Capítulo 11 - O Abismo

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Lua ficou apavorada, chorava sem parar, ficou na posição de uma gatinha e foi engatinhando a procura de algo que pudesse se agarrar. Chovia muito, os pingos eram tão fortes e afiados que chegavam doer sua pele sensível.

- Meu Deus ! O que eu fiz, eu matei a Roque. - falava baixinho para si mesma. - Não não não, eu matei uma pessoa boa.

Ela se sentia culpada, amedrontada, perdida. Pela primeira vez naquele lugar ela se sentia uma intrusa. Seu soluço alto aos prantos ecoavam forte no vazio daquela floresta. Tudo vinha forte em sua mente; Donatto falando sobre o que aconteceria se ela resolvesse desobedecer e sair pelo mundo em busca de descobertas. Ele passava a vida dizendo que só ele a tinha Amor e preocupação, mesmo Lua sendo algo indesejável para o mundo.
Lua não queria pensar nisso mas as palavras fortes insistiam na sua cabeça - Lua você é uma praga para tudo que ousar tocar ou falar. Me ouça e obedeça para o bem de todos, para sua segurança e principalmente para os de fora, sua presença é tão indesejável que poderia causar a morte.

- Chegaaaaaaaaa ! - Gritou para si mesma. - Não aguento mais, para!

Lua se calou ofegante, respirava descompassadamente. Prosseguiu engatinhando até que tocou uma árvore e nela se agarrou. Deixou suas costas deslizar pelo tronco até o chão. Botou as mãos sobre os olhos e chorou baixinho sussurrando - Roque me perdoe, eu não queria , eu não queria.

Um barulho a fez erguer as mãos em posição de defesa e levantar os olhos.

- Quem está aí ?

Lua levantou-se e no meio daquela escuridão uma pequena Luz se mostrou. Algo naquela luz parecia chorar alto e se debater pois as batidas eram fortes e agitadas. Mesmo com muito medo ficou de pé e arriscou pequenos passos. Lua seguiu aquele caminho, a chuva insistia, a terra sedia. Tudo estava fora de controle. De mansinho ela caminhou e ficou de queixo caído ao se deparar com uma masmorra, ainda mais espantada ao vê preso em enormes troncos de árvores um animal. Um cavalo branco com um chifre no meio da testa, seu chifre dava luz a aquele lugar obscuro.
Tentou se aproximar, mas estava escorregadio demais, a chuva forte trouxe ventania, galhos, pedras, tudo vinha se arrastando pela imensa água parando somente a masmorra que levava a um infinito precipício medonho. Depois da Roque, Lua teve muito medo de tocar ou tentar ajudar qualquer ser de Pazunis, mas os gemidos de dor daquele cavalo a fez mudar de ideia. Ela pensou: só tenho que chegar aos troncos e tentar tirar um deles de cima da pata do animal, se eu não ajudar a correnteza vai derrubá-lo no precipício, não posso assistir a isso.

Com a cara e a quase coragem, Lua se arrastou pelo chão como uma serpente para que seu corpo pesado a ajudasse a não desabar feio. Chegando aos troncos se apoiou firme no tronco que prendia a perna do animal, um silêncio pairou, seu olhar se colidiu com o do animal, uma lágrima brilhante escorreu do olhar triste do animal e ele pareceu resistir a sua ajuda.

- Cavalinho calma, por favor eu só quero tirar isso aqui de cima de você.

Para piorar todo aquele inferno astral, começou a surgir raios vindo do céu negro parecendo querer os atingir, ou melhor atingi - la. Ela foi rápida no  plano, o animal a olhava intrigado, Lua sentou no tronco que prendia a pata e gritou para o céu desafiador: - Estou aqui, vamos lá atinja-me.

Lua estava morrendo de medo, mas depois de tudo que lhe vinha acontecendo para ela sua vida não iria fazer falta a ninguém, ao contrário, para ela sua vida podia tirar uma outra vida, então melhor morrer fazendo um bem.

Despertou dos pensamentos ao ouvir o relinchar do animal, se deparou com uma forte magnitude de raio vindo do céu para ela. Quase que em fração de segundos jogou seu corpo para o chão, o raio atingiu o tronco libertando o animal, o tronco se quebrou ao meio, uma parte voou longe e o outro atingiu Lua fazendo- a deslizar rumo ao abismo. O cavalo ficou agitado, galopando em direção da garota que com lágrimas no rosto esticava a mão para agarrar qualquer coisa que a fizesse parar de deslizar, o cavalo saltou e apenas seu chifre tocou a mão de Lua, só um pequeno toque resultou ao um enorme clarão. Lua deslizou sem parar ate que sentiu não haver mais chão. Era o fim da estrada. O abismo! Caiu... Ou melhor quase caiu. Uma mão máscula e forte agarrou a sua mão com muita segurança.

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