que... — Eu parei, percebendo que estava indo longe demais, mas a raiva já tinha tomado conta. — Ela está em um relacionamento tóxico, Ana! E ninguém, além de mim, parece enxergar isso.

Antes que a discussão pudesse piorar, Priscila se aproximou e interveio. — Gente, calma. Nathalia, você está certa em querer que Victoria esteja presente, mas precisamos lembrar que todo mundo está passando por um momento difícil. — Ela virou-se para Ana Clara. — E você sabe que a Nathalia sempre respeitou a Victoria, mesmo quando tudo estava confuso.

— Isso não muda o fato de que Victoria mudou, e não para melhor. Esse ex dela está a impedindo de ser quem ela realmente é, e ninguém parece se importar! — Minha voz estava trêmula de frustração. — Eu vou resolver isso, nem que tenha que ir atrás dela agora.

Mas Priscila, juntamente com Haylley e até mesmo Ana Clara, se colocaram na minha frente, firmes. — Nathalia, isso vai sair nos sites de fofoca, e você sabe como isso pode prejudicar a sua carreira e a dela. Vamos resolver isso, mas de outra forma. Não hoje.

Eu respirei fundo, tentando conter a onda de raiva e frustração. Todos estavam certos, mas isso não fazia o peso em meu peito diminuir. Olhei para a Ana Liz, ainda radiante no meio da festa, e decidi que, por hoje, tudo o que importava era fazer com que o aniversário dela fosse perfeito. As outras questões teriam que esperar.

Depois de todos aproveitarem a festa ao máximo, com risadas e momentos que a Ana Liz guardaria para sempre, as pessoas começaram a se dispersar. Aos poucos, a casa foi ficando mais silenciosa, e todos decidiram que era hora de dormir. Mas, antes que eu pudesse me recolher, Ana Clara me chamou para uma conversa.

Ela estava esperando na varanda, a expressão no rosto já me dizia que ela queria falar sério. Caminhei até lá, ainda com o peso da nossa discussão anterior na mente, mas também com uma vontade de ouvir o que ela tinha a dizer.

— Nath — ela começou, sua voz mais suave do que antes. — Eu só queria pedir desculpas pelo que falei mais cedo. Você estava certa em tudo que disse. A Victoria... ela realmente mudou, e não para melhor. Eu só... não sei como lidar com isso.

Eu suspirei, balançando a cabeça. — Não é fácil para ninguém, Ana. Eu só não suporto ver o que ela está passando e não poder fazer nada. Ver ela se afastar da própria família, se afundar em um relacionamento que claramente não faz bem para ela... é demais para mim.

Ana Clara assentiu, seus olhos brilhando com uma tristeza que ela tentava esconder. — Eu sei. E isso está passando dos limites. Eu vou atrás dela, Nath. Vou tentar resolver isso. Talvez ouvir de mim o que ela não quer admitir a faça perceber o que está acontecendo. Eu ainda torço muito para que tudo dê certo entre vocês duas. Sei que a Victoria sente demais tudo isso, ela só não quer admitir.

Aquilo me pegou de surpresa, e o nó na minha garganta apertou. — Você realmente acha que ainda tem esperança?

— Eu não acho, eu sei. Victoria ainda te ama, Nathalia. Ela só está tentando esconder isso de todo mundo, até de si mesma. E é por isso que ela está tão perdida. Eu vou fazer o que puder para trazer ela de volta.

Eu senti meu coração apertar, mas ao mesmo tempo, uma centelha de esperança se acendeu. — Obrigada, Ana. Eu realmente espero que ela consiga ver o que está fazendo consigo mesma.

Ela sorriu, um sorriso pequeno, mas sincero. — Vamos conseguir, Nath. Não desista ainda. Vamos fazer isso juntas.

Abracei Ana Clara, sentindo o peso daquela conversa, mas também a leveza de saber que, apesar de tudo, eu não estava sozinha nessa. Ainda havia uma chance, por menor que fosse, de que as coisas entre mim e Victoria pudessem se resolver. E por mais que fosse difícil, eu estava disposta a lutar por isso, como sempre estive.

Estávamos a apenas dois dias de deixar o Brasil, e o peso dessa despedida começava a se tornar insuportável. O aperto no meu coração era constante, uma sensação que só quem tem raízes tão profundas entende. A ideia de deixar tudo para trás novamente, de partir rumo à Austrália e depois para os Estados Unidos, me deixava cabisbaixa, perdida em meus pensamentos. Eu amava minha vida e as aventuras que me esperavam, mas havia algo inegavelmente doloroso em dizer adeus ao lugar que sempre chamei de lar.

Eu estava sentada na varanda, observando o pôr do sol, quando Priscila se aproximou. Ela tinha um jeito único de saber quando eu precisava conversar, sem que eu precisasse dizer uma palavra.

— Hey, Nath — ela disse suavemente, sentando-se ao meu lado. — Eu sei que está difícil, mas é hora de se despedir novamente. Você ainda tem uma grande missão pela frente, muitos sonhos para realizar.

Eu suspirei, olhando para o horizonte. — Eu sei, Pri. Mas deixar tudo isso para trás nunca fica mais fácil. Sinto que estou deixando uma parte de mim aqui, e a ideia de partir para sempre me assusta.

Ela sorriu de lado, colocando a mão no meu ombro. — Você nunca vai deixar isso aqui para trás, Nath. O Brasil faz parte de você, e sempre vai fazer. Mas você também tem um mundo inteiro esperando por você lá fora. E, sinceramente, quem melhor para conquistar esse mundo do que você?

Eu sorri, mas ainda me sentia pesada. — Eu sei que tenho coisas importantes para fazer, e não estou fugindo disso. Mas, às vezes, o que a gente deixa para trás parece tão... insubstituível.

Priscila assentiu, compreendendo perfeitamente o que eu estava sentindo. — Eu também vou ficar aqui por mais um tempo. Ainda tenho coisas para resolver no Brasil, pessoas para ajudar, mas quero que saiba que estou sempre com você, não importa onde esteja. Preciso me despedir e te agradecer por tudo, Nath. Você me ajudou mais do que imagina, e eu nunca vou esquecer isso.

Eu a abracei, sentindo o carinho e a gratidão em cada palavra. — Eu é que tenho que agradecer, Pri. Você sempre esteve ao meu lado, em todos os momentos importantes. E, por mais difícil que seja, acho que estamos prontas para essas novas etapas.

Ela se afastou um pouco, segurando minhas mãos com firmeza. — E tem mais uma coisa, Nath. Vá atrás da Victoria, não importa o que isso custe. Um grande amor sempre vale a pena. Sei que ela ainda te ama, e às vezes é preciso lutar pelo que realmente importa, mesmo que isso signifique abrir mão de algumas coisas no caminho.

Eu senti um nó na garganta, mas sorri. — Eu vou. Não posso deixar que o orgulho ou o medo me impeçam de tentar. Se ainda há uma chance, por menor que seja, eu vou atrás dela.

Priscila assentiu, seu olhar cheio de apoio e confiança. — Isso mesmo. Às vezes, a gente precisa correr riscos, porque o que realmente importa nunca vem fácil. E se tem uma coisa que você me ensinou, Nath, é que o amor é uma das poucas coisas na vida que vale a pena lutar até o fim.

Abracei Priscila novamente, sentindo uma mistura de tristeza e determinação. Despedir-se nunca era fácil, mas saber que eu tinha pessoas como ela ao meu lado me dava forças. Eu estava pronta para enfrentar o que viesse, e, se o destino permitisse, para reconquistar o amor da minha vida.

Perdido ao sonhoOnde histórias criam vida. Descubra agora