66 - Quatro anos de distância

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AMÉLIA MARTINEZ

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AMÉLIA MARTINEZ

O Havaí era um paraíso. Pelo menos, para aqueles que não carregavam dentro de si um vazio impossível de preencher. Para mim, era uma prisão. Não porque fosse ruim, mas porque não importava o quão lindo fosse o horizonte que eu via, nada poderia mascarar a dor que vinha comigo. Eu tinha perdido tudo.

A lesão no joelho não foi só um golpe no meu corpo; foi uma sentença para a vida que eu amava. Minha carreira, minha identidade como jogadora, minha rotina... tudo foi arrancado de mim em um instante. Quando o médico quase milagroso sugeriu uma recuperação longa, aceitei sem pensar duas vezes, eu já estava ali, não tinha mais volta. A ideia de ficar isolada parecia um alívio naquele momento. Eu queria fugir de tudo: das expectativas, dos olhares de pena, da culpa. Mas, principalmente, de Gabi.

Deixar Gabi foi a decisão mais difícil que eu já tomei, e cada pedaço de mim gritava para ficar. Mas como eu poderia prendê-la a alguém quebrado? A dor de perdê-la não veio de uma vez. Foi uma tortura lenta, que eu prolonguei por dias, semanas. Escrever a carta que deixei para ela foi como arrancar meu coração e colocá-lo sobre aquela mesa. Cada palavra era uma ferida aberta, mas, no final, achei que estava fazendo o certo. Eu acreditava que ela estaria melhor sem mim.

Mas ninguém me avisou que o isolamento não cura um coração partido. Na verdade, ele amplifica a dor. Com o passar dos dias na ilha, me dei conta de que a solidão não era tão silenciosa quanto eu imaginava. Ela gritava. Nos momentos mais inesperados, no meio da noite, enquanto eu olhava o mar ou sentia o vento tocar meu rosto, era como se a ausência de Gabi me engolisse inteira.

O cenário ao meu redor parecia uma pintura viva: praias de areia branca tão fina que parecia pó, águas tão cristalinas que eu podia ver cada detalhe das pedras no fundo, e o pôr do sol... Ah, o pôr do sol. Era como se o céu sangrasse, espalhando tons de vermelho, laranja e dourado por todo o horizonte. Era lindo, mas cada segundo parecia um lembrete cruel de que Gabi nunca o veria comigo. Tudo ao meu redor era belo, mas vazio.

Meu dia começava cedo, sempre com sessões de reabilitação física. O trabalho no meu joelho era intenso, exigia concentração. A fisioterapeuta dizia que eu estava indo bem, mas eu não via sentido. O que significava melhorar se a parte mais importante de mim continuava destruída?

À noite, quando o silêncio se tornava absoluto e o som das ondas era minha única companhia, eu pensava nela. Gabi ocupava todos os meus pensamentos, todas as minhas memórias. Eu sonhava com ela constantemente. Sonhava com o som de sua risada, com o jeito que ela puxava minha mão para me fazer dançar na sala, com as pequenas rugas que apareciam no canto dos olhos quando ela sorria de verdade. E quando acordava, vinha a queda. A realidade era brutal, uma faca afiada me lembrando de que ela não estava mais ao meu alcance.

Houve inúmeras vezes em que peguei o telefone para ligar, para mandar uma mensagem. Queria ouvir sua voz, saber se ela estava bem, dizer que sentia sua falta. Mas então a culpa me paralisava. Eu a deixei. Quem eu pensava que era para querer algo dela agora? Não era justo. Ela merecia mais do que eu podia dar.

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