Cap. 29 - Depois da chuva...

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Emma

Intervalo. 

Vagueava pelos corredores, onde pedia encarecidamente aos céus para não me cruzar com Zayn. Já é bastante constrangedor tê-lo ao meu lado nas aulas.  

Mergulhada em dúvidas. Presente de corpo no meio envolvente e fugitiva em espírito. Uma brisa transformada em um tornado. Vento que me faz voar para o sentimento oeste, da tristeza, quando tento segurar-me para o da alegria, a este. 

Esbarro acidentalmente contra uma pessoa, desnorteada. Algo derivado dos meus pensamentos, todos eles relacionados ao Zayn. 

- Emma... - Ouço-o murmurar, constrangido. - O que se passa? 

- Eu estou bem, Niall. - O meu corpo assente, e o meu espírito grita que não passo de uma mentirosa.

- Tu nunca me guardaste segredos, somos melhores amigos. Emma, conta-me. 

- Não irias perceber, esquece. - Passo ombro a ombro, deixando-o ali. Abandonado. Naquele local.

Nunca me senti tão triste antes. É este o efeito devastador do Zayn em mim? Será que é possível eu gostar assim tanto do meu irmão? Porque é que desde aquele beijo, os meus sentimentos se intensificaram ainda mais. Eu já gostava dele, tentava manter a minha versão de 'amor de irmão', mas agora parece que isto fugiu do meu controlo. 

Viro no corredor à esquerda. 

Os meus livros caem no chão gélido da universidade. Ambas as minhas mãos tapam a minha boca que se tinha aberto perante tal imagem. 

Zayn. 

A comer uma gaja encostado à parede.

Um abismo criado pela minha perturbada mente abre-se debaixo dos meus pés e suga-me violentamente lá para dentro. O meu coração parece ter sido arrancado e atirado para o meio do campo, onde fora pisado por todos os alunos, um a um, cada um com mais força. Facas cravadas em meu estômago. 

- Emma? - Ouço-o sussurrar, afastando a morena dos seus lábios. 

Uma lágrima ameaça cair a qualquer momento. Levo a minha mão violentamente até ao olho esquerdo e limpo-a antes que haja possibilidade dela rolar pelo meu rosto abaixo.

- És um autêntico merdas. - Viro costas, correndo até ao WC feminino.

Uma vez lá dentro, deslizo pela porta, relembrando esta manhã, onde fiz exactamente o mesmo. Um grupo de raparigas aparece de rompante de um lugar qualquer da casa de banho. O seu olhar fita o meu por uns segundos e ambas cochicham logo em seguida. Deixei um grunhir pequeno sair dos meus lábios. Estou farta que as pessoas abusem e falem o que querem de mim.

- Se voltarem a falar de mim acabam no caralho do caixote do lixo. Cambada de putas. - Cuspo. Afasto-me da porta e todas correm para fora deste lugar, assustadas.

Fui rude. Parecia até o Zayn. Mas não quero saber. O problema da sociedade hoje em dia é não respeitarem os outros e falarem mal destas. Cada pessoa tem os seus defeitos e problemas, lidem com isso, custa muito? Que nojo!

A porta abre-se novamente.

- Zayn? - A surpresa atinge-me por completo. 

Oh céus, deixa-me estar sozinha!

- Emma. - Este sussurra, fechando a porta por dentro. - Conta-me. O que aconteceu naquela noite. O que eu te fiz, tudo, por favor. Eu não posso lidar mais com este teu eu. 

- Descobre sozinho. - A arrogância, uma vez mais, predomina no meu tom de voz.

Zayn debruça-se, ficando da mesma altura que eu, visto que me encontrava no chão. Segurando firmemente no meu queixo, este inclinou a minha cabeça para cima, fazendo-me automaticamente encará-lo. Olhos nos olhos. 

O seu rosto aproxima-se do meu, a mão direita pousa delicadamente no meu pescoço e o seu pulgar contorna cada pequena feição da minha face. Os meus olhos fecham-se quase que involuntariamente, só para tentar apreciar o seu toque com maior intensidade. 

- Está perto, estou prestes a descobrir? - A sua voz rouca e bastante baixa, fora ouvida.

- Está a escaldar. - Revelo, engolindo um seco. 

Zayn passa levemente o nariz pelas minhas bochechas. Sinto a sua respiração colidir com estas e mordisco o lábio inferior direito. Tenho de admitir, sóbrio, o Zayn é muito mais experiente com isto.

Os meus olhos analisam atentamente os seus lábios. Um desejo forma-se em mim e sinto que sou capaz de endoidecer se não os sentir novamente. O meu estômago dá o famoso nó. Numa questão de segundos, os seus lábios colidem brutalmente com os meus, como se eu fosse uma droga e Zayn estivesse dependente, como se eu fosse uma necessidade, algo que ele necessita constantemente.

A minha boca abre-se ainda mais, dando espaço para que a língua de Zayn entre e descubra todos os cantos desta. Mas não é necessário, é como se ele já o soubesse. Como se ele já conhecesse os meus lábios, pois ambos estamos em perfeita sintonia. Como se namorássemos e nos beijássemos à anos e anos.

- Tu desejas-me... - O moreno murmura, um pouco convencido.

- Tal como tu me desejas a mim. - Riposto.

A mão dele aproxima o meu corpo mais para si, aconchega-me em seus braços e acolhe-me com seus beijos. 

A campainha soa por todo o espaço escolar. Ambos nos separamos, receosos. 

- Isto é tão errado. - Suspiro. 

O meu amor eu guardo para os mais especiais. Não sigo todas as regras da sociedade e às vezes ajo por impulso. Erro, admito. aprendo, ensino. Todos erram um dia: por descuido, inocência ou maldade. conservar algo que faça eu recordar de ti seria o mesmo que admitir que eu pudesse esquecer-te.

 - Lembrar é fácil para quem tem memória. Esquecer é difícil para quem tem coração. - Riposto também eu com uma frase do mesmo autor que Zayn citou. William Shakespeare.

- Eu também considero isto errado. Mas sei que remar contra isto é muito mais doloroso. Emma, eu estou apaixonado por ti, e isso custa. O meu objectivo era fazer-te a vida negra, ser um cabrão para voltar para a minha mãe e irmã. Mas eu... eu apaixonei-me por ti! 

- Não és o único. 

E ali ficamos, ainda abraçados um ao outro, no profundo silêncio envolvente.


Step-Brother [Z.M]Onde histórias criam vida. Descubra agora