Capítulo 14 - Caçado - Parte 5

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Porém, como não estava disposto a deixar Hakim fugir, ele decidiu continuar a perseguição, mesmo com seu Audi avariado. Vendo isso, Jerry teve plena consciência de que seu irmão estava fora de controle e não conseguiu deixar de se comover com a determinação de Bryan. Mais do que ninguém, Jerry acompanhara todo o sofrimento dele pela falta de solução no caso da morte de Susan, e sabia muito bem que Bryan não pretendia deixar isso se repetir no caso de Kevin.

Ganhando distância, Charlize olhou para Hakim, que parecia preocupado. – Você se machucou? – perguntou ele.

– Estou bem – respondeu ela. – E você?

– Foi só o susto – disse ele, tranquilizando-a. – Mas não posso arriscar mais.

– Do que você está falando?

– Estou falando de você. Não posso mais arriscar que você se machuque.

– O que você está pensando em...

– Vire à direita! – disse ele de forma enfática.

Mesmo sem saber o que ele pretendia, ela lhe obedeceu e dobrou a esquina, entrando na West 5th Street. Após rodarem alguns metros, Hakim voltou a falar. – Pare o carro, Charlize! – ordenou ele. – Agora!

– Não vou parar! – disse ela, contrariando o desejo dele.

Mas antes que Charlize percebesse, Hakim levou seu pé esquerdo ao freio, forçando a parada do Mustang. Assustada, ela nem teve tempo de esboçar alguma reação. Hakim desceu apressado e correu em direção a um beco que ficava ao lado de uma casa.

– O que você está fazendo? – gritou ela.

– Mantendo você fora de perigo – respondeu ele. – Agora saia já daqui!

Charlize chegou a abrir a porta para ir atrás de Hakim; porém, ao ver pelo retrovisor que o Audi de Bryan entrara na West 5th Street, ela desistiu e fechou a porta. Não lhe restava outra coisa a fazer a não ser seguir o conselho de Hakim. Por isso, acelerou novamente e arrancou com o Mustang dali.

Como entrou acelerado na rua, Bryan conseguiu aproximar o Audi do Mustang, e isso foi decisivo para Jerry perceber que apenas Charlize estava no veículo. – Hakim desceu do carro – apontou Jerry. – Ela está sozinha!

Foi então que, ao passar onde o Mustang parara instantes atrás, Bryan olhou para a esquerda e viu Hakim no fundo do beco. – Lá está ele! – disse Bryan, pisando brusco no freio e fazendo o carro parar com um solavanco, que terminou por estourar o outro pneu traseiro. Apressado, ele desceu do carro e correu em direção ao beco, ignorando os gritos de Jerry.

Hakim não ignorava o perigo que corria e esforçou-se para fugir dali. Ao chegar ao fim do beco, ele virou à esquerda e chegou a um estacionamento residencial. Vendo que, ao final deste sairia em outra rua, ele começou a correr naquela direção.

Por sua vez, a misteriosa mulher da moto, que minutos atrás fora despistada pela manobra de Charlize, seguia procurando seu alvo enquanto pilotava pelas ruas do entorno. Numa delas, a sorte pareceu sorrir-lhe; pois, através de uma cerca avistou um negro correndo desajeitado com uma bolsa atravessada ao peito. Foi contando com essa sorte e com sua própria agilidade que ela se arriscou, aproximando a moto da cerca e encostando-a para fazer dela uma escada que lhe permitisse saltar. Mesmo sendo uma manobra arriscada, ela transpôs o obstáculo com uma habilidade admirável.

Uma vez no pátio do estacionamento, ela começou a andar em direção a Hakim. Fato que ele não percebeu logo por estar caminhando de costas, enquanto averiguava se não estava sendo seguido. Quando ele finalmente se virou, a mulher já estava a menos de dois metros de distância. Assustado, ele pensou em correr; porém, ela perguntou algo que o fez paralisar: – Você é Hakim Alomar, filho de Jamal Alomar?

Hakim observou aquela mulher vestida de preto, cujo capuz não lhe permitia ver direito o rosto dela, e curioso também perguntou: – Quem é você? Trabalha para o general?

Ela deu mais uns passos à frente. – Responda minha pergunta! – exigiu.

Quando viu que ela chegou perto demais, Hakim decidiu agir e tentou atacá-la com um soco. Mas a mulher fez uma leitura perfeita do movimento dele e habilmente se desviou, enquanto uma de suas mãos puxou um punhal e desferiu um golpe que cortou a alça da bolsa que Hakim carregava. A bolsa caiu no chão e se abriu, revelando aos olhos da mulher dois objetos. Curiosa, ela chutou Hakim, que caiu ajoelhado, e a seguir juntou o objeto que mais lhe chamou a atenção. Era um caderno de capa dura, do tamanho de um livro e bem envelhecido pelo tempo. Bastou a ela folheá-lo para perceber que se tratava de um diário, mas não era um diário qualquer. A assinatura na capa tornava-o um objeto extremamente valioso. Era o diário de Jamal Alomar.

– Devolva isso! – disse Hakim, tentando esboçar uma reação.

Largando o objeto no chão, ela rapidamente se colocou atrás de Hakim e encostou a lâmina do punhal na garganta dele. – Você virá comigo! – disse ela. – Seu pai deixou uma lacuna que você nos ajudará a preencher.

Surpreso com o que acabara de ouvir, Hakim pareceu perder o medo. – Você trabalha para eles, não é mesmo? – indagou. – Quem são essas pessoas e por que fizeram aquilo com meu pai?

Ouvindo as perguntas de Hakim, a mulher teve certeza de que Jamal havia contado sua história ao filho. E mesmo sem saber direito do que se tratava, uma vez que recebera poucas informações sobre aquele trabalho, cuja natureza altamente confidencial ela foi orientada a não questionar, sabia que era algo de grande impacto. Isso implicava que mesmo fragmentos esparsos de informação poderiam causar grandes estragos, caso alguém encontrasse novos fragmentos e soubesse juntá-los. Decidida a impedir isso, ela voltou a questioná-lo: – Você tem irmãos?

– Irmãos? – perguntou ele, confuso. – Por que diabos quer saber isso?

– Você tem ou não irmãos? – ela pressionou a lâmina um pouco mais.

– Não! – disse ele, sentindo uma pequena ardência enquanto um filete de sangue lhe escorria pelo pescoço.

– E sua mãe?

– Está morta!

Sagrada Maldade - Caçada aos MultiplicadoresOnde histórias criam vida. Descubra agora