Sagrada Maldade - Caçada aos Multiplicadores

Capítulo 14 - Caçado - Parte 3

Quando a frente do carro estava prestes a tocar a moto, Bryan soltou o acelerador e deu uma leve pisada no freio. A mulher, por sua vez, puxou levemente a moto para a direita. Ao ver isso, Bryan decidiu acompanhá-la. E foi aí que ele cometeu um erro. Assim que ele levou o carro à direita, ela bruscamente jogou a moto para a esquerda e diminuiu ainda mais sua velocidade. Com isso, conseguiu seu intento que era emparelhar a moto com o carro que a perseguia. Estranhando a atitude dela, Bryan foi pego desprevenido; pois, de modo abrupto e violento a mulher usou o capacete preso ao braço direito para explodir o vidro da janela do motorista. Ele fechou os olhos para se proteger dos estilhaços de vidro que saltaram sobre seu rosto, e isso fez com que perdesse momentaneamente o controle da direção.

– Filha da puta! – xingou, enquanto desesperadamente tentava controlar o carro.

A mulher, aproveitando-se disso, voltou a concentrar toda sua atenção no Mustang que, àquela altura, já havia entrado na Crenchaw Boulevard, e começava a ganhar distância. Ela acelerou novamente e reiniciou sua caçada.

– Minha nossa! – surpreendeu-se Charlize. – Você viu aquilo?

– Vi! – disse Hakim, mostrando-se tão abismado quanto a amiga.

– Acho que ela está do nosso lado – falou Charlize.

– Pode ser – disse ele. – Mas não estou disposto a descobrir. Por isso, haja o que houver, não pare esse carro! – pediu.

Enquanto isso, Bryan lutava desesperadamente para controlar o Audi, sentindo os músculos dos braços se retesarem a cada tentativa de firmar o volante. Num reflexo, Jerry estendeu as mãos para ajudar o irmão. Mas de nada valeu sua intenção; antes atrapalhou ainda mais. O carro, que por sorte já havia escapado de se chocar contra outros veículos, derrapou e sua traseira arrebentou um hidrante. A força do impacto fez o Audi girar num ângulo de quarenta e cinco graus, ficando atravessado na pista.

– Eu vou matar aquela vadia! – urrou Bryan, completamente irado. Sem nem mesmo se preocupar em saber como Jerry estava, ele rapidamente religou o motor, engatou a ré e tratou de recolocar o Audi na direção certa. Após isso, pisou fundo no acelerador, fazendo o carro cantar os pneus no asfalto. Eles estavam de volta à perseguição.

15h25min

George contemplava através do espelho o ar de satisfação estampado no próprio rosto. Lembranças da noite anterior ecoavam em sua mente, provocando-lhe uma estranha sensação de saciedade. Até mesmo o gosto do uísque parecia diferente. Era como se algo estivesse realçando o seu sabor. Há tempos ele não se sentia tão bem assim, mas o dia anterior pareceu reavivar-lhe uma chama na alma. Enquanto rabiscava de modo mecânico uma data num calendário sobre a mesinha do bar, um sorriso brotou-lhe dos lábios, e seus olhos cintilaram, pois sabia que o melhor ainda estava por vir. Entorpecido pelo prazer antecipado que seus pensamentos lhe provocavam, acabou levando um susto quando o telefone tocou. Do outro lado, uma voz nada agradável se fez ouvir: – Gostaria de receber uma boa notícia?

– No momento, eu gostaria de continuar bebendo meu uísque – retrucou George, realçando o tom irônico de sua voz.

– E se eu lhe disser que tenho algo a informar que fará essa bebida perder totalmente a graça?

– Escute aqui, – disse George, de forma bem ríspida – se tem algo útil a dizer, diga de uma vez; caso contrário, só volte a me ligar quando tiver o que eu quero. Entendeu?

– É sobre o negro que o senhor quer pegar – falou o homem com uma calma ainda mais irritante. – Ele está sendo caçado pelo FBI nesse exato momento.

George rapidamente deixou o copo de lado e correu até sua mesa. – Você tem certeza disso? – perguntou ele, sentando-se logo a seguir.

Ao ouvir aquela pergunta, foi a vez de o homem do outro lado da linha impacientar-se. – Mas é claro que eu tenho certeza – respondeu ele, agora de forma áspera. – Está pensando que eu sou moleque?

George preferiu ignorar a empáfia do sujeito e ir direto ao que lhe interessava: – E onde está aquele verme agora?

– Indo para a parte central da cidade.

– Vou acionar uma equipe – disse George. – E assim que possível forneça a localização exata desse maldito!

– Tudo bem, mas é melhor se apressar, – orientou o homem – pois a polícia local já se juntou ao FBI na perseguição.

– Faça a sua parte que eu faço a minha! – disse George, desligando abruptamente.

A seguir, ele acessou seu computador e clicou em um ícone específico. Era um comunicador instantâneo capaz de enviar mensagens a vários celulares ao mesmo tempo. O aplicativo fora criptografado para que tudo enviado por ele dificilmente fosse identificado, pois a última coisa que o general queria era que suas ordens fossem descobertas. Logo após selecionar os números de que precisava, digitou a mensagem: "Quero vocês imediatamente no centro da cidade. Carros potentes e armamento pesado. O rato saiu da toca. Polícia e FBI na perseguição. Ordem: abater o animal. Em breve, mando a localização".

Num misto de ansiedade e euforia, ele recostou-se enfim na cadeira e ficou aguardando que o homem ligasse novamente para fornecer a localização exata de Hakim.