Capítulo 07 - Amargas Lembranças - Parte 2

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Compreendendo que Evan nutria muito rancor pelo pai, o general quis saber o tamanho daquela ira e indagou: – Você entende as implicações de seu pai fazer parte da lista?

– Claro que sim, senhor.

– E mesmo assim você deseja isso? – insistiu o general.

– É o que eu mais desejo na vida.

– Então você está me dizendo que se encontrar seu pai, você...

– Vou matá-lo! – disse Evan, com frieza.

Aquela afirmação fez um calafrio percorrer a espinha do general. Ele sabia do instinto assassino de seus homens, mas a ambição de Evan por assassinar o próprio pai era de uma morbidez que nem ele se imaginava capaz. E agora, mais do que nunca, ele queria entender o motivo que levava o homem à sua frente a desejar a morte de seu progenitor.

– Posso saber por que você quer matar seu pai?

– Longa história, senhor – Evan recostou-se na poltrona. – Mas posso contá-la se o senhor tiver tempo para ouvi-la.

– Quero muito ouvir essa história – afirmou o general, com ansiedade nos olhos.

Evan respirou profundamente e disse: – Pois bem, senhor. Embora me cause muita vergonha, eu vou contá-la.

Escritório do FBI – 17h15min

Jerry e Vincent retornaram do apartamento de Kevin com relativa pressa. Estavam ansiosos para mostrar a Robert as possíveis pistas que haviam encontrado. Porém, quando chegaram à sala do diretor, ele estava numa ligação.

– Dr. Brooks, eu sinto muito por importuná-lo no feriado – disse Robert. – Mas nesse caso, eu fiz questão de ter o melhor.

A seguir, Robert encerrou a ligação e prontamente se dirigiu aos subordinados.

– Digam-me que encontraram alguma coisa.

– Encontramos ­– Vincent confirmou. Logo a seguir, ele se aproximou da mesa do diretor, alcançando a ele um par de luvas e a pasta que trazia nas mãos.

– O que é isso? – perguntou Robert, enquanto colocava as luvas.

– Acredito que isso possa nos levar ao nosso primeiro suspeito – disse Jerry.

– E quem seria ele? – o diretor nem olhou para Jerry ao perguntar, pois já estava conferindo o conteúdo da pasta.

– Howard Howthorn.

Robert voltou a olhar para Jerry, mais sério do que nunca, e indagou: – O dono da Pharmacom 2000?

– Ele mesmo, senhor – afirmou Jerry. – O senhor se lembra das ameaças que ele fez quando houve aquela reviravolta no caso do filho dele, após a matéria de Kevin?

– É claro que eu lembro. Mas também me lembro de ele ter se retratado depois, afirmando que falou sem pensar por estar ainda sob forte emoção pela perda do filho.

– Não acredito nele, senhor. Dê uma olhada nessas duas cartas que Kevin recebeu, contendo ameaças à vida dele – Jerry mostrou na pasta onde estavam as cartas. ­– E Howard Howthorn é poderoso. Pode muito bem ter mandado alguém fazer o serviço – concluiu.

Após tirar os papéis de dentro do invólucro em que estavam e ler o conteúdo das cartas, Robert concordou que a afirmação de Jerry fazia sentido e logo ordenou: – Vincent, veja se consegue nessas cartas alguma impressão digital além das de Kevin. Quanto a você, Thompson, faça uma visita ao dono da Pharmacom 2000, mas vá com calma. Não quero problemas com esse cara. Faça apenas uma sondagem.

– Certo. Mas ainda tem mais – disse Jerry, puxando um saquinho plástico do bolso e entregando-o ao diretor.

– Uma fita?

– Encontramos essa fita sob uma estante. Ela estava ao lado dos cacos de um vaso.

– Algum sinal de luta? – questionou Robert.

– Aparentemente não – respondeu Vincent. ­– Todo o restante do apartamento estava em ordem.

Sem falar nada, Robert puxou o telefone do gancho e discou um dos ramais internos do escritório. – Preciso de um gravador antigo em minha sala o mais rápido possível – disse, desligando a seguir.

Menos de três minutos depois, eles ouviram duas batidas secas na porta. E uma voz soou do outro lado – Posso entrar, senhor?

– Entre logo, Heinfield! – bradou o diretor.

Quando a porta da sala do diretor foi aberta, surgiu um jovem alto de olhos verdes e cabelos dourados, levemente cacheados. O rapaz de porte atlético e roupas elegantes estava ofegante naquele momento. Era Adam Heinfield, o analista de sistemas.

– Trouxe o que lhe pedi? – Robert indagou.

– Cla... claro, senhor – disse Adam.

Há seis meses, quando Robert informou que um novo analista de sistemas fora designado para o escritório, todos apostaram que viria um "nerd" virgem e desengonçado, possivelmente usando óculos grossos. Entretanto, no dia que Adam foi apresentado a todos, a ala feminina suspirou enquanto a maioria dos homens praticamente virou-lhe a cara. As exceções foram Jerry e Bryan, com quem Adam fez amizade já nos primeiros dias.

Mas a rejeição dos colegas não chegou a ser um problema para Adam, que se mostrou muito seguro de si, ignorando-os na mesma proporção e ainda aproveitando para tripudiar quando algum deles precisava de sua ajuda. Porém, nem tudo eram flores na vida profissional do jovem analista, pois toda sua autoconfiança caía por terra na presença do homem que estava diante dele naquele momento. O diretor Robert Preston.

Adam aproximou-se da mesa do chefe e, ao olhar a própria mão, antes de entregar o gravador, notou que ela estava trêmula. Fã de quadrinhos, ele pensou que se fosse o Super-Homem, o diretor certamente seria sua kryptonita.

– Por que está ofegante, Adam? Por acaso estavabatendo uma? – debochou Jerry, já sabendo que o colega ficava inseguro diantedo chefe. 

O analista ficou sem ação. Até teve vontade de responder à brincadeira, mas temia a reação de Robert. Seu maior desejo era sair logo dali antes que notassem o rubor em seu rosto, mas já era tarde demais. Vincent se segurou para não rir, enquanto Jerry encarava Adam à guisa de envergonhá-lo mais. No entanto, a brincadeira de Jerry enfureceu o chefe.

– Vamos parar de palhaçada! – gritou o diretor, batendo o punho contra a mesa.



Sagrada Maldade - Caçada aos MultiplicadoresOnde histórias criam vida. Descubra agora