Capítulo 15 - Cara a Cara - Parte 2

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16h58min - As coisas estavam agitadas na Wilshire Boulevard. A confusão oriunda da perseguição a Hakim causou furor na cidade. Somada a isso, a prisão de Charlize também chamou a atenção da imprensa, que tentou, mas não conseguiu ter contato com a prisioneira. Tão logo Paul chegou abruptamente com ela e entrou o mais rápido possível no prédio do FBI, os "abutres sedentos por carniça", como eram chamados por alguns agentes, começaram a interromper o trânsito, causando protestos dos motoristas que trafegavam pelo local. Do alto do prédio, através da janela, Robert acompanhava tudo sem grande interesse. Ele sabia o que os jornalistas pretendiam com aquilo, mas não estava disposto a ceder.

A chegada de Vincent à sala de reuniões fez Robert largar a cortina e virar-se para os presentes a quem tinha convocado para estar ali, e logo em seguida perguntar: – Alguma notícia de Thompson?

– Nada ainda, senhor. Já tentei várias chamadas, mas ele não atende – respondeu Adam. – O mais estranho é que o telefone continua no mesmo lugar.

– Quero que faça o seguinte, Heinfield: entre em contato com o departamento de polícia mais próximo e peça apoio a eles – orientou Robert. – Peça que mandem uma viatura para averiguação. Nosso agente pode ter sido abatido no local.

Adam levantou-se rapidamente para cumprir a ordem dada pelo chefe. Assim que ele deixou a sala, o diretor voltou a falar: – E então, Miller, nossa prisioneira deu alguma pista sobre o paradeiro de Hakim?

Antes de responder, Paul levantou-se da cadeira e deu uns passos pela sala, de modo a teatralizar ainda mais a resposta que daria. Ele estava tão cheio de si pela prisão feita que mais parecia um pavão desfilando pelo terreiro. – Infelizmente não, senhor – respondeu ele. – Mas, se me der a chance de interrogá-la, eu...

– Vou deixar que Sharon converse com ela – interrompeu Robert.

Conhecendo a ausência de sutileza de Paul, Robert não pretendia mais deixá-lo chegar perto de Charlize. Decepcionado, o agente voltou a sentar-se, enquanto Sharon se levantava, indagando: – Tem certeza de que prefere que eu faça isso?

– Tenho. Acho que uma abordagem feminina pode surtir um efeito positivo nesse momento – disse Robert. – Tente primeiro descobrir qual a ligação dela com Hakim.

– Tudo bem, senhor – concordou Sharon. – Vamos ver o que eu consigo.

Quando Sharon saiu da sala, ela viu Adam finalizando uma ligação e aproximou-se da mesa dele. – Eles vão ajudar? – perguntou ela.

– Disseram que sim – respondeu Adam. – Vão mandar uma viatura para lá.

– Espero que Jerry esteja bem – disse ela, mostrando preocupação.

– Vivo eu sei que ele está. Agora quanto a estar bem, acho que não.

– Por que está dizendo isso? – questionou ela.

– Porque alguém naquele estado não pode estar bem – disse ele, apontando na direção do elevador.

Virando-se para trás, Sharon surpreendeu-se com o que viu. O elegante Jerry havia sido substituído por outro que mais parecia um trapo humano. Seu terno estava todo amarfanhado e sujo, a camisa rota e entreaberta saía das calças, e o andar ligeiramente trôpego indicava que o rapaz não estava nada bem. Trazia no pescoço marcas de ranhura do calibre de um fio grosso, e um hematoma marcava o rosto emoldurado por cabelos desgrenhados, que destoavam do costumeiro garbo do rapaz.

– Cara, o que aconteceu com você? – questionou Adam. – Foi atropelado?

– Praticamente – disse ele, sem entrar em detalhes.

Sharon se aproximou dele e levou a mão ao seu rosto, enquanto dizia: – O que foi isso? Você está todo machucado.

Desvencilhando-se dela, Jerry foi direto ao que lhe interessava naquele momento: – Conseguiram prender Hakim?

– Infelizmente não – informou Adam. – Ele escapou.

– Merda! – descontrolou-se Jerry, golpeando a mesa com o punho cerrado. – Eu quase o peguei!

– O que deu errado?

– Quando eu estava prestes a prendê-lo, surgiu uma mulher que também estava muito disposta a pegá-lo.

– E o que aconteceu?

– Acabei tendo de lutar com ela. Mas, como vocês podem ver, eu acabei levando a pior – disse ele, apontando para si mesmo.

– Você está me dizendo que você, um ex-soldado do exército mais poderoso do mundo, apanhou de uma mulher? – perguntou Adam, segurando-se para não rir.

– Isso mesmo. Aquela mulher parecia uma ninja com TPM! – disse Jerry, lembrando-se dos movimentos dela.

– E quem era essa mulher? – questionou Sharon. – Charlize não poderia ser.

– Não faço ideia. Foi tudo muito rápido. Além disso, ela usava um capuz que não me permitiu ver seu rosto – explicou Jerry. – Mas talvez isto nos ajude a descobrir – ele completou, tirando sua arma do bolso e colocando-a sobre a mesa.

– Essa não é sua arma? – perguntou Sharon, curiosa ao ver o objeto envolto num saco plástico.

– Sim, é minha arma, mas aquela mulher tocou nela. E a louca estava sem luvas – explicou ele. – Por isso preciso que Vincent a examine para ver se consegue, através das digitais, descobrir a identidade dela.

– Boa ideia – disse Adam. – Mas Vincent ainda está na reunião com o diretor.

– Droga!

– Por que não vai até o banheiro e lava esses ferimentos? – sugeriu Sharon. – Caso a reunião termine antes de você voltar, eu peço a Vincent que faça a análise da arma.

– Obrigado, Sharon – disse ele, já caminhando em direção ao banheiro. – Só me diga mais duas coisas: quem é a tal Charlize e como tinha tanta certeza de que não podia ser ela a mulher que me atacou?

– Charlize Harper é a mulher que acompanhava Hakim. Paul conseguiu capturá-la.

– Ela está aqui?

– Sim. Está na sala de interrogatório.

Nem bem ouviu aquilo, Jerry saiu correndo em direção aonde Charlize estava.

– Ei, aonde você pensa que vai? – gritou Sharon.

– Descobrir onde Hakim está!

Preocupada com a reação dele, Sharon foi atrás, mas antes instruiu Adam: – Avise o diretor!

Sagrada Maldade - Caçada aos MultiplicadoresOnde histórias criam vida. Descubra agora