Capítulo 01 - Pesadelo e Morte - Parte 01

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25 de Novembro de 2012    00h03min 

Nem a súbita mudança do tempo o fizera desistir daquele encontro. Eram os primeiros minutos do domingo do feriado prolongado de Ação de Graças e o céu, antes limpo, agora se encontrava sitiado por nuvens carregadas. A chuva era apenas questão de tempo. Para Kevin, porém, um bom repórter tinha de enfrentar qualquer dificuldade em busca de uma grande matéria. E para ele aquela era a matéria do século, capaz de elevar sua carreira ao rol dos maiores jornalistas da atualidade. Logo, não seria uma simples chuva que iria detê-lo.

Por outro lado, o local onde o encontro foi marcado o incomodava. Era um velho depósito localizado ao norte de Los Angeles, completamente abandonado e quase mergulhado na escuridão, pois a maioria das lâmpadas dos postes em volta do prédio estava queimada. Caminhando pelo lugar, Kevin percebeu que outrora ele devia ter servido de depósito para alguma rede de supermercados, pois ainda havia sobras de produtos dentro de caixas abertas ou rasgadas. Diante disso, o jornalista se perguntou se haveria ali invasores que usavam o prédio como moradia, ou se o estado daquelas caixas era apenas serviço de ratos.

O horário marcado para o encontro era à meia-noite, o que significava que seu contato estava atrasado e nem sequer ligara para se justificar. Isso deixou Kevin ainda mais preocupado, pois tudo que sabia da pessoa quem ia encontrar era o objetivo que ele dizia ter. O primeiro encontro deles ocorrera há mais de um mês, num restaurante próximo ao Los Angeles Times. O homem fizera contato via telefone e disse que pretendia revelar uma verdade que abalaria a sociedade americana. Kevin, no entanto, disse que não trataria de um tema assim por telefone e foi enfático ao avisar que só daria prosseguimento ao assunto numa conversa cara a cara.

No dia seguinte, quando um negro alto e corpulento adentrou o restaurante, Kevin soube, pela descrição ao telefone, que era o homem que aguardava. Com um rápido aceno, chamou-lhe a atenção para ir ao seu encontro. Mal o homem se sentou, um garçom se aproximou, mas foi logo dispensado pelo jornalista, o qual só indagou o recém-chegado após o garçom se afastar.

– Ok, vamos começar – disse Kevin, olhando firme nos olhos do homem à sua frente. – Qual é o seu nome?

O homem olhou primeiro à sua volta, parecendo preocupado. Só depois encarou Kevin e respondeu: – Meu nome não é importante, mas sim o que eu posso lhe oferecer.

– Não posso tratar de algo com você sem saber seu nome – protestou o jornalista.

O homem olhou firme para Kevin e levantou-se abruptamente, dizendo: – É melhor eu ir embora.

– Você só pode estar de brincadeira! – exclamou Kevin, incrédulo.

– Preste atenção, Sr. Giuliani – disse o desconhecido, baixando o tom de voz e falando quase aos sussurros. – O que eu tenho a lhe oferecer é muito mais do que você tem pra mim; porém, se quiser ter acesso a isso, vamos jogar pelas minhas regras, e elas não incluem qualquer informação que possa me comprometer. Se você concorda, tudo bem; caso contrário, eu vou embora.

Por um breve momento ambos ficaram calados, mas quando o homem ameaçou sair, Kevin quebrou o silêncio: – Está bem, faremos do seu jeito.

Mal o homem se sentou novamente, Kevin prosseguiu: – Agora vamos ver que tipo de bomba você tem aí.

À medida que tomava conhecimento da história do outro, o interesse do jornalista só aumentava. Realmente era algo que, se provado, provocaria o maior escândalo dos últimos tempos; por conseguinte, faria a carreira de Kevin Giuliani decolar de modo exorbitante. Algo, porém, o preocupava agora ao aguardar sozinho ali: aquele lugar escuro e abandonado, somado ao fato de ele não saber nada a respeito do homem misterioso. E se fosse uma armadilha? E se o tal homem fosse um assassino?

Sagrada Maldade - Caçada aos MultiplicadoresOnde histórias criam vida. Descubra agora