Capítulo 07 - Amargas Lembranças - Parte 8

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Ter encontrado aquele pano deixou Bryan mais animado. Talvez, com um pouco de sorte, ele ainda encontrasse mais alguma coisa. Sendo assim, largou o retalho sobre o banco e se ajoelhou, esticando o braço à procura de mais alguma coisa. Para sua alegria, além dela, seus dedos tocaram outro objeto. Apesar da curiosidade, Bryan teve receio de apanhá-lo de imediato. Não queria correr o risco de danificá-lo já que nele poderia haver uma nova pista do assassino. Por isso, optou por pegar primeiro a lanterna. Com ela, iluminou o local, para só depois pegar o que ele prontamente reconheceu. Era o celular do irmão.

Uma vez de posse do aparelho, Bryan sentou-se no chão, escorando-se na lataria do carro. A seguir, apertou uma tecla do telefone e o visor se iluminou, indicando um timer que mostrava uma gravação recente feita no celular. Ansioso para ouvi-la, Bryan iniciou a reprodução.

– O que foi? Mudou de ideia?

– Você leu esse dossiê?

– Quem é você?

Responda a pergunta que lhe fiz!

É melhor você sair de meu carro.

– E é melhor você me responder logo se leu esse dossiê ou não?

– Sim, eu li, mas agora saia do carro, e então conversaremos.

O diálogo mostrava uma voz que Bryan reconheceu de imediato. Era a voz de Kevin. Quanto à outra voz, ele não fazia ideia de quem seria. Após um breve instante de silêncio na gravação, a voz do irmão voltou a ser ouvida, dando prosseguimento à conversa.

– Ora, se você não desce, desço eu primeiro!

– Lamento, mas você não decide o que faremos.

– Do que você está falando?

– Disto!

O que ouviu depois foram gemidos e sons que indicavam uma tentativa de resistência por parte de Kevin. – Foi aqui que o miserável usou o pano – concluiu Bryan, enfim sabendo a razão pela qual não encontrara vestígios de sangue. Kevin não havia sido assassinado no carro. Ali ele fora apenas sedado.

Passados mais alguns segundos, a voz misteriosa voltou a soar na gravação: – Você não deveria ter lido esse dossiê. Depois disso, nenhuma palavra mais foi dita. Tudo que Bryan escutou foram os sucessivos barulhos que indicavam as portas do veículo sendo abertas, provavelmente correspondentes ao momento em que o assassino desceu e em seguida retirou Kevin do carro.

A gravação prosseguiu com mais alguns segundos de silêncio, que logo foi interrompido pelo ronco de um motor. Isso indicava a presença de um segundo veículo no local. – Daqui ele deve ter ido direto para a boate – deduziu Bryan.

Pensou então em se levantar para tentar encontrar as marcas do segundo carro; porém, ao mover o corpo, uma luz forte iluminou o terreno. Colocando a cabeça rente ao solo, ele espiou por baixo do carro para ver de que se tratava. A luminosidade vinha de um carro que acabara de atravessar o portão de entrada.

– Merda! – praguejou Bryan, enquanto jogava o telefone celular do irmão dentro de sua mochila. Sem fazer ideia de quem estava chegando ali, Bryan só sabia que precisava se esconder. E rápido. Sem hesitar, aproveitou-se de que o carro lhe dava cobertura e começou a rastejar em direção ao portão do depósito.

Instantes depois, Bryan já estava do lado de dentro, espiando pelo vão do portão quem era o visitante inesperado. Tão logo o veículo estacionou, e o motorista desceu, ele soube de quem se tratava. Era Vincent Morris, seu colega de FBI. O pior é que ele não estava sozinho. Vinha acompanhado de alguém que, mesmo estando fora do campo de visão de Bryan, teve sua voz reconhecida por ele assim que falou:

– É o carro de Kevin! – exclamou Jerry.

– Vou pegar o equipamento e contatar o escritório – afirmou Vincent.

– Tudo bem. Enquanto você faz isso, eu vou dar uma olhada dentro do depósito – disse Jerry, já puxando uma lanterna do bolso.

A decisão de Jerry irritou Bryan. – Porra, Jerry. Tem de querer entrar aqui logo agora? – pensou ele. Mas como não adiantava reclamar, ele buscou sair dali o mais rápido possível antes de precisar dar explicações que o fariam perder muito tempo. Por isso, levantou-se e caminhou em direção ao antigo escritório do depósito, onde estava a porta lateral pela qual entrara no prédio. Como o uso da lanterna estava fora de cogitação, pois podia chamar a atenção dos colegas, Bryan seguiu devagar pelo local mergulhado no breu, indagando-se onde estava o escritório. Só que quando chegou à metade do caminho, acabou se chocando contra uma pilha de latas que, ao caírem no chão, provocaram grande barulho. Isso chamou a atenção de Jerry, que no mesmo instante sacou sua arma.

– Tem alguém lá dentro, Vincent! – exclamou Jerry. – Eu vou entrar!

Iluminando o portão, ele localizou o vão por onde Bryan passara e decidiu também entrar por ali. Vincent ainda tentou impedi-lo: – Não, Jerry. Pode ser perigoso.

No entanto, Jerry não lhe deu ouvidos e entrou. Bryan, por sua vez, deixou a prudência de lado e ligou a lanterna, localizando rapidamente o escritório. Ele correu até lá e fechou a porta atrás de si. Depois, colocou a mochila no ombro e rumou em direção à porta de saída. Logo atrás, vinha Jerry, iluminando todos os cantos com a lanterna e gritando: – Quem está aí? Apareça, eu só quero conversar!

Já do lado de fora do depósito, Bryan tentava localizar a fenda na cerca que usara para entrar no terreno, pois o portão da frente não era opção. Por ali, poderia acabar sendo visto por Vincent. Quando enfim a localizou, respirou aliviado e correu até ela; porém, ao tentar atravessá-la, a mochila no seu ombro enroscou-se no arame, impedindo sua passagem. Sem conseguir avançar nem tirar a mochila, Bryan sentiu-se completamente acuado, mas buscou manter a calma e encontrar um jeito de sair dali, pois sabia que Jerry poderia surgir no pátio a qualquer momento.

Dentro do depósito, Jerry, por sua vez, já localizara a porta do escritório e foi até ela, abrindo-a com um chute, enquanto segurava a lanterna numa mão e a arma na outra, pronto para atirar caso fosse necessário. Não havia ninguém lá; porém, uma porta entreaberta chamou sua atenção.

Sentindo a calma esvair-se, Bryan arriscou uma tentativa. Apoiou os cotovelos com força no chão e, usando ambas as pernas, empurrou o corpo com força, conseguindo finalmente se libertar. Segundos depois, Jerry surgiu no pátio e iluminou a fenda na cerca com a ajuda da lanterna, mas Bryan já não estava mais lá. Mesmo assim, Jerry caminhou até o lugar, olhando para todas as direções enquanto falava consigo mesmo: – Tinha alguém naquele depósito. Tenho certeza.

Quando ia dar meia-volta, algo brilhante sob uma folha de jornal o fez parar. – O que temos aqui? – disse ele, agachando-se para conferir o objeto. Quando pôs os olhos nele, espantou-se: – Não acredito!


Sagrada Maldade - Caçada aos MultiplicadoresOnde histórias criam vida. Descubra agora