Capítulo 21

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- Você está bem ? - Tiziano perguntou-lhe, gentilmente.

Lua ergueu a cabeça e fitou-o, ainda tomada pela sensação humilhante de ter sido rotulada como um caso de caridade. Odiava que sua aparência sempre fosse em primeiro lugar. Ela não queria representar apenas um símbolo de beleza, ficou magoada com a maneira que foi tratada com Nieli. Porém, quando falou, seus olhos brilhavam com orgulho férreo.

- Sim. E obrigada por ter aparecido, pois do contrário, sua...amiga... Poderia ter me machucado seriamente.

Tiziano emitiu um suspiro, que Lua ficou sem saber se seria exasperação, alívio ou satisfação. Ela própria estava fazendo o possível para esquecer a cena deplorável que acabou de se desenrolar.

- Você apenas teve o azar de se bater com Nieli num dia ruim para ela. Mas não se preocupe. Estou certo de que isso não voltará a acontecer. Pode parecer, mais ela não é uma pessoa má, apenas fez escolhas erradas e delas obteve um castigo caro demais.

Lua sentiu uma onda de desespero invadi-la quando Tiziano se aproximou, abaixando-se, ele apanhou sua presilha de cabelo que havia caído em meio combate das damas.

- Você tem um pente ? - Ele perguntou lhe entregando a presilha.

Lua olhou para ele confusa, devia está parecendo uma bruxa para ele fazer essa pergunta besta.

- É melhor arrumar um pouco seu cabelo. - Ele explicou com um sorrisso brincalhão. - Senão poderão pensar que mal pude esperar para ataca-la.

- Ah, sim, é claro - Ela ficou encabulada ao pensar em como deveria estar desarrumada. Tentou da forma mais jeitosa possível ajeitar o cabelo num coque.

- Você vai ter de se acostumar com minha reputação de egoísta. - ele tornou a falar afastando-se. - Não me importo com o que falam, passei a vida toda fazendo coisas para agradar a toda população e reino, o que eu ganhei. Isolamento, confinamento.

- Acho que faz muito bem Sr Tiziano - ela afirmou - Mas não posso acreditar que a atitude daquela moça tenha sido apenas por achar que o senhor é egoísta. Ela me parecia muito sincera em seu envolvimento com o senhor.

Ele ergueu uma sombrancelha, com ar de cinismo.

- Sincera em seu envolvimento com a ambição, orgulho ferido e possessividade, isso sim. Tudo o que a Nieli deseja é provar algo para alguém que nem ela mesma sabe. Arrisco dizer ate que ela se rebaixa para tentar amenizar a culpa de um passado lamentável. Ela esta perdida, confusa! Sou apenas um degrau na vida dela. - Sorriu, divertido. - Espero que tenha aprendido uma lição aqui.

- Acho que sim... Ela respondeu, secamente. De fato era a primeira vez que era agredida por uma mulher enlouquecida de ciúme. Estava aprendendo bem depressa, considerando que estava ali apenas vinte minutos.

Tiziano não disse mais nada, porém Lua se manteve consciente da maneira como ele a observava, enquanto ageitava os cabelos da melhor forma que conseguiu. Era inútil tentar prendê-los novamente, pois sabia que, revoltos como eram logo começariam a se soltar. Por isso guardou no bolso do manto e deixou cair pelos ombros suas madeixas onduladas. Ao erguer a cabeça, Tiziano continuava a fita-la, com uma atenção fixa que a deixou embaraçada.

- Vermelho é a cor do desejo - ele comentou, suavemente. Lua sentiu o rosto ruborizar, como se ele tivesse lhe visto além do manto e feito uma carícia, tal a intensidade das palavras.

- O que está dizendo ? - murmurou, tentando disfarçar a agitação.

Ele sorriu e, sem nada dizer, levantou-se de repente. Lua estremeceu, temendo que ele se aproximasse, mas Tiziano deu uma volta sobre ela e depois se encostou a uma árvore.

- Começo a ter a impressão de que fui terrivelmente enganado. - falou.

- De que maneira Sr Tiziano ?

Ele se aproximou dela.

- Acho que somos duas forças opostas. Você representa o vermelho, e eu, o negro... Fomos colocados juntos contra nossa própria inclinação natural. Porém, quem poderá dizer o que conseguiremos criar juntos, ou a que força serviremos melhor ? A sua força, à minha... Ou a nossa ?

Ele passou os dedos por uma mecha sedosa de seus cabelos cor de mel. Lua permaneceu tensa, incapaz de se mover, enquanto sua mente girava, perdida em pensamentos caóticos.
Um medo irracional surgia dentro dela, provocado por aquelas palavras enigmáticas e, no entanto, ela gostava de tê-lo tão próximo.

- Você deve sempre usar seu cabelo assim - ele falou - É muito bonito. Uma promessa de fogo e paixão. O que não conseguiríamos juntos, unindo minha experiência e seu potencial ? Pensei muito nisso desde nosso último encontro, tive o primeiro vislumbre de como poderia ser. E agora, com você aqui, tudo será mais fácil.

- O que ? - sua voz enrouquecida, o medo finalmente desaparecendo por trás da fascinação que começava a sentir por aquele homem. - O que vai ficar mais fácil ?

Ele olhou profundamente dentro dos olhos dela, percebendo a apreensão que continham.

- Viver - respondeu - A resposta, quase sussurada, pareceu envolvê-la, unindo-a a ele de maneira irrevogável. Lua oscilava entre o temor e a fascinação, entre desejo instintivo de se afastar do perigo e a vontade de ficar ao lado dele.

PazunisOnde histórias criam vida. Descubra agora