Capitulo 13 - Funeral - Parte 1

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02h35min - Hakim não estava conseguindo dormir. Após se revirar na cama, pensando numa forma de deixar o país, ele decidiu descer até o térreo para acessar a internet. Mas, ao deixar o elevador, sentiu receio em avançar pelo corredor. Temia que o recepcionista ou outra pessoa no saguão o reconhecesse, após sua infeliz ideia de invadir a mansão de George Banks. Se tivesse dado ouvidos a Charlize, Hakim não teria agora de arcar com o resultado de sua ação intempestiva – a fama repentina e nefasta que o vídeo editado e exibido em rede nacional lhe trouxera, dando a seu rosto tal evidência que seria difícil não ser identificado por alguém.

Num breve surto de pânico, chegou a pensar na possibilidade de o recepcionista já ter ligado para a polícia para avisar que ele estava ali. Suspirou aliviado, porém, ao lembrar que fora Charlize quem dera entrada no hotel. Menos receoso, decidiu então que precisaria arriscar, pois precisava ver algumas coisas na internet. Caminhando devagar pelo corredor, ele ouviu um som que vinha da recepção. Ao se aproximar, notou que era a TV quem tomava toda atenção do recepcionista. Distraído, o homem calvo e de barba rala nem percebeu quando Hakim entrou na sala onde estavam os computadores.
A primeira coisa que Hakim notou foi que a sala estava vazia, e isso o agradou sobremaneira, pois precisava de privacidade.  Rapidamente, ele acessou um dos computadores e tratou de conferir o saldo de sua conta.

– Acho que dá para sobreviver por uns dias – sussurrou, ao ver quanto dinheiro lhe restava ali.

A seguir, Hakim não resistiu à curiosidade de avaliar o quão famoso estava. Digitou seu nome no Google e surpreendeu-se com a quantidade de resultados. Era sem dúvida muito mais do que ele esperava. O vídeo dele tomando Anne Banks como refém havia se tornado viral. Ao acessar algumas páginas que tratavam do assunto, Hakim percebeu que sua situação era crítica. Além da polícia, o FBI fora colocado no caso; portanto, se havia um momento oportuno para deixar o hotel, era agora. Era muito mais seguro sair dali à noite. Pensando nisso, ele se levantou para voltar ao quarto, mas uma pessoa que acabara de chegar à recepção o fez recuar e permanecer onde estava.

Algo naquele homem o pôs em alerta. Por isso, foi de modo sorrateiro que Hakim se arriscou a espiar o outro e constatar que se tratava de um homem de tez escura como a dele, bem alto e de compleição robusta. Ele parecia estar pedindo uma informação ao recepcionista, mas infelizmente Hakim não conseguiu ouvir o que era, devido ao volume da televisão. Tão logo o homem deixou a recepção em direção ao elevador, Hakim deu mais uma espiada e viu o recepcionista voltar de novo sua atenção ao programa de tevê. Percebeu então que era hora de subir para o quarto e acordar Charlize para ambos darem o fora dali.
Percorrendo o corredor com cuidado para não ser notado pelo homem que seguia adiante, Hakim decidiu que era melhor usar a escada. Não valia a pena se arriscar a ser reconhecido. Ainda assim, ousou passar em frente ao homem, quando este já estava dentro do elevador, e dar uma última olhada no sujeito, o qual nem percebeu sua presença, uma vez que olhava fixamente o painel dos botões para escolher o andar ao qual iria.

– De onde eu conheço esse cara? – murmurou Hakim, tendo a sensação de já tê-lo visto antes.

Na subida das escadas, ele tentou em vão se lembrar do sujeito; porém, ao perceber que seu esforço era nulo, deixou o fato de lado, pois tinha outras preocupações a considerar, especialmente como sair dali em segurança. Sua ideia era deixar Charlize fazer o check-out enquanto ele esperaria por ela no estacionamento. No entanto, seu plano abruptamente evaporou assim que atingiu a metade do último lance de escadas. Foi dali que ele viu, parado em frente à porta do quarto onde ele e Charlize estavam hospedados, o mesmo homem que vira antes entrando no elevador.
Silenciosamente, Hakim recuou uns três degraus enquanto agradecia a Deus pelo fato de o velho hotel não possuir portas corta-fogo ao final de cada lance de escadas, de modo que o acesso ao corredor de cada andar era aberto. Caso não fosse assim e existisse uma porta ali, ela o teria denunciado assim que a abrisse. Mais uma vez sua mente se pôs a divagar sobre quem poderia ser aquele homem e o que ele estava fazendo ali. Uma coisa era certa: toda cautela se fazia necessária. Por isso, Hakim aproveitou-se do fato da porta de seu quarto ficar exatamente em frente à escada para se agachar nas sombras e observar o sujeito.

A princípio, Hakim imaginou que o outro fosse um policial. E isso de certo modo o tranquilizou, pois não seria difícil Charlize se livrar dele, visto que ela não estava sendo procurada pela polícia, nem havia registros que a ligassem a Hakim. Porém, bastaram uns segundos para Hakim excluir essa possibilidade. Assim que viu o homem tirar do bolso duas barras finas de metal e introduzi-las na fechadura, teve certeza de que não se tratava de um policial. Mais do que nunca ele precisava se lembrar de onde aquele rosto lhe era familiar. Sob o efeito da descarga de adrenalina que a situação causou, de repente, como num flash, sua memória lhe revelou quem era o homem. Infelizmente, a descoberta não era nada boa. Aquele rosto estava no dossiê que ele tinha sobre os mercenários a serviço de George Banks.

– Gibson! – lembrou-se justo no momento em que o invasor sorrateiramente adentrava o quarto, após abrir a porta. – Oh meu Deus, se eu não agir, ele vai matar Charlize!

Mesmo sabendo que Gibson certamente estava armado, Hakim caminhou em direção à porta do quarto. Tomando cuidado para não fazer barulho, ele recostou-se na parede e arriscou uma espiada para dentro. Foi nesse momento que viu Gibson puxando o lençol da cama com cuidado, enquanto sacava uma pistola com silenciador. Sem pensar em mais nada, num misto de desespero e total falta de bom senso, ele correu e se jogou sobre Gibson enquanto gritava:

– Cuidado, Charlize!

Quando atingiu Gibson com seu corpo, Hakim teve a sensação de chocar-se contra uma rocha. O impacto o fez cair na cama enquanto aquele gigante nem ao menos um passo recuara. A única coisa boa que aconteceu foi que o homem deixou cair sua arma.

– Saia daqui agora, Charlize! – bradou Hakim, enquanto observava ela pular da cama assustada e correr em direção à porta.

Sagrada Maldade - Caçada aos MultiplicadoresOnde histórias criam vida. Descubra agora