Capítulo 14 - Caçado - Parte 4

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15h28min

Charlize dava graças a Deus por eles terem alugado um carro mais antigo, pois, além de potente, o Mustang era resistente. Isso acabou sendo vital para ela vencer a primeira barreira imposta pela polícia de Los Angeles na esquina da North Larchmont Boulevard com a Beverly Boulevard. Ela havia apostado em abrir caminho à força, jogando o carro contra a barreira; todavia, segundos antes, percebeu uma brecha sobre a calçada e, sem pestanejar, acelerou e fez uma rápida guinada para passar por ela. No entanto, devido à proximidade, não conseguiu desviar-se por completo, e a traseira de seu lado do carro chocou-se contra um dos carros da polícia. A força do impacto fez a lateral direita do veículo arrastar-se pela parede de um prédio, soltando faíscas, até que finalmente Charlize retomou o controle e pôs o carro de volta à rua. Aquele contratempo, porém, permitiu a aproximação da mulher da moto.

– Ela está bem próxima da gente agora! – gritou Charlize.

– Ao menos não está atirando em nós! – disse Hakim, que de tão apavorado com a última manobra da amiga nem piscava.

O que Hakim não sabia era que ele havia falado cedo demais. A mulher fez a moto roncar estridente, ao exigir do motor o máximo que ele podia oferecer, e assim ultrapassou o Mustang. Logo a seguir, resolveu atacar o carro exatamente como fizera com o Audi. Desta vez, porém, ela preferiu arremessar o capacete contra o vidro, ao invés de bater nele. O susto que Charlize e Hakim tiveram não foi nada comparado à surpresa que os passageiros do Audi expressaram. – Mas que porra é aquela?! – disse Jerry, espantado. – Aquela mulher só pode ser bipolar. Primeiro, ataca a gente, agora ataca eles!

– Já sei por que ela nos atacou – disse Bryan. – Ela quer chegar até ele primeiro!

– É melhor você acelerar mais, ou ela vai acabar conseguindo! – exclamou Jerry.

– Não vai, não! – disse ele, antes de afundar o pé no acelerador. – Ninguém vai chegar àquele miserável antes de mim!

Jerry ficou calado ao ouvir aquilo, mas decididamente ele não concordava com o irmão. – Terei de chegar a Hakim antes desses dois – pensou.

Apesar do susto, Charlize não teve dificuldade para controlar o carro após o ataque da misteriosa mulher. Ao contrário do que ocorrera com o Audi, o capacete havia atingido o lado direito do vidro dianteiro do Mustang, e os estilhaços caíram sobre Hakim. – Você está bem? – perguntou ela a ele.

– Não. Eu não estou bem! – berrou Hakim, enquanto se livrava dos cacos de vidro em sua roupa. – Essa vadia me deixou irritado!

Hakim pegou a arma em sua bolsa, engatilhou e em seguida colocou parte do corpo para fora da janela. – O que você vai fazer? – questionou Charlize.

– Vou revidar! – respondeu ele.

Mas antes de ele atirar, o veículo chacoalhou ao passar por um buraco, e o tiro desviou-se do alvo, explodindo no vidro de um carro estacionado. – Não faça isso! – protestou Charlize. – Vai acabar atingindo um inocente.

Ao ver, porém, que Hakim não lhe dera ouvidos e se preparava para efetuar um novo disparo, ela fez uma curva brusca para a direita, o que a fez deixar para trás a Silver Lake Boulevard e entrar na North Virgil Avenue. – O que você está fazendo? – foi a vez de ele perguntar.

– Protegendo inocentes e nos livrando daquela mulher – explicou Charlize.

– Então aproveite e nos livre deles também – disse Hakim, ao notar que o carro que Bryan dirigia continuava a se aproximar do deles.

– Estou tentando, Hakim!

Bryan entrou logo atrás e não conseguiu evitar que o Audi invadisse a calçada. Por sorte não havia pessoas naquele momento, e rapidamente ele recolocou o carro na pista. Num vago lugar de sua mente, sabia quão perigosa para si e para outros era aquela perseguição, e sua respiração pesada era um sinal da tensão que o invadia. Nada, porém, o faria desistir, de modo que mantinha o pé firme no acelerador e o foco no Mustang.

– Cuidado! – gritou Jerry.

– Atire nos pneus do Mustang! – mandou Bryan.

– Você está maluco? – indagou Jerry. – Não vou fazer isso!

Irritado com a recusa de Jerry, Bryan expressou sua raiva apertando o volante com força e espremendo ainda mais o acelerador após trocar de marcha. Ele estava decidido a investir contra o Mustang após uma rápida aproximação. Assim, segundos depois, Bryan conseguiu emparelhar seu carro ao lado esquerdo do veículo dos fugitivos. Ao olhar para o lado, Hakim instantaneamente entrou em pânico quando viu Bryan sacar uma arma para fora do Audi. Ele não pôde evitar de pensar que iria morrer. Mas, antes que Bryan pudesse atirar, Jerry interveio segurando-lhe o braço: – Pare com isso!

– Solte meu Braço, Jerry!

– Não vou deixar você matá-lo! – gritou Jerry.

Vendo aquilo, Hakim começou a gritar: – Acelere,Charlize. Acelere!

Quando ela percebeu que estava se aproximando da esquina, decidiu fazer uma manobra arriscada: exigiu um pouco mais do motor do Mustang e virou bruscamente o volante para a esquerda. A violência daquela guinada foi tanta que os pneus do lado esquerdo saíram do chão, e o carro só não capotou porque acabou batendo de lado na lateral de um carro que vinha cruzando a rua.

Bryan, que vinha logo atrás, quase se chocou contra uma casa do outro lado da rua, mas foi impedido a tempo por Jerry, que se agarrou ao volante enquanto Bryan pisava no freio. Os pneus do Audi cantaram desafinados na pista enquanto tentavam se agarrar ao solo. Marcas negras de borracha queimada surgiram no asfalto enquanto ambos agarrados ao volante tentavam controlar o veículo. Quando o carro finalmente parou, estava a menos de um metro da parede de uma casa. Aliviado, Jerry levou a mão à porta para abri-la e descer do carro, mas Bryan foi mais rápido e engatou a ré, tentando trazer o carro de volta à pista. Durante essa manobra, o pneu traseiro do lado esquerdo não resistiu e acabou estourando. – Droga – praguejou Bryan.



Sagrada Maldade - Caçada aos MultiplicadoresOnde histórias criam vida. Descubra agora