Capítulo 89 - Destroços da muralha

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Emma

As minhas pálpebras doíam e estava a um passo de adormecer em dias. A minha preocupação era saber de Zayn, agora que ele está aqui, posso finalmente repousar um pouco. Todavia, os meus planos são arruinados quando a porta é aberta e por ela passa uma mulher. 

Arregalo os olhos e prendo a respiração ao contemplar quem é. O meu irmão levanta um pouco a cabeça, também exausto, e toda a soneira que tínhamos desaparece em uma pequena fracção de segundos.

- April?! 

- Eu mesma, Zayn. - O seu olhar cabisbaixo mostra que ela não quer estar aqui. - Eu estou aqui para vos anestesiar por uns dias...

- Sua vaca. - O meu irmão cospe amarguradamente. - És mesmo podre, tu estás com o Joseph?!

Um suspiro é largado da sua boca e a minha intuição parece dizer-me que ela no fundo não é má, ela não deseja fazer isto, estar aqui, fazer parte deste esquema. 

- Desculpem... - Pede sinceramente. - Eu nunca pensei que ele ia fazer tais coisas só para se vingar de vocês, eu pensei que... 

- Não te desculpes. - Atropelo os gritos de Zayn, e ambos fitam-me. - Mesmo que queiras sair agora, ele não deixará. 

Ela senta-se ao pé de nós fazendo pernas à chinês e coloca as seringas nos bolsos novamente, respirando fundo. O seu olhar marejado faz-me ter pena dela. 

- Eu não quero que pensem que faço isto porque quero, eu não quero que me chamem de traidora mesmo que eu o seja, pois eu tenho motivos, e apesar do meu coração apertar sempre que alguém toca neste assunto, eu irei explicar-me. - Respira fundo, tentando não desabar.

- Podes demorar o tempo que quiseres, literalmente. - O meu namorado atira secamente a boca, apontando para as correntes apertadas. 

- Quando o meu marido perdeu a vida à quase quatro meses atrás, eu perdi literalmente o meu rumo. - As lágrimas começam a escorrer pela sua cara. - Eu ficava em casa, não conseguia enxergar o mundo, eu inclusive me cortava. 

De súbito, olho para os seus pulsos e braços, confirmando a triste realidade.

- E depois? - A postura debochada e arrogante de Zayn perante esta situação dá-me vontade de lhe bater. A sério, se estivesse solta, antes de fugir, dava-lhe um murro no meio do nariz. 

- Acabei por encontrar Joseph enquanto o mesmo fugia da policia, disse que me podia ajudar, mencionou que este sentimento vazio que eu sentia poderia passar com uma droga que te faz sentir bastante bem. Tomei a primeira vez e como resultou tão bem ao ponto de ficar leve que nem uma luva, fugi à minha responsabilidade, ser policia e obrigar as pessoas a cumprir a lei. Em resumo, à pouco tempo, pediu que me mantivesse infiltrada e que fizesse o Zayn se juntar à equipa, uma vez que assim ele chamaria por mim caso soubesse demais. 

- E foi assim que acabei preso, porque soube demais, porque as rosas são a pista que pode trazer alguém para cá, certo?

- E-exactamente. - Fala cabisbaixa. 

- Quais são os planos dele, e o que te manda fazer? - Pergunto.

Quando April ia tomar a palavra, o meu irmão de sangue começa a rir e pede desculpa rapidamente. Acho estranho a atitude que ele toma e tenho a certeza que ele não está drogado, ainda. 

- Desculpa, é que o feitiço pode virar contra o feiticeiro. - Tenta manter a pose séria e grossa. - E refiro-me às queridas rosas de Joseph, sim.

A mulher continua.

- Joseph pediu-me que arranjasse uma maneira de Zayn não voltar a ver as provas, porém, ele teve uma ideia quando estávamos de caras com a porta do hospital e soaria muito suspeito se lhe desse um não como resposta. - A parceira de Shawn e Zayn fecha os olhos, tentando se lembrar mais alguma coisa. - Ah! Já sei! Ele está a tentar livrar-se dos vossos amigos, foi incendiar a escola e tenho medo que consiga. 

- Medo porquê? Tu escolheste o teu lado. 

- Medo porque eu me identifiquei com vocês, e porque fazer isto está a ser mais complicado do que eu acharia. Eu e Niall tivemos uma conversa na prisão e falamos das nove da noite até ás cinco da manhã, e meio que digamos que... eu acabei por me apaixonar por ele.

Devo ficar feliz que April goste do meu melhor amigo? 

Esta história está a envolver demasiada gente desconhecida e que achei estar morta à anos. Toda a minha realidade mudou e eu não consigo aceitar as mudanças. Eu não quero ser a Evelyn Malik, eu não quero acreditar que Lisa morreu, quando eu nem cheguei a conhecê-la! 

EU NÃO QUERO ACEITAR! 

Tudo o que vivi, tudo o que acreditei, todas as histórias do meu parto contadas por Grace foram uma mentira! E aqui estou, hoje, a saber de coisas que todos me ocultaram, a minha vida foi uma mentira, e é suposto aceitar toda a informação assim? Eu não sou de ferro, eu posso até ter uma muralha, mas neste momento, ela está tão destruída que não sei se irá sobrar algum destroço da mesma...

Pessoas que pensei confiar, pessoas debaixo do meu próprio tecto, estavam envolvidas nesta história! O pai de Zayn não tinha amor ao filho, e muito menos a mim. O meu namorado e suposto meio irmão tem o seu sangue a correr nas minhas veias, literalmente! A minha mãe biológica morreu diante de mim, sem eu mesmo saber a sua cor preferida, os seus gostos preferidos. Eu não soube nada dela. 

É suposto eu poder aguentar tudo? Pois se for, eu peço desculpa a todos, mas não consigo. Eu não consigo mais viver neste mundo e sinceramente, já pondero o suicídio. Tudo seria tão mais fácil se eu apenas... adormecesse de vez. Se fosse ter com todos os que pagaram pelas injustiças do meu passado e do Zayn, sendo inocentes. 

Se eu ao menos pudesse voltar a me reencontrar com Mia que tanto se esforçou, em vão!

April retira as seringas do bolso e limpa-me as lágrimas. 

- Eu identifiquei-me tanto convosco. Desculpem-me... - Admite, e por fim deposita a substancia no nosso organismo, pelo pescoço.

As pálpebras começam a pesar e rezo mentalmente para que não acorde,nunca mais.

Viver nos meus sonhos e pesadelos eternamente, até que me soa uma boa ideia. Pelo menos lá, poderei abstrair-me de tudo.


Step-Brother [Z.M]Onde histórias criam vida. Descubra agora