Capítulo 119 - ...

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Emma

Atrás de mim ouvia apenas única e exclusivamente berros. Eu já me encontrava bem, mas ainda assim os meus amigos continuavam a gritar com angústia. 

Levantei-me calmamente do chão, com a ajuda e apoio de Jake. Ele olhou para os meus amigos e parecia estar com pressa, uma vez que me acenou rapidamente e correu para fora dali. Acabei por lhe sorrir e fiquei assim até depois dele ter desaparecido no meio da multidão que se aproximava deste local escandalizada. 

Passo agora a rua que estava uma confusão e aproximo-me de uma multidão, pedindo licença. Noto os meus amigos mais à frente e quando finalmente fico ao lado deles... 


...o choque atinge-me...


Tudo o que se passou a seguir pareceu ser em câmara lenta. O som das pessoas horrorizadas, as sirenes, os carros a parar... todo o espaço envolvente deixou de ser captado da minha parte.

E foi então que o meu cérebro deu o clique. 

Todas as memórias, todos os sentimentos, todos os momentos, todas as vezes que Zayn me beijou, todas as vezes que me tocou... o rapto, a alucinação, a morte de Safaa, eu ser irmã de sangue dele, conhecer a minha mãe biológica, assistir a morte da minha melhor amiga diante de mim, apaixonar-me pelo Zayn, ser quase violada na minha própria casa, Yaser fazer parte de um plano para me matar, o meu pai estar vivo... tudo voltou a mim num simples segundo. 

Os meus joelhos embatem no chão duro que contém o corpo imóvel do meu irmão. Os meus amigos agarram-se e choram. Mas eu mantenho-me estática, tocando-lhe de leve no rosto. 

Lágrimas rolam pelo meu rosto sem eu sequer pestanejar.

E eu finalmente sinto o meu coração estilhaçado. Uma ação sem volta, irredutível. Não é a tristeza que me está a comandar neste momento, mas sim o vazio que o meu coração está a sentir. 

A angústia e o desespero. São estes dois sentimentos que me dão força para sequer mover os meus braços e tentar inutilmente acordar o meu namorado. 

A culpa corrói-me e deixo um berro escapulir-se da minha boca quando me lembro que eu lhe dei a entender que o odiava. 

Ele morreu zangado comigo... e tudo porque eu não lhe dei uma chance.. 

O Zayn lutou por mim e eu por estar amnésica recusei o seu amor por causa de falsas acusações...

- Afastem-se, afastem-se! - Ouço, todavia não sou capaz. - Menina, preciso que se afaste! 

Tenta empurrar-me para fora daquele cenário, todavia eu estava tão paralisada que o homem não me conseguiu levar para longe. A minha mão estava de tal maneira entrelaçada à de Zayn, que se o policial fizesse mais força, acabaria por fazer algo ao meu dócil namorado. 

- Ela é... a namorada dele. - A voz de Mia ecoa na minha mente e deixo uma nova lágrima escorrer pela minha face. 

- Não, não sou. - Finalmente desvio os meus olhos e fito os da minha melhor amiga. - O problema é esse... eu não fui! 

Berro e levo as duas mãos à minha cara. O policia usou a minha fraqueza como recurso e, agora que não estava agarrado ao meu namorado, puxou-me com sucesso para fora daquele horroroso cenário.

- Não, por favor! - Berro, contorcendo-me com todas as forças. - Não me tire dele, não! 


Vejo os médicos intervirem quando já me encontrava a uma distância considerável e assim que me largam... bato em mim mesma. 

Uma.

Duas.

Três vezes.  

Por raiva, mágoa e culpa de não ter acreditado na sua palavra. 

O som da minha mão a embater na minha bochecha volta a ser audível. 

A morte dele foi de tal forma profunda que me permitiu recuperar o que outrora havia perdido. A minha memória. Mas é tarde... 

Ver o Zayn ali caído, para além de ter sido um gatilho, foi como um espinho de uma rosa entranhar-se e cravar-se com agressividade na carne do meu corpo. O sangue continua a sair e a vontade de remover o espinho é grande, todavia o nosso coração ainda o empurra mais para fundo. 

"Há sempre tristezas, há sempre sofrimento, haverá sempre dor enquanto houver amor." - Relembro a aula de português na universidade. A citação desta frase de um escritor estrangeiro, penso que de um país português, descreve exactamente o que eu sentia. 

Deito-me no meio da estrada e olho para o céu. 

- Se o Zayn morrer como eu penso que morreu... também quero. - E cerro os olhos.

Adormecendo ali mesmo, no meio de toda aquela confusão. 

Dominada pelas lágrimas e dores de cabeça.

E a incerteza do amanhã.




Step-Brother [Z.M]Onde histórias criam vida. Descubra agora