Lua acordou e gemeu. Sua cabeça ainda doía, era noite. Parecia que tinha dormido o dia inteiro. Apesar da dor na cabeça se sentia descançada.
Observou tudo a sua volta e parou se sentindo envergonhada. A sua esquerda estava uma moça muito linda, exótica na verdade. A moça pareceu indignada com a presença da camponesa. Examinou Lua dos pés á cabeça, sua expressão foi se modificando, de beligerância a uma ironia zombeteira.-- Como ele se atreve a me dispensar, trocando-me por alguém como você ? - Apontou fula da vida para Lua. Disparou, seu rosto mostrava horror e desdém.
-- É um insulto !-- Eu... Desculpe-me, mas... -- Lua balbuciou, confusa e chocada pela atitude e pelas palavras da mulher.
-- Você é nada! Absolutamente nada! Um lixo, desengonçada e feia -- A mulher falava enquanto se aproximava mais de Lua, o rosto transtornado de raiva. Ergueu um braço e, sem mais nem menos, esbofeteou o rosto atônito de Lua com uma força impressionante -- Se pensa que vai rouba -lo de mim, está redondamente enganada! E isso servirá para que pense duas vezes!
Antes que Lua pudesse se recobrar do assalto inesperado, a outra já avançou em cima dela, agarrando-a pelos cabelos e desvenciado-a de seu capuz preto. Lua gritou para que parasse, mas a mulher parecia enlouquecida, lançou palavras cheias de ofensas. Num gesto de auto defesa, Lua finalmente conseguiu empurra-la, o que a fez perder o equilíbrio por alguns segundos. Mas ela logo se refez e voltou ao ataque, segurando Lua pelo manto negro tentando agarra-la. Concluindo que não havia outra alternativa, Lua tratou de se defender o melhor que pôde, detestando a necessidade de usar a força física. Conseguiu lhe da um tapa no rosto e tornou a empurra-la, desta vez com mais força. A mulher finalmente a largou, desabando sobre um arbusto, os olhos muito arregalados virando numa direção oposto. Lua também virou-se e percebeu que Tiziano estava ali, observando a cena vergonhosa. Seu rosto se contorcia de raiva e a respiração era visivelmente acelerada. Os olhos verde oceano fuzilando, faziam com que sua aparência fosse ainda mais indecifrável. Ele olhou em direção a Lua franzindo a testa, como se estivesse preocupado. Depois aproximou-se, tomou-a pelos ombros e a botou atrás dele. Lua tremia dos pés a cabeça, a respiração ofegante, numa reação à indignidade a que foi submetida.-- Seu mentiroso! -- A mulher gritou, levantando-se num salto. -- Como pode preferir está "coisa" a mim ?
Você me fez uma promessa, onde está sua palavra de honra ?-- Não estou certo de que preferência tenha algo a ver conosco -- ele respondeu, friamente. -- Já lhe expliquei os motivos para você seguir seu caminho.
-- Não acredito em você!
-- Bem, isso é problema seu. -- Tiziano deu de ombros e voltou a falar, a voz tornando-se autoritária. --Mas gostaria muito que não se comportasse como uma louca com meus hóspedes.
-- E você ainda tem coragem de me chamar de louca! -- ela gritou num tom dramático. -- Você que é um louco, só pensa em si mesmo, tem um coração gelado e... Deve ser de família, como seu irmão.
-- Então você deveria está feliz por se livrar de mim -- ele tornou a falar com um ar Cândido.
As palavras causaram o impacto desejado, a expressão dela se transformou, demonstrando frustração e desespero.
-- Você precisa de mim, Tiziano! -- ela insistiu, veemente. E eu de você, não podemos permitir que essa espécie entre mais uma vez em nossas vidas e termine de acabar com o minimo que nos restou.
-- Não quando estamos em outro tempo, Nieli -- ele falou devagar, enfatizando cada palavra. -- E foi isso o que lhe disse ontem a noite. Preciso de tranquilidade para encaixar o quebra-cabeça, e as pessoas são uma distração. Estou lhe explicando agora, novamente, e espero que você entenda. Não quero pessoas a minha volta, fazendo exigências. Quero ter liberdade. -- Fez uma pausa, enfática e prosseguiu: -- Pense em seu futuro, Nieli, pense na oportunidade que terá assim que eu recolocar tudo e toda a essência de Pazunis em seu devido lugar. Faça o que eu estou lhe dizendo. Agora ! Já criou mais confusão do que sou capaz de tolerar!
Num tom impessoal fez com que a mulher se contivesse. Ela olhou mais uma vez para Lua, com inveja.-- Se é de tranquilidade que precisa, então porque ela está aqui ? -- tornou a falar, num claro desafio. -- Você não tem a menor ciência, Tiziano. Nem mesmo me avisou que nosso compromisso estava cancelado! Eu confiei em você.
-- Como poderia cancelar algo que nem começou ou existiu ? -- ele respondeu com frieza. -- Nunca nem tive a chance de escolha, e minha paciência está começando a se esgotar, Nieli, eu já tenho problemas demais para resolver. Por favor!
-- Porque ela ? -- Nieli começou a gritar. -- Como pode ? uma pessoa horrível assim ? Mande a embora Tiziano e deixe -me ficar.
Ainda a frente de Lua, Tiziano estendeu o braço e passou-o em volto dos ombros de Lua, num gesto protetor.--Não! -- respondeu. -- Você vai; ela fica. E, se quer saber, ela não é horrível, pelo contrário, tem uma beleza que me fascinou, beleza não só exterior, mas sim, mais bela ainda por dentro. Mais do que qualquer outra coisa em toda a minha vida. Tanto que fui levado a um ato de compaixão e por mim ela ficará em Pazunis por quanto tempo desejar. Ela tem uma alma transparente e isso me ajudará a botar as coisas em ordem completamente desenvolvida. Então é isso que ela está fazendo aqui, e é por isso que ela vai ficar.
Lua sentiu o coração aperta-se ao ouvir a descrição que Tiziano fez dela. Como se a aceitasse por pura caridade. Por mais que revelasse a verdade, as palavras dele eram mais dolorosas do que todos os insultos que a mulher lhe dirigio. Nem mesmo o elogio que ele fez a sua beleza foi capaz de diminuir a dor que sentia, pois não acreditava que fosse verdadeiro. Ela fechou os olhos, envergonhada demais com toda aquela cena, não desejava ouvir mais nada. Porém não estava determinada a sofrer o que necessário, a fim de ter em troca palavras bonitas.-- Não sei se acredito em você, Tiziano. -- Nieli falou encarando com os olhos luminosos.
-- Você já está me aborrecendo, Nieli. Já fui bastante gentil em lhe explicar fatos que você nem teria o direito de saber, mas agora já chega, pedi que seguisse seu caminho. Por isso vá !
-- Ainda terei alguma chance ? -- Nieli perguntou, numa prova evidente que lhe falta amor próprio.
-- Terá as mesmas chances que qualquer outra pessoa, sabe muito bem que não estou em condições de fazer promessas.
-- Então vou deixa-lo tranquilo para reorganizar tudo, Tiziano. -- ela falou, afinal. Virou-se para Lua com um olhar de desprezo. -- E boa sorte para você e sua beleza pura. Vai precisar mesmo dela, já que não tem mais nada.
E, com estas últimas palavras amargas, deu-lhes as costas e saiu.
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Pazunis
FantasyLua Casey vivia mais um dia em sua pequena torre. Seu " conto de fadas " poderia ser comparado a Rapunzel: Presa e sozinha . A única diferença é que a Rapunzel não precisava sair da sua torre direto para um palco todas as noites, onde todos a sua v...