Capítulo 57 - Doente à solta

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Emma

São 06:50. Estou cansada daquele hospital, retirei os fios e saí de lá sem ninguém ver. Encontrava-me naquele lugar à uma semana e meia, sem poder sair, ou mexer-me, e isso para mim simplesmente não dá. Sabem o que é terem uma janela minúscula, uma televisão pré-histórica e um pote para... fazer coisas? Pois, esse foi o motivo para eu sair.

Correcção, parte dele. 

Mal consigo andar, e coxeio bastante. Todavia, prefiro estar desta forma, com dores, mas livre. Fiquei a noite toda fora daquele maldito hospital, então o mais certo é o mesmo já ter ligado para a minha residência e feito um alvoroço em minha casa, então vou para lá agora antes que a minha mãe ligue para a polícia, o exército, os bombeiros, a NASA, a força aérea, o FBI, a funerária, etc.

Perdida nos meus pensamentos, esbarro contra uma figura alta e musculada. Perco, subitamente, o equilibro e agarro-me à pessoa num movimento quase que automático, fazendo-a cair por cima de mim. Quando abro os olhos, quase pedindo desculpa, vejo Zayn a gemer de dor, pelo meu joelho estar mesmo por cima das suas partes baixas e muito provavelmente lhe ter pontapeado acidentalmente. 

- Foda-se. - Sussurro, frustrada.

Em sete mil milhões de pessoas, aproximadamente, no planeta terra, eu tinha de chocar com ele. O mundo está contra mim, só pode.

Levanto-me desajeitadamente assim que ele me deslumbra e se recompõe imediatamente. Decidida a virar costas, não lhe dirigi a palavra e coxeei para o outro lado. De súbito, sinto o meu braço ser travado pelo moreno. Rosnei, rodando a minha cabeça. 

- Deixas-me ir? Não tens nenhuma loira para comer hoje? - Cuspo, irritada.

Não responde. Os seus olhos fitam intensamente os meus e eu apenas me mantenho estática, ele sabe que quando me olha desta maneira eu não consigo reagir. Sinto os seus lábios colidirem com os meus de uma maneira tão brusca e rápida que nem tempo de me afastar tive. As borboletas na barriga surgiram e senti os meus olhos arderem. Um aperto no meu coração intensifica-se e sinto-o passar da sua cor natural para um azul escuro, como a noite. Eu tenho de o afastar, ele... não me pode fazer isto, não de novo!

Assim que ele dá por terminado o beijo e me olha a sorrir um pouco, esperançoso, eu apenas deixo as lágrimas que tinha no canto dos meus olhos rolaram pela minha face pálida. A sua figura olhava-me de alto abaixo. 

- Tens cá uma lata... - Murmuro num fio de voz que se desvanece com o vento, assim como o sorriso que Zayn tinha. 

Os meus cabelos esvoaçavam ao vento e ambos não reagíamos, mesmo estando praticamente no meio da rua. As luzes à nossa volta apagavam-se conforme a igreja ao fundo tocava as sete badaladas, indicando a hora actual que acabara de mudar.

- Emma... quantas mais vezes vou precisar de te provar que estou inocente? 

- Ainda não me provaste nenhuma. Este beijo não foi uma prova, mentaliza-te que tentares trazer as sensações que eu sinto quando estou contigo, não te traz a inocência, ou prova alguma coisa. Zayn, nós acabamos. - Mantenho-me rispída, mesmo estando a ser totalmente destruída por dentro.

- Tu não sabes ler os sinais à tua frente. - A sua voz saí um pouco mais séria, como se tivesse sido eu a traidora nesta história. - A Penny jurou que nos separaria, fez-nos a vida negra e fez-me algo. 

- Eu não quero ouvir o que tens para dizer. - A minha fala fica suspensa no ar. - Secalhar não fomos feitos um para o outro...

- Ou então é a tua cabeça que não liga os pontos. Imagina uma constelação! Liga tudo o que aconteceu e verás que sou inocente. 

- Achas que toda a gente é uma máquina? Eu queria Zayn, eu queria ligar. Mas tu deves ter alguma coisa que eu não sei, pois se eu ligar os pontos fico com a imagem incompleta! - Berro, nervosa.

- Tens a imagem incompleta, sim! - A sua voz eleva-se também. - Mas até a tua melhor amiga, acidentalmente, chegou à conclusão certa. Porque não consegues tu?

- Porque nem todos são iguais! 

- Ou porque não queres saber. - Ele dá um passo para trás. - Já desististe de nós, não é mesmo? 

- Quem desistiu foste tu, não faças de mim a vilã desta história. - Levo as mãos ao meu cabelo, puxando-o para trás. - Merda, diz-me o que o coração me está a dizer porque sinceramente eu não o consigo perceber! Eu quero acreditar em ti, mas não dá, porque sempre que enxergo a tua cara as memórias daquele dia aparecem-me diante dos olhos! 

O moreno passa a língua pelos lábios, coça a sua bochecha e assente com a cabeça, virando costas, todavia, enquanto desvanecia no horizonte, deixou uma frase no ar:

- Disseste que não tinhas provas que eu te amava. Mas esqueces-te de quando te salvei do Joseph, esqueces-te de quanto respeitei a tua escolha de não entrar na porta secreta e fiquei a aguardar que um dia me contasses tudo, esqueces-te de quando mudei por ti e mostrei a minha inteligência nas aulas por seres tu, tu Emma, a pedi-lo. Se isso não são provas, então andei a apelidá-las mal este tempo todo.

Estico a minha mão gélida para a figura de Zayn. Eu não quero que ele vá. Quer dizer... bolas! O meu coração acredita na sua bondade, além disso o Zayn sempre foi honesto, isso não há que duvidar. Mas eu não consigo perdoá-lo, e fazer dele o coitadinho, a vitima disto tudo. Eu vi com os meus próprios olhos a festança que ele teve com a Penny. Como isso faz dele inocente? Vão me dizer o quê? Que ele foi drogado ou algo do género? Não acredito que ele tenha ido se enfiar na cama com a loira contrariado.

E por apenas uns segundos, enquanto aquela teoria absurda me veio à mente, o meu lápis pareceu se mexer, concluindo o desenho, finalizando a ligação dos pontos.






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