Capítulo 124 - Passar a perna à morte (Parte 2)

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Mia

Quando este deu um passo em frente, peguei numa caixa de fósforos e retirei rapidamente um, colocando-o a milímetros da parte castanha, que nos pode matar aos dois instantâneamente. Afastei-me do fogão lentamente para ele vislumbrar que eu sabia jogar este jogo. 

- Não terias coragem. - Sussurra, contudo a sua veia saliente no pescoço e o suor que escorria pela sua testa não me davam margem para dúvidas. Ele estava assustado.

- Já morri uma vez, não tenho nada a perder. - Encolho os braços. - Além disso, da última vez o assunto com o teu pai ficou inacabado. Aqui, tenho-te na toca da serpente. Dispara, e com as minhas últimas forças eu mato-te aqui e agora.

O loiro curva os lábios e dá um passo em frente, porém arrepende-se imediatamente quando ouve o raspar do fósforo na caixa, que só não acendeu porque eu fui branda e exerci relativamente pouca força.

- Tens tomates, aprendeste comigo. - Piscou o olho. 

Cuspi-lhe na cara. Metade calhou-lhe nos pés, mas sei que pelo menos um terço da minha saliva foi-lhe diretamente aos olhos.

- Se aprendi com algo, foi com a vida. E se há uma coisa que eu também aprendi, foi a defender a minha família. E os meus amigos são a minha família. 

Quando olho para a janela da sala que está localizada ao longe, atrás do loiro, vejo um dos capangas dele acender um fósforo e a dar mira para atirar cá para dentro. Como por impulso, deixo um berro escapar, o que o distrai e o faz olhar para trás e corro para o lado, saltando pela janela da cozinha. 

- NÃO, AUST-- 

Um som explosivo cessa o seu grito de desespero e angústia que parece até ter ecoado por meros segundos no silêncio que reinava à menos de um segundo atrás. 

Fúria.

Raiva.

Tenebroso fogo sai por todos os lados da casa onde Emma habita. 

O meu corpo é com uma brusquidão imensa projectado para o ar, onde deixo um grito prolongado de medo escapulir-se de meus lábios rosados.

O vermelho vivo e infernal predomina no que era há segundos atrás uma casa simples e habitável. O som das chamas avassaladoras e o fumo preto que começa a sair fazem-se ouvir e poluem o ar outrora respirável. Rebolo pela relva verde, sentindo as dezenas de cacos de vidro provenientes de todas as janelas que se estilhaçaram com o fogo a cair em cima de mim. 

- Aaaaaaaaaah! - Deixo escapar com dor, quando um deles se espeta na minha perna e outro mais pequeno acerta-me no punho.

Ouço o som do portão e viro a cara para apreciar o meu possível salvador, contudo era apenas Austin com um caco de vidro gigante e um sorriso vitorioso. 

Não me conseguia mexer, o meu corpo estava pesado, a minha perna presa e a esvaziar-se em sangue. 

- Acabou para ti, blondie. - O seu sorriso parecia hipnotizar-me, porque apesar de tudo, era triste ver um rapaz tão bonito e jovem desgraçar a sua vida devido a uma vingança que nem devia fazer parte da sua vida.

- Talvez tenha acabado. Mas eu vou partir sem receios ou medos. Vou morrer em paz e feliz e isso é o que qualquer assassino mais odeia. Quando a vitima deseja morrer porque esta completa. Então mata-me, porque eu já tive esta segunda chance e pude perceber com ela que o grupo, mesmo sem mim, me acolherá. Se lembrará de mim sempre. - Cuspo e vejo-o arregalar os olhos verdes.

- ... o quê? 

- Todos neste mundo querem deixar a sua marca. E eu deixei a minha. - Curvo os lábios e desato a rir. - E tu? O que deixaste tu? Nada. Só irás deixar mágoa e tristeza a todos os que se lembrarem de ti. Ódio, repugnância, nojo vem acompanhados com o teu nome.

Este tenta esconder os seus olhos marejados e aperta fortemente o caco de vidro contra a sua mão. Esta, posteriormente, começa imediatamente a sangrar.

- Pergunto-me se foi isso que a minha mãe pensou de mim antes de partir. - Simplesmente cai de joelhos no chão.

Visualizo o seu sofrimento e ver aqueles pobres olhos sem vida e desanimados... acaba por me fazer sentir a sua dor como se fosse eu na sua pele.

Como se o escritor tivesse colocado todo o fardo do rapaz à minha frente dentro do meu coração, para que eu entendesse o seu sufoco e desespero. Para que eu entendesse que ele é uma boa pessoa e tem bom coração. Apenas se uniu a quem não devia e teve de ser mais esperto. 

 O som das sirenes da polícia soam ao longe e noto o seu desânimo. Ele olhou para mim e procurou perdão, como se eu tivesse o poder de o redimir. Larguei um pequeno sorriso e este ajudou-me a levantar, encostando-me contra a árvore. 

Pensava que ia fugir, contudo ele ficou parado. 

Ia entregar-se...


Step-Brother [Z.M]Onde histórias criam vida. Descubra agora