Capítulo 126 - Linha ténue, verde, contínua.

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Abri e fechei a porta com bastante cuidado para não ser vista nem pelas câmaras de vigilância, nem por possíveis testemunhas. '

Aproximei-me dele. Imóvel e gélido na cama fria e sem vida, cheia de dezenas de outros pacientes que possivelmente também perderam a vida naquele mesmo local.

O seu cabelo estava perfeito como sempre - ele importava-se sempre com o aspeto, centrando acima de tudo o cabelo - a sua cara de rebelde ainda estava presente, todavia misturada com a sua face angelical e serena do seu sono profundo do qual eu irei garantir que o mesmo não acorde.

A máquina fazia o beep robótico que dava falsas esperanças. 

Esperanças enganosas, irreais. Falsas ilusões. 

Esperamos e esperamos e no fim recebemos os médicos com uma cara desoladora, como se estivessem verdadeiramente preocupados com os pacientes e dizem que lamentam a nossa perda, enquanto aguardam o final do seu turno para voltar para as suas famílias de sorriso cheio. Para os mesmos, é apenas mais um paciente que não puderam salvar, mas para a família deste, é um buraco sem fundo que se abre no chão e suga todas as memórias e sentimentos relativamente à pessoa, obrigando-nos a ser sugados igualmente e a recordar cada momento com a mesma, num loop doloroso e angustiante que, se não for tratado rapidamente, torna-se irreversível.

E eu vou evitar tais sentimentos, tais dores e constrangimentos à Emma e aos amigos do Zayn. Eu irei poupá-los da falsa esperança e do futuro luto devido a mais incompetências médicas.

Retiro da minha mala a almofada mais especial e que sempre fora guardada com carinho e nostalgia. A almofada do berço do Zayn. 

A sua primeira almofada. 

Foi nela que ele se deitou em casa pela primeira vez, e é nela que ele irá apagar por completo. 

Aproximo-me do moreno e lágrimas inevitavelmente escorrem-me pela face, enquanto a coragem invade o meu corpo e a minha mente se mentaliza que é necessário. Fecho os olhos repetitivamente com o intuito de afastar a água que dificulta e acaba por quase me obrigar a embargar a minha ação. 

Começo então a cantar uma canção de embalar, enquanto coloco gentilmente a almofada à sua cara e lentamente a pressiono mais e mais. 

As lágrimas escorriam e manchavam a almofada esverdeada diante de mim. O beep da máquina torna-se rápido, turbulento, agressivo. O som evade e ecoa pelas quatro paredes do quarto. 

Pressiono com mais força e canto cada vez mais próxima do seu ouvido. O seu coração começa então finalmente a diminuir as pulsações, ficando tardias, lentas. 

A porta abre-se lentamente e a voz alegre da Emma e do Niall é rapidamente cortada quando os mesmos me encaram. Nesse mesmo instante, um beep contínuo e um alarme soa. 

O coração do Zayn parou de bater e no monitor cardíaco podemos agora apenas observar a linha ténue, verde e contínua.

- Adeus, filho. - Sussurro, antes de ouvir um berro gigantesco e sufocante escapar da boca da Emma.

Step-Brother [Z.M]Onde histórias criam vida. Descubra agora