Ela o fitou diretamente nos olhos, esperando ver algum sinal que demonstrasse insegurança, mas ele nem sequer titubeou; antes continuou encarando-a e demonstrando total confiança no que acabara de falar. Ainda assim, ela não estava satisfeita, queria saber mais e indagou: – No seu estado emocional, como você pode me garantir que não iria matá-lo?
– Posso garantir sim, pois há um detalhe que todos vocês desconhecem.
– E que detalhe seria esse? – ela não disfarçou a curiosidade.
– Eu só direi ao diretor – disse ele, destruindo a expectativa de resposta dela.
Frustrada, porém, sem perder a elegância, ela se pôs de pé e em seguida levou uma das mãos ao ombro dele. – Você não está se ajudando, Bryan – disse ela mansamente. – Eu quero ajudá-lo a sair dessa, mas se você não colaborar, vai ficar difícil.
– Sharon, entenda de uma vez por todas que eu não quero ser avaliado por você! Minha conversa é com o diretor.
Embora estivesse se irritando com as seguidas negativas dele, ela fingia estar calma, e sua experiência colaborava para isso. Com apenas 23 anos, Sharon entrou para o FBI e foi recebida com muita desconfiança, principalmente pelos agentes mais velhos cujos valores machistas eram ultrapassados ao ponto de acharem um absurdo serem avaliados por uma mulher que recém abandonara as fraldas. A preocupação do diretor, no entanto, era outra. Robert temia que a beleza dela pudesse gerar problemas, pois sabia que muitos de seus comandados eram mulherengos, ávidos por carne fresca. Todavia, para surpresa de todos, Sharon se mostrou tão sagaz quanto bela e soube usar seus talentos a seu favor, de modo que em menos de dois meses conquistou todo o escritório, tornando-se a queridinha de seus companheiros de trabalho, sem ter se envolvido com nenhum deles.
Certamente, isso não foi por falta de tentativas dos colegas. Alguns até aproveitavam as avaliações para convidá-la para sair, fosse para jantar, para ir ao cinema ou outro programa qualquer. Outros não eram tão diretos, preferindo investidas mais sutis como elogios e caixas de bombons. Mas ela se mostrava inalcançável; entretanto, sabia dizer não de uma forma tão encantadora que nenhum dos rejeitados ficava chateado. Houve, no entanto, uma exceção: Bryan Giuliani. Porém, ao contrário do que todos poderiam imaginar, não havia sido ele a investir nela, e sim ela quem se interessara por ele. Isso aconteceu durante as diversas conversas que eles tiveram depois que Bryan perdeu Susan. No início, Sharon foi apenas a psicóloga que tentava ajudá-lo a superar a perda, mas aos poucos eles se tornaram amigos, e ela se encantou pelo colega. Exatos seis meses depois, os dois estavam na cama, numa relação que para ela era séria, mas para ele era apenas sexual, uma espécie de válvula de escape, uma forma de se sentir vivo.
Agora, ali na sala de interrogatório, fitando-o nos olhos, Sharon tinha um objetivo. Ela queria ajudá-lo, mas também o queria de volta para si. – Já o seduzi uma vez, Bryan Giuliani, e posso muito bem fazer isso de novo! – pensou ela. Ainda com mão sobre o ombro dele, ela contornou a cadeira, aproximou os lábios de um dos ouvidos de Bryan e num sussurro disse: – Eu sei o que você está sentindo agora, querido. Já passamos por isso uma vez, e eu o ajudei. Deixe-me ajudá-lo de novo. Vá à minha casa esta noite, e conversaremos mais à vontade. Eu pedirei ao diretor para entregar sua avaliação amanhã – ela completou, já levando a mão a um botão da camisa dele, tentando abri-la para acariciar-lhe o peito.
A voz macia e a beleza de Sharon agradavam Bryan, e isso somado ao perfume que ela usava era o suficiente para seduzi-lo. Porém, ele tinha outras prioridades no momento, de modo que resistiu. – Você está doida? – reagiu, saltando da cadeira e desvencilhando-se dos braços da bela mulher. – Não estamos na sua casa, estamos no trabalho!
– Eu sei bem onde estamos – disse ela, enquanto se recuperava do pequeno susto. – Mas por que essa reação intempestiva?
– Você ainda pergunta? – questionou ele, como se estivesse falando de algo óbvio. – Por acaso você se esqueceu daquela câmera ali? – ele apontou para o aparelho.
– Até onde eu sei ela está ali para gravar os interrogatórios, embora o real motivo de sua presença seja o de conferir se os criminosos estão sendo bem tratados – respondeu ela com tanta serenidade que irritou Bryan ainda mais.
– Eu não sei qual é a sua intenção, mas, caso seja me irritar, saiba que já conseguiu! – disse ele, dando as costas a ela e escorando as mãos no vidro da sala. – Você deve saber que tanto podemos ser vistos pelo outro lado do vidro quanto que essa câmera provavelmente gravou o seu assédio de instantes atrás! – completou.
Sem perder a compostura, Sharon se aproximou dele enquanto falava: – E você deve saber muito bem que não há ninguém na sala de observação do outro lado, e a câmera nunca é ligada durante uma consulta ou conversa interna.
Bryan sabia que ela tinha razão. Sempre que os agentes recorriam a uma consulta particular ou eram avaliados, a sala de observação era fechada e a câmera desligada para garantir total privacidade. Para Sharon, isso também representava uma garantia de seu sigilo profissional. Impaciente, Bryan escorou-se ainda mais no vidro, fechou os olhos e respirou fundo. Queria pensar numa forma rápida de sair dali, mas foi interrompido por Sharon que, abraçando-o por trás, tentou levar a mão ao seu peito novamente e disse: – Deixe de ser turrão e vá à minha casa. Lá, poderei ajudá-lo.
Nesse momento, Bryan irrompeu em fúria: – O que há de errado com você? – disse ele aos berros. – Você é um ser humano ou uma máquina movida a sexo?
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Sagrada Maldade - Caçada aos Multiplicadores
Mystery / ThrillerEm 1975, num pobre vilarejo da Etiópia, dois misteriosos homens recrutam um jovem para uma enigmática e ambiciosa experiência. Porém, algo sai errado, e o resultado desse experimento é o maior vírus da história da humanidade. Quase quarenta anos dep...