Ouvindo isso, Jerry resolveu se manifestar. – O senhor saberia dizer por que o assassino cortou os pulsos do meu ir... – ele interrompeu-se ao notar o que estava prestes a dizer – ... da vítima? – consertou. – E por que, diabos, o enforcou?
– Em relação ao enforcamento, não faço a mínima ideia. Já sobre os cortes nos pulsos posso dizer que foram imprecisos, e não teriam matado a vítima. Isso poderia ter feito o assassino apelar para o tiro.
– Pode ter sido um ritual!
Nesse momento, todos se viraram para encarar Sharon, que até então não dissera uma palavra. Ela, por sua vez, procurou Robert Preston com o olhar, como se quisesse a aprovação dele antes de prosseguir. – Um ritual? – indagou o chefe, instigando-a a continuar.
– Isso mesmo, senhor. Fiz uma pesquisa e descobri que assassinatos com circunstâncias parecidas já ocorreram em outros locais do país nos últimos dez meses – disse ela, abrindo uma pasta e espalhando alguns papeis diante dos participantes da reunião. – Em todas essas fotos há dois fatos que coincidem. O tiro na testa e o corte nos pulsos.
– E quanto ao enforcamento? – questionou Robert. – E por que acha que isso está ligado a algum ritual?
– Vejam bem – disse ela, passando os olhos por todos na sala. – Pesquisei cada caso nas últimas horas, e todos eles têm algo em comum; além do tiro e cortes nos pulsos, nenhum deles foi resolvido até agora. Isso pode abrir um precedente para um serial killer.
Ao dizer isso, ela fez uma pequena pausa como se quisesse dar um tempo aos colegas para pensarem no que estava dizendo. Logo, porém, prosseguiu: – E se estamos lidando com um serial killer, a forma como ele executa suas vítimas pode atender a uma sequência. Os cortes nos pulsos, por exemplo, podem ser sua assinatura. Sua forma de deixar uma mensagem – explicou ela. – Quanto ao enforcamento, talvez Kevin estivesse numa reportagem investigativa que o levasse ao assassino, e este, ao matá-lo, decidiu acrescentar algo que levasse a polícia à outra direção.
Todos estavam prestando atenção ao que Sharon dizia, exceto Paul Miller, que parecia entediado. E Robert percebeu isso. – Então, Miller – falou Robert, olhando para Paul com um olhar penetrante. – Foi você quem foi até o Los Angeles Times. Descobriu se Kevin estava trabalhando em algum caso que pudesse colocar sua vida em risco?
– Conversei com alguns colegas dele, senhor. Mas nenhum deles soube dizer se ele estava envolvido em algo perigoso – respondeu Paul, permanecendo com a expressão tediosa.
Robert pensou que, se Paul foi ao jornal com a mesma vontade de participar da reunião, certamente não teve interesse suficiente em conseguir alguma pista do assassino. Entretanto, não era hora de se concentrar em Paul, mas sim na continuidade daquela reunião, por isso Preston se virou e indagou Vincent Morris: – Em relação ao tiro, já temos algum resultado da balística, Sr. Morris?
– Aqui está, senhor – respondeu Vincent, passando um envelope a Robert. – As ranhuras do projétil indicam uma arma muito usada pelo exército. Uma Glock 9mm.
– Temos histórico de outra munição com essas mesmas ranhuras? – questionou Robert, enquanto olhava para a imagem da bala.
– Não, senhor. Fiz uma pesquisa e não encontrei nada. Mas, agora que Sharon nos trouxe esses outros casos, posso checá-los e ver que tipo de arma foi utilizada, além de ampliar o espectro da pesquisa para um nível nacional.
– Faça isso – ordenou Robert.
– Eu ajudo você – ofereceu-se Sharon.
Para surpresa de todos, Paul se levantou e manifestou súbito interesse pela reunião, dizendo: – Acho que nosso assassino pode ser um militar, senhor.
– E por que acha isso, Miller?
– Vincent acaba de dizer que a arma utilizada é de uso militar – falou Paul. – Some-se isso ao molde da pegada que foi tirada na cena do crime indicar um coturno militar e já temos uma direção. Nosso assassino é um soldado! – Paul falou aquilo como se tivesse descoberto a cura do câncer.
– Não necessariamente – interveio Jerry.
– Como não? Todos esses itens militares apontam para um soldado!
– Eu até concordaria com você se artigos militares fossem de uso exclusivo dos militares – respondeu Jerry. – Mas, hoje em dia, qualquer pessoa pode comprar uma faca e até mesmo um coturno de uso militar.
– E quanto à arma? – questionou Paul, na tentativa de defender sua teoria.
– Pode ser fruto do tráfico de armas – respondeu Jerry, prontamente.
Robert notou que Paul odiou a interferência de Jerry. E embora o diretor soubesse que as palavras deste faziam sentido, ele também não gostou do que ouviu. O fato do uso de equipamentos militares não ser uma restrição ao tipo de suspeito levava à investigação quase de volta à estaca zero. Por isso, tentando lutar contra o pessimismo que começava a rodeá-lo, Robert se dirigiu a Vincent novamente: – Já recebemos o resultado daquela amostra de pele?
– Sim, senhor. Mas o resultado também não é auspicioso – disse Vincent em tom desanimado. – Não encontramos nada no banco de dados.
Antes que pudesse perceber, Robert já estava praguejando em alto e bom som: – Que merda! Quer dizer que não temos nada? Quer dizer que o Dr. Brooks morreu em vão? – indagou Robert, sem nem saber se estava fazendo aquele pergunta aos outros ou a si mesmo.
Assustados com a reação do diretor, todos na sala permaneceram calados. Até que duas batidas na porta quebraram o silêncio. – Quem é? – bradou Robert, parecendo furioso com aquela interrupção.
Quando a porta se abriu, Adam Heinfield enfiou a cabeça pelo vão e respondeu: – Sou eu, senhor – respondeu ele, esforçando-se para não gaguejar.
– O que você quer, garoto? – Robert o encarou feio. – A não ser que você tenha descoberto quem é o assassino, dê o fora daqui!
Vendo que Adam trazia um DVD na mão direita, Jerry notou que era hora de tomar conta da situação. – O DVD está pronto, Adam?
– Sim – respondeu Adam. E tomando cuidado para não olhar para o chefe, o jovem analista de sistemas entrou e alcançou o DVD a Jerry.
– Que DVD é esse? – indagou Robert. – O que há de tão importante nele para a reunião ser interrompida?
– Nosso primeiro suspeito! – disparou Jerry.
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Sagrada Maldade - Caçada aos Multiplicadores
Misterio / SuspensoEm 1975, num pobre vilarejo da Etiópia, dois misteriosos homens recrutam um jovem para uma enigmática e ambiciosa experiência. Porém, algo sai errado, e o resultado desse experimento é o maior vírus da história da humanidade. Quase quarenta anos dep...