Casa de BryanGiuliani – 22h28min
O banheiro estava tomado pelo vapor que vinha da água quente do chuveiro. Com as mãos apoiadas no vidro do box, Bryan deixava o líquido cair sobre suas costas. Era uma tentativa inútil de relaxar; pois, embora a musculatura tensa de seu corpo estivesse reagindo, sua mente ainda se encontrava rodeada de pensamentos que o deixavam angustiado. Um desses pensamentos vinha acompanhado de uma imagem. Tratava-se do rosto do homem que ele vira saindo do prédio onde o irmão morava, e que era, para ele, ao menos àquela altura dos acontecimentos, o principal suspeito do assassinato.
Terminado o banho, Bryan ignorou o frio e deixou o box ainda nu. Com o corpo molhado, ele parou em frente ao espelho embaçado, que prontamente limpou usando uma das mãos. Sua imagem mostrava uma aparência até certo ponto renovada, apesar do cansaço. Surpreso, Bryan esperava que o espelho projetasse sua dor, mas a imagem era incapaz de refletir quão duro golpe havia sido a morte do irmão. E o pior era o peso que tudo isso acrescia à morte de Susan, que ele nem sequer havia superado ainda.
A insegurança de fracassar novamente dilacerava-lhe o íntimo como agulhas ferindo sua pele. A despeito disso, respirou fundo, em busca de forças para prosseguir, e olhou para o espelho, dizendo: – Não posso falhar com você, Kevin. Não posso falhar como eu falhei com Susan.
Quando tocou no nome de Susan, seus olhos através do espelho se depararam com a banheira. Ele girou o corpo, aproximou-se dela e tocou de leve na sua borda, o que fez sua mente imergir em saudosas lembranças. Fora ali que ele e Susan relaxaram muitas noites juntos, após um dia de trabalho. De repente, porém, ele retirou bruscamente a mão da banheira como se tivesse levado um choque. A visão do instante quando encontrou o corpo sem vida dela, banhado numa mistura de água e sangue, assombrou-o, trazendo-lhe à memória que também havia sido naquela banheira que seus sonhos com a mulher amada foram brutalmente interrompidos.
Quando o toque do telefone interrompeu aquela lembrança, Bryan sentiu-se aliviado. Enrolando a toalha na cintura, ele correu até o quarto para atender a ligação. E ao conferir quem era, disse brusco: – O que você quer, Jerry?
Apesar da forma seca como o irmão o atendeu, Jerry preferiu ser objetivo e disse: – Preciso que você me encontre lá no bar.
– Agora? Já viu que horas são?
Jerry sabia que o problema não era a hora, mas a tendência de Bryan em se isolar toda vez que sofria uma perda. Esse era seu modo de lidar com sua dor. Mas Jerry precisava convencer Bryan a todo custo a ir e decidiu apelar para algo que aguçaria a curiosidade do irmão: – Preciso falar urgentemente com você. Tenho novidades sobre o caso.
O efeito desejado por Jerry foi imediato, pois Bryan logo indagou: – O que você descobriu?
– Nada que eu possa falar por telefone – respondeu ele, instigando Bryan ainda mais. – E aí, pode me encontrar lá em meia hora?
– Tudo bem – concordou Bryan. – Daqui a pouco, eu estarei lá – concluiu, desligando o telefone em seguida.
22h49min
Os nove terminais de desembarque do Aeroporto Internacional de Los Angeles estavam deixando Evan nervoso. Sentindo-se perdido entre os transeuntes que circulavam pelo local, ele ainda não havia recebido a foto do legista a quem teria de interceptar. Inquieto, ele caminhava de um lado para o outro no saguão, enquanto analisava o plano do general.
– É ousado demais! – pensava ele. Porém, recuar estava fora de questão. Ele cometera um erro e precisava consertá-lo. Só lhe restava torcer para receber a mensagem com a foto antes da chegada do voo.
De repente, o grito de uma mulher que correra para abraçar um parente, chamou-lhe a atenção. De um dos terminais de desembarque, pessoas saíam apressadas de um voo recém-chegado. – Será que ele veio nesse? – murmurou Evan, enquanto puxava o celular do bolso para conferir se recebera a mensagem.
Decepcionado, Evan caminhou em direção àquele terminal, mantendo o celular na mão, na esperança de que a mensagem chegasse logo. Precisava daquela foto; pois, mesmo que houvesse ali um único terminal, já seria difícil reconhecer seu alvo. Com nove possibilidades, isso só piorava.
Alheias à ansiedade de Evan, as pessoas continuavam a sair, muitas delas sendo recepcionadas por amigos e familiares. Ele observava a todas, mesmo não fazendo ideia da aparência física do médico. E foi no exato momento em que a última pessoa passou por ele que seu telefone bipou. Mais do que depressa, ele abriu a mensagem, dando de cara com uma foto com a seguinte identificação: Dr. Jason Brooks.
Apelando para sua memória recente, Evan concluiu que aquele homem não estava entre as pessoas que já haviam passado por ele. Verificou então o resto da mensagem e descobriu de onde seu alvo vinha: Canadá. Mas, para seu desespero, a pessoa que lhe enviara o SMS se esquecera de informar o terminal de desembarque. Apressado, ele correu até o balcão de informações mais próximo e dirigiu-se à funcionária que lá estava: – Por favor, por onde desembarcam as pessoas vindas do Canadá?
– Depende de qual cidade do Canadá, senhor – respondeu a funcionária.
– O problema é que não sei de qual cidade meu amigo está vindo.
– Bem, nós temos três terminais para voos vindo do Canadá – informou a mulher. – O terminal 2 atende os voos vindos de Calgary, Montreal, Toronto e Edmonton, já o terminal 3 atende os voos ...
Evan perdeu-se em seus pensamentos e mal ouviu o que a mulher continuava a falar. Por um momento, ele não soube o que fazer. Porém, quando uma voz feminina soou nos alto-falantes, indicando a chegada de um voo de Edmonton, Evan agradeceu a funcionária pelas informações e correu em direção ao terminal 2, pensando: – Tem de ser esse!
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Sagrada Maldade - Caçada aos Multiplicadores
Mystery / ThrillerEm 1975, num pobre vilarejo da Etiópia, dois misteriosos homens recrutam um jovem para uma enigmática e ambiciosa experiência. Porém, algo sai errado, e o resultado desse experimento é o maior vírus da história da humanidade. Quase quarenta anos dep...